Vivemos – nós, amazônidas – no paraíso das águas. Vejam colossos como o Tapajós e o Amazonas, em frente a Santarém.
Nossos rios são nossas ruas.
Temos rios caudalosos – de águas doces, por evidente – que assustam quem passa por aqui.
Não economizamos, quando se trata de água.
Somos tendentes a achar que é coisa de ecochato esse negócio de alertar para o risco de falta d’água.
Não é.
Em janeiro deste ano, em Davos, expuseram-se números sobre isso.
Um relatório alertou que o mundo corre o grave risco de sofrer com a falta de água doce, em conseqüência do aumento constante da demanda.
"Em menos de 20 anos, a falta d'água poderá fazer com que Índia e Estados Unidos percam a totalidade de suas colheitas", afirmam os autores do estudo, segundo o qual cerca de 40% dos recursos aqüíferos dos Estados Unidos são destinados à produção energética, enquanto apenas 3% vão para o consumo doméstico.
As necessidades de água para produzir energia devem aumentar 165% nos Estados Unidos e 130% na União Européia, de acordo com o estudo.
E o que temos a ver com isso?
Temos a ver tudo com isso.
Nós, que vivemos no paraíso das águas, sentimos agora, em Belém, o que é sermos privados da água.
E todos os que nos vemos privados da água, depois da explosão na estação de tratamento do Utinga, assistimos a cenas interessantes; no momento, são interessantes, mas em outras circunstâncias podem não ser.
Belém está cercada por uma colossal baía de água doce, a Baía de Guajará.
Mas não temos água.
A água mineral engarrafada sumiu dos grandes supermercados e dos depósitos nos bairros. E aquele primata que existe dentro de cada um de nós saltou imediatamente.
Pôs-se inteirinho pra fora.
No Jurunas, bem em frente ao Residencial Aldeia do Rádio, e na Cremação, ali por perto da 14 de Março com a Fernando Guilhon – antiga Conceição -, as bocas de lobo da Cosanpa foram abertas e grandes canos arrebentados.
Pronto.
Estava criado o comércio da água.
De um lado, os que se intitularam donos do negócio.
Do outro, cidadãos submetidos à enorme necessidade de ter água.
Houve saque em alguns mercadinhos de bairros.
A água virou ouro.
O balde estava cotado a R$ 5,00.
E quem pagasse mais 1 conto poderia dispor de serviço delivery: a água era entregue em casa. Aí, o carrinho de mão vai cheio de baldes de água a R$ 5, R$ 6: "Olha a água, olha a água!".
Belém cercada por toneladas de água doce e, mesmo assim, o mercado de água entrou em ação.
Imaginem, então, as guerras por água nos países que não têm água de espécie alguma.
Nesta sábado, vai faltar água de novo.
Desta vez, a interrupção no fornecimento será necessária para a Cosanpa concluir o serviço de restauração dos equipamentos danificados.
O mercado de água entrará em ação, de novo.
Haverá quem note isso e mostre o que tudo isso representa?
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