Por Avelina Castro, do AMAZÔNIA
'Eu perdi uma jóia, minha alegria de viver'. Foi com essas palavras que a dona de casa Irene Serrão, de 74 anos, definiu a dor que sente até hoje pela morte do filho, o cabeleireiro Roberto Amorim Serrão. Homossexual, ele foi assassinado a pauladas, em novembro de 2007 e o crime é só mais um no meio de tantos, que acontecem anualmente na Região Metropolitana de Belém (RMB) e que ainda permanecem sem a autoria identificada e sem culpados presos.
Irene Serrão revela que não tem um único dia na vida dela que ela não lembre do filho. 'Ele foi meu primeiro filho e eu quase fiquei louca quando ele morreu. Acho que essa dor nunca mais sairá do meu peito', disse a dona de casa, que é viúva e tem outros cinco filhos. De acordo com ela, um de seus filhos chegou a ir a delegacia por três vezes em busca de informações sobre a prisão de algum suspeito do homicídio. 'Até hoje ninguém foi preso, mas eu tenho fé na justiça de Deus, que a pessoa que fez essa crueldade com meu filho irá pagar pelo que fez', ressaltou a mãe, acrescentando que o filho fazia visitas e cortes de cabelo de doentes em hospitais.
O crime contra Roberto está entre os muitos praticados contra homossexuais no Pará. Na madrugada do dia 22 de junho deste ano, um adolescente travesti, de 16 anos, foi morto com um tiro no peito. O crime ocorreu na esquina da avenida Almirante Barroso com a travessa do Chaco, onde a vítima era explorada sexualmente. O desentendimento entre um outro adolescente e um 'cliente' teria resultado em vários disparos de arma de fogo no local. Um deles atingiu o peito da vítima, que terá a identidade preservada. Foi o oitavo homicídio registrado, este ano, pelo movimento GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros), na Região Metropolita de Belém, (RMB) contra travestis.
De acordo com Jair Moraes, do Centro de Referência, Proteção e Combate a Homofobia do Pará, na realidade, o número de crimes cometidos contra homossexuais é muito maior do que o que foi levantado contra travestis. Porém, ele explica que o movimento tem dificuldade em obter dados reais sobre esses crimes porque o registro feito nas delegacias e seccionais do Estado não os identifica como um crime de homofobia. Por essa razão, o movimento GLBT não possui dados estatísticos reais sobre os casos. 'Há uma dificuldade muito grande em denunciar os crimes porque o atendimento prestado pelos policiais, em muitos casos, é desrespeitoso e, além disso, não são enquadrados como homofobia', explicou Jair.
Um comentário:
Preconceito, puro preconceito. Minha familia sabe o que é isto. Acabamos de perder uma pessoa que por ser usuário de droga, mas adoeceu por outras causas, teve um dos piores tratamentos de saúde que já vi. Embora não expressado verbalmente, as respostas às perguntas diziam sempre: bem feito quem mandou, está assim porque merece. O pior que por serem veladas fica-se sem conteúdos/provas para abrir um processo contra quem está nestes postos de serviços - e ainda por cima públicos - não para julgar, mas para encaminhar e dar soluções. Todos sabem destes comportamentos e não fazem nada. Ficamos sós com a nossa dor e eles, impunes continuam com seus desrespeitos.
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