quarta-feira, 8 de setembro de 2010

De como gerenciar o caos


Em gesto de comovente sinceridade, a nova superintendente da CTBel, Ellen Margareth, admitiu, em entrevista à Imprensa, que aquele órgão não possui nenhum projeto para resolver os problemas do caótico e neurótico trânsito de Belém. Todos já desconfiávamos disso, mas ninguém tinha certeza. Uma pergunta não quer calar: o que fazem, então, os “planejadores” e os técnicos da CTBlel? Os agentes, todos sabem, gostam mesmo é de multar. Logo, quanto mais infernal o caos no trânsito, maior será o “faturamento” do órgão. Se a CTBlel não tem projetos para melhoria do sistema de tráfego da cidade, onde então são aplicados os vultosos recursos oriundos de sua “fábrica de multas”? Pergunta que a dra. Ellen poderá também responder, em nova entrevista. Mas há de se destacar a sua postura inusitada porque revela humildade e vontade de acertar. Virtudes raras em alguns dirigentes de órgãos públicos, que se julgando “iluminados” dispensam a participação da “plebe rude”, notadamente de jornalistas, “esses bocudos”...
A dra. Ellen começou bem. Ela pede ajuda, sugestões e propostas para amenizar as dificuldades e encontrar soluções simples e eficientes, porque a cidade está parando. O caos estabelecido no “Complexo do Entroncamento” tem provocado congestionamentos colossais na avenida Almirante Barroso, na rodovia Augusto Montenegro, na rodovia Mário Covas e na BR, além do estresse motivado pelos buzinaços, sem falar nos prejuízos materiais decorrentes de atrasos dos transportes coletivos, de cargas e particulares. Para aquele entorno infernal convergem todas as mazelas de um sistema viário que é o retrato sem retoque da falta de planejamento urbano de uma cidade à beira do caos. As ruas de uma metrópole são como as veias do corpo humano: quando entopem, provocam o colapso e até a morte do organismo. O problema hoje atinge proporções de calamidade pública, pois afeta a vida de quase dois milhões de pessoas. O “Complexo do Caos” revela, além do desgastante engessamento do tráfego, uma síntese de obras inadequadas, verdadeiros monumentos ao desperdício do dinheiro público como aquelas inúteis passarelas que pedestres não usam, o monumento à Cabanagem, que ninguém visita, os túneis que alagam quando chove, as rotatórias e o binário que só contribuem para “engessar” ainda mais o fluxo de veículos. O projeto do anel viário do Entroncamento existe no papel desde a década de 80, mas nunca foi executado. Constava do primeiro Plano Diretor de Tráfego Urbano para Belém, elaborado pelos técnicos da Agência Internacional de Cooperação Técnica do Japão (Jica) como uma das prioridades para atender ao crescimento e expansão da cidade. Na década de 90, o arquiteto Alcyr Meira, por encomenda do governo do Estado, elaborou belíssimo projeto de um conjunto de elevados que daria vazão contínua ao tráfego no local. A verba federal foi empenhada pelo DNIT, mas a obra deixou de ser executada em razão de “quizílias” paroquiais entre o então prefeito de Belém e o governador do Estado, na época. Resultado: a verba foi devolvida e a cidade continuou a sofrer os efeitos danosos da cultura do atraso político. Belém está se transformando numa metrópole do barulho e do caos. Com o ingresso diário (em média) de 50 novos veículos, circulando pelas mesmas e obstruídas vias, a cidade está "travada", confirmando, aliás, previsão dos próprios técnicos da Jica, que imaginaram (em 1985) uma Belém engessada “por volta de 2010”, caso não fossem realizadas as obras viárias então planejadas. O Projeto Ação Metrópole tem o mérito de quebrar o imobilismo de duas décadas perdidas entre omissões e obras cosméticas e empíricas.
O elevado de quatro pétalas erguido na confluência das avenidas Pedro Álvares e Júlio César tem contribuído menos do que deveria para o desafogo do tráfego em Belém, pois o verdadeiro “gargalo do trânsito” está no entorno do Entroncamento e BR, na entrada e saída cidade.
A situação é de emergência e exige a parceria entre governo do Estado e das prefeituras de Belém e de todos os municípios que integram a Área metropolitana da Grande Belém, pois os congestionamentos na cidade travada já estão afetando a vida e a saúde de mais de dois milhões de pessoas.
Estranhamente, não se ouve uma só proposta dos candidatos ao governo do Estado, a senador ou à “deputança” quanto a possíveis soluções para o problema do trânsito de Belém.É como se essa “zorra” não tivesse nada a ver com eles.
Alguns candidatos, abusando da tolerância do povo belenense, ainda colocam cavaletes com seus retratos bem retocados no canteiro central das avenidas e na BR “pedindo seu voto”. Se eles ouvissem os xingamentos que recebem, diariamente, de motoristas estressados nos engarrafamentos que se formam na entrada e saída da cidade, mandariam retirar “rapidinho” seus cavaletes das ruas e praças de Belém, pois estão perdendo votos.
Segundo ainda informações da nova superintendente da CTBlel, o único projeto que ela encontrou no órgão foi o do elevado do Entroncamento, que está “em fase de licitação” desde 23 de outubro de 2009. A obra “seria” executada em parceria com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), “mas precisa ainda ser aprovada pela sede do órgão federal em Brasília”. Como o prefeito de Belém passa mais tempo em Brasília do que na capital paraense, era de se esperar que a “tramitação” desse projeto estivesse mais adiantad a...
Se houvesse , de fato, a famosa “ vontade política” para solução desse impasse , a Prefeitura de Belém e o governo do Estado poderiam unir esforços para inclusão dessa obra no Projeto Ação Metrópole, com verbas do PAC da Mobilidade, programa que liberou recursos para o elevado “Daniel Berg”.
Para ganhar tempo poderiam ainda convocar o brilhante arquiteto paraense Alcyr Meira, para efetuar uma “customização” (está na moda...) de seu belíssimo projeto do Anel Viário do Entroncamento, elaborado na década de 70. Os elevados seriam agora por cima dos túneis que alagam e que custaram a “bagatela” de R$ 88 milhões...
Por que essa mania de se buscar gente de fora (com custos maiores) para realizar as obras em Belém e no Pará quando temos paraenses competentes, em condições de realizar qualquer projeto de engenharia na área de planejamento e transportes urbanos?
Enquanto essa obra não vem - vale dizer que os túneis demoraram oito anos com tapumes naquela área -, precisamos todos, belenenses de boa vontade, atender ao apelo da nova diretora da CTBlel e nos unir em torno de um plano de emergência em busca de alternativas possíveis para amenizar os graves problemas de trânsito de Belém.
Que tal, dra. Ellen, convocar uma grande audiência pública, com a participação não só dos “donos da bola” , aliás, dos ônibus, mas, também dos representantes dos sindicatos de motoristas , dos taxistas, do Ministério Público, da Imprensa, da Polícia Militar, dos Bombeiros e de entidades da sociedade civil organizada? Certamente, muitas sugestões poderão ser debatidas, como a redução dos mais de 900 ônibus que circulam, diariamente, no eixo Ver-o-Peso/Presidente Vargas, “entupindo” as vias já saturadas do centro da cidade.
Mãos à obra, pois, dra. Ellen, pois o “tempo urge e a necessidade preme”.

