domingo, 19 de outubro de 2008

Se jornalistas não perguntarem, não poderão saber

Entrevistas coletivas, ao que parece, têm confirmado aquela máxima de que são momentos em que os jornalistas menos conseguem obter informações proveitosas.
Exemplo disso foi a entrevista coletiva que concederam, ontem à tarde, os integrantes da equipe médica que cuida da jovem Eloá Cristina Pimentel, que teve morte cerebral declarada por volta das 23h30 de ontem, mas que até o início da noite ainda se encontrava em coma irreversível.
Estavam diante dos médicos, no Hospital Municipal de Santo André, mais de 50 jornalistas. Seguramente, mais de 50. Era isso que indicava, por exemplo, o número de microfones colocados diante dos entrevistados.
Os médicos começaram a explicar sobre o estado da paciente e se referiram por diversas – mais de dez vezes – ao termo “protocolo”.
Volta e meia, diziam mais ou menos assim: “precisamos fazer novos protocolos...”, “os protocolos ainda não nos permitem fazer uma afirmação mais precisa...”, “apenas com novos protocolos é que poderemos...” – e assim por diante.
Sim. E aí?
- O que é protocolo, hein, doutor?
- O que é mesmo protocolo, hein, doutora? A senhora pode explicar?
Na coletiva, estavam mais de 50 jornalistas.
Nenhum perguntou isso. Nenhum.
Presumia-se, pelo sentido das explicações, que “protocolo”, no jargão médico, consiste em procedimentos, em testes, em exames a que os pacientes são submetidos e que são registrados em relatórios para posterior avaliação.
Era isso que, mais ou menos, que se presumia.
Mas nenhum jornalista perguntou claramente.
Sabe-se lá por que motivo ninguém fez a pergunta óbvia. Talvez, quem sabe, os jornalistas participantes da coletiva não perguntaram para não demonstrar ignorância - diante do público que os assistia e dos colegas que estavam na entrevista.
Mas jornalistas, quanto mais ignorarem um determinado assunto, mais poderão saber sobre ele. Se perguntarem, é claro. Se investigarem, é claro.
Se não perguntarem, não saberão.
Nem eles, nem seus leitores, seu ouvintes ou seus telespectadores.

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