quinta-feira, 2 de julho de 2009

Kit escolar: “O que mais preocupa é o silêncio dos bons”

O Ministério Público costuma iniciar suas petições com uma epígrafe, que nada mais é do que uma frase, uma citação curta, que aparece no alto da primeira lauda das petições iniciais e serve para, digamos, resumir o propósito que norteia o ajuizamento de uma ação.
E vejam só como são as coisas.
Qual a epígrafe que consta da inicial da ação cautelar que inaugurou a fase judicial do escândalo dos kits escolares?
A epígrafe, reparem bem, é a seguinte:

“Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina”.

A frase é atribuída ao saudoso Paulo Freire, o autor de Pedagogia do Oprimido.
Mas vocês sabem de onde foi extraída a epígrafe?
Da agenda.
Agenda?
Exatamente: da agenda escolar que integra os kits escolares adquiridos pelo governo Ana Júlia e resultaram, segundo o Ministério Público, num superfaturamento de R$ 7,320 milhões.
Mas não é só.
Há outra citação, mais do que elucidativa, também retirada da agenda escolar do kit de Ana Júlia.
A citação também serviu para ilustrar o trabalho do MP Estadual e Federal.
Diz assim, singelamente:

“O que mais preocupa não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”.

Quem o disse?
Martin Luther King (na foto), um emblema na luta pelos direitos civis de negros e mulheres, sobretudo nos Estados Unidos.
Pois é.
“O que mais preocupa é o silêncio dos bons”.
O governo de Sua Excelência pode não ter feito bem, pode ter andado fora da trilha e dos trilhos ao adquirir kits escolares sem licitação pública e a preços superfaturados.
Mas o governo dos kits demonstra á farta, à exaustão, inequivocamente que tem bom gosto, que tem um gosto apuradíssimo na seleção de frases, citações e reflexões.
Como essas aí, de Paulo Freire e Luther King.

2 comentários:

Bia disse...

Caro Paulo,

sugiro uma epígrafe para o próximo material (um kit verão com sombrinha e boné, ou uma bússola e um sextante para indicar o rumo no Navegapará):

" E aquilo que nesse momento se revelará aos povos surpreenderá a todos, não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto, quando terá sido o óbvio" (Caetano veloso - um índio).

Abração

PS: não, não vou cobrar direito autoral pela sugestão!!!

Anônimo disse...

Prezado PB,


Estou de volta para dizer que a máxima dita por Edmund Burke, muito antes de Martin Luther King, foi a seguinte:

"Tudo o que é necessário para o triunfo do mal é que os homens de bem nada façam."

Nascido escocês,Burke foi escritor e político na velha Albion. É conhecido por ter escrito o livro "Reflexões sobre a Revolução em França", um violento ataque à Revolução Francesa de 1789. Também é conhecido por defender o chamado mandato virtual, ou seja, que o mandato pertence ao político e não ao seu eleitorado.

Abs.