Do jornalista Nélio Palheta
Ufa, terminou a campanha eleitoral!
O debate desta sexta-feira à noite poderia se chamar de “desgaste” (para os candidatos e para o eleitor), tal o resultado. De conteúdo previsível e anódino, resultou em nada estimulante, elucidativo, inspirador. Eis o leitor diante da sua dúvida. Porém com a certeza de que, neste domingo, a montanha vai parir um novo – ou o mesmo – rato.
De um lado o prefeito Duciomar e sua verborragia de realizações de fim de mandato; do outro o adversário vomitando coisas estapafúrdias (o que será “cidadania da cidade?”) e contestações sem dados e fatos para convencer a patuléia. Idéias descabidas e inexeqüíveis. Velhas. Acreditando que meia dúzia de promessas tiradas - nem tanto de uma cartola, mas do velho baú da política sem conseqüência e estéril – pode nos convencer de que agora é para valer, que a coisa vai mudar, que Belém será outra.
Enfim, mais uma vez, Belém diante da sua angústia e sua quimera. Da sua sina e seu destino. E de uma certeza: não mudará nada, mesmo que mude o prefeito. O triste horizonte de uma cidade sem esperança alguma, que vive, na expectativa de um novo dia, uma insônia fernandiana (Na noite terrível, substância natural de todas as noites, / Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites, / Relembro, velando em modorra incômoda, / Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida. / Relembro, e uma angústia / Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo. [...] .” Álvaro de Campos). Resta-nos, vigilantes e insones, esperar o dia amanhecer. Um novo dia, com a certeza de que será velho, assim como estão sendo os 1.460 dias do atual mandato e como foram inócuos os tantos mil dias de muitos prefeitos anteriores.
Diante do que se viu e ouviu em mais uma campanha eleitoral não se pode esperar nada de novo no horizonte que tem história de má administração; desvios; ilegalidades; gestões de compadres e cupinchas; denúncias de corrupção (nunca devidamente apuradas) e destruição – vejamos o patrimônio histórico degradado, dilapidado para fica num só assunto.
Mas não é preciso buscar “Belém da Saudade” para se lamentar ao compararmos, basta ver o cotidiano, os dias de hoje. Não se nega que a cidade é bem mais urbanizada do que um século atrás; tem menos favelas e baixadas que 40 anos passados. Mas Belém continua sofrendo de mazelas históricas, como a falta de esgoto sanitário em extensão compatível com a modernidade dos seus edifícios envidraçados, aluminizados, empastilhados. Continha sendo uma cidade suja. A limpeza é do tipo “joga para debaixo do tapete”. Belém é uma cidade de pessoas que jogam tudo pela janela dos carros (dos ônibus dos Civics). Pessoas pouco Civclizadas em seus carros importados. E despejam, sem cerimônia, o esgoto de suas cozinhas – sejam residenciais ou industriais, como a de muitos restaurantes do centro da cidade – na sarjeta.
O prefeito disse no debate de ontem [sexta-feira] o que fez e o que vai continuar fazendo. Ora, o asfalto que todos fazem; as ruas que todo prefeito urbaniza; a creche que qualquer um faz; a praça que em todo mandato surge aqui e acolá. O adversário pirou mesmo ao prometer creche para 132 mil crianças. E nada mais disse porque nada lhe foi perguntado.
E nós, do lado externo da telinha – pois o cidadão eleitor é sempre um “externo”, um ente à parte disso tudo, passado o pleito – ficamos imobilizados, quando muito, cá com nossos botões, com nossas iras e descrenças, sonos ou insônias se nos deixarmos perturbar com as bobagens político-eleitorais. E com cara de bobo ficamos assistindo à ópera não menos bufa patrocinada pela Rede Globo e outras redes televisivas.
Que idéias conhecemos ontem? Era última chance. Não apareceram. E não haverá porque tanto o prefeito em fim de mandato quanto o aspirante não têm conteúdo para além desse papel de político ávido por poder e férteis em produzir verborragia ensaiada por marqueteiros e “cupinchas” – que permitiu a Priante verbalizar essa palavra tão rasteira quanto indecente e que deve estar no seu próprio inconsciente de político rasteiro e pegajoso: desavergonhadamente ela a usou, certamente num ato falho, posto que deve ser normal ele pensar nos seus ao vislumbrar o cargo de prefeito. Vejamos o que diz o Dicionário Houaiss, pag. 891, coluna do meio: CUPINCHA: “indivíduo com quem se tem amizade”. Vocábulo antecedido por CUPIM-NARIGUDO (que tem seu próprio significado) e seguida por CUPINCHARIA: “grupo de cupinchas, comparsaria”. Lamentavelmente, esses governos que sucedem em primeiros, segundos ou pretendidos terceiros mandatos, se consagram na base da cupincharia – para o bem, às vezes, mas em geral para o mal.
Belém é assim, cheia de cupins, cupinchas e cupincharias (o que seria diferente na política?) e por isso carrega suas mazelas polarizadas por políticos profissionais, cujas representações bem acabadas disputam nossos votos definitivos neste domingo.
A cidade não escapa da conjuntura econômica e social atual do país e do mundo, agravada pela crise que já derrubou neste ano mais de 50% do valor das ações da bolsa. A crise! Nenhum segundo sobre esse tema global - núcleo da campanha presidencial norte-americana. Como Belém vai enfrentar a crise? Claro que não haveria resposta. Tudo que ambos verbalizassem pareceria falso, achismo, adivinhação, mentira. Eles não têm assessoria capaz para tratar do tema. Não há solução específica de Belém, é bem verdade. Porém, seria saudável e esperançoso – mesmo que se saiba provável idéia inexeqüível – ouvir dos candidatos uma frase de preocupação a respeito. Esses candidatos procuraram saber com os empresários locais e nacionais que por aqui se espalham como a crise está repercutindo na capital e no Estado? Certamente que não. Será que já mandaram investigar por que caiu 15% o número de passageiros desembarcados no período do Círio? Certamente que não. Será que já pediram um levantamento para depois da quinzena nazarena sobre o desempenho de agências de turismo, hotéis e restaurantes, com vistas a um planejamento estratégico para a maior temporada do turismo paraense em 2009? Certamente que não.
O debate de ontem – como os demais anteriores – fora boa chance para se falar de uma vocação da cidade para o turismo como solução estratégica, atraindo-se turistas nacionais que estão fugindo do exterior por causa da alta do dólar. Ambos ficaram numa mixórdia desalentadora. Discursinho vagabundo, com nenhum sinal de inovação e todos os sinais de uma improvisação perturbadora e desconcertante. Um discurso vazio e de auto-elogios – como se cada um tenha uma varinha de condão ou uma cartola de soluções - sobre todos os temas abordados. Enjoativo!
E assim, não ficamos sabendo, de fato, o que fará o prefeito a ser eleito dentro de poucas horas, a não ser que virá mais asfalto, mais creche, mais tinta branca nas pistas, mais leito de pronto socorro, mais escola e mais saúde e mais aquilo e mais aqueloutro. Isso é o trivial. Não basta porque os problemas são complexos. E as demandas sociais, cada vez mais volumosas, exigem soluções mais complexas, rápidas, eficazes e duradouras.
Sem pensar assim, o futuro da cidade, sim, será uma quimera. Pobre Belém!
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