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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br

Um comentário:

Roberto Malato disse...

Que tal, paralelamente a qualquer discussão de soluções futuras, começar por deixar as vias com cara de vias de trânsito?

Faltam semáforos, faixas de pedestres, faixas de circulação no solo.

É fácil apontar todos os problemas do trânsito na cidade, mas é mais fácil ainda parar o carro em fila dupla e ligar o alerta, andar em zigue-zague e ver motoristas de taxi cortando sinais pelas laterais das vias (sempre apressados, não sei com o que?).

A cidade não tem faixas no chão, não tem placas, não tem semáforos. Isso é o básico e sequer falam nisso!!!

Faixas são historicamente pintadas somente quando um prefeito inaugura uma fina camada de asfalto.

Não existe planejamento!!! Não se fala em manutenção da sinalização!!! Estamos no período de menor índice pluviométrico, e por isso, excelente para realizar a pintura das faixas. Depois vem a chuva e o desgaste é rápido e intenso.

Os agentes realmente só sabem multar, não sabem orientar o trânsito.

Você nunca vê agentes na José Malcher (as ruas mudam de nome mas a gente não muda, rsrs), avenida nazaré, entroncamento ou padre eutíquio.

Eles nunca trabalham nos horários de pico da manhã, do meio-dia ou final do dia nesses cruzamentos. Deveriam orientar o trânsito e oferecer suporte para semáforos que nestes horários tem tempos de abertura inúteis para o contexto, mas eles estão em outros lugares desconhecidos.

A municipalização do trânsito é um benefício quando se quer realmente trabalhar.

Em São Paulo, a CET foi municipalizada muito antes do novo código de trânsito determinar.

Lá, os agentes estão nos pontos críticos orientando o trânsito nos horários em que o trânsito precisa deles. Aqui, os nossos agentes acho que estão também no trânsito, mas indo pra casa...

É preciso parar de dar desculpas e trabalhar. Se essa senhora está com vontade de trabalhar, então vamos apoiá-la e impedir que ela seja afastada por estar dedicada (absurdo, mas muito provável - e não quero aqui concorrer com a grande visão do poster em prever fatos, hehehe).

As vezes me pergunto se existe algo que eu posso fazer diante disso tudo e fico frustrado em não conseguir encontrar uma saída.