Em todo o País, o segundo turno faz subir a temperatura do debate eleitoral. Em São Paulo, a campanha de Marta Suplicy (PT) apela e é criticada pelos próprios aliados. Nas capitais brasileiras em que a decisão sai neste 26 de outubro, a temperatura esquentou. Em alguns casos, como na Paulicéia, descambou para o vale-tudo. O comercial de gosto e resultados duvidosos veiculados pela campanha de Marta, com veladas insinuações sobre a opção sexual do adversário Gilberto Kassab (DEM), provocou críticas até mesmo entre os eleitores da ex-prefeita.
Comentário de uma professora da Universidade de São Paulo e uma das fundadoras do PT considera a estratégia condenável do ponto de vista ético e sem nenhum resultado prático. Provavelmente, "não vai ganhar nenhum voto com isso. Ao contrário, vai perder apoio entre os homossexuais e outros segmentos da sociedade, eu incluída. É burrice de assessores e marqueteiros que querem desorientar o eleitