No AMAZÔNIA:
Quando a Seccional Urbana do Guamá foi inaugurada, com sua sede na esquina da avenida Tucunduba com a Perimetral, líderes comunitários e autoridades de segurança pública tinham um objetivo comum: centralizar os serviços policiais em uma área de risco de Belém, assolada pela violência, miséria e marginalidade. A ideia pode até ter fundamento, mas quem trabalha no local hoje sofre as consequências da localização 'estratégica': desde o início deste mês, cinco funcionários da área administrativa da seccional já foram assaltados às proximidades do local de trabalho. Além disso, as ameaças e represálias são constantes aos agentes policiais - trabalhar na área significa ter de torcer para não ser alvo da ação de bandidos. 'Está mentindo quem diz estar acostumado com o perigo de trabalhar aqui. A gente está sob o olhar dos criminosos o dia inteiro, o medo é constante', diz um policial militar da área que prefere não se identificar.
Situada no coração do Guamá, a 11ª Seccional Urbana foi construída à margem direita do canal do Tucunduba, próximo a um dos pórticos da Universidade Federal do Pará (UFPA) da avenida Perimetral. Logo à frente da unidade policial, do outro lado do canal, fica a invasão Riacho Doce, considerada uma 'zona vermelha' por conta da ação do tráfico de drogas e pelas próprias condições de vida da população, concentrada em barracos e casebres sem quaisquer proteção.
Além de incontáveis comunidades carentes, cercam a seccional áreas verdes intocadas e dois prédios oficiais - a base da Polícia Militar (PM) Comunitária e uma unidade da Companhia de Habitação do Pará (Cohab). Dirigir a seccional é um desafio mesmo para os delegados mais experientes; isso porque, a cada ano, até 7 mil ocorrências policiais são registradas nela, entre roubos, homicídios e crimes de menor gravidade. Além disso, trabalhar por lá significa não apenas ter muito o que fazer durante um plantão aos finais de semana, como também ter de encarar situações de risco - entre elas, a simples caminhada rumo à parada de ônibus mais próxima, por exemplo.
Este mês os funcionários foram surpreendidos por um 'surto' de ocorrências. Desde o último dia 2, cinco funcionários dos setores administrativo e de serviços gerais foram assaltados ao largar o serviço - a maioria em um horário que deveria ser seguro, entre 12h e 18h. Os roubos geralmente transcorrem na ponte sobre o Tucunduba, alguns metros à frente da entrada da seccional - rota obrigatória para quem precisa ir à parada de ônibus em frente ao pórtico da UFPA.
E os assaltantes - majoritariamente adolescentes -, fazem o possível para agredir suas vítimas antes de fugir correndo, geralmente rumo às ruas e becos da invasão Riacho Doce. 'Eles pulam na nossa frente com um terçado e tentam nos furar antes de levar tudo o que temos. E, quando são presos, ainda dizem que vão pegar a gente quando saírem do xadrez', comenta, assustada, a atendente Telma Diana Santana, funcionária da Seccional do Guamá há oito meses.
A atendente foi abordada por dois adolescentes, um de 17 e outro de apenas 13 anos, quando saía do trabalho junto a outros dois colegas, por volta de 16h. Levaram celulares, bolsas, documentos - e por pouco não ceifaram a vida da jovem. 'Um deles veio por trás e tentou me furar, mas meu colega protegeu minhas costas com uma bolsa. Ele caiu no chão e ainda foi agredido pelo garoto, que disse que ia nos pegar depois', relata. 'Agora só saímos do trabalho se tiver viatura policial para nos dar cobertura', confessa.
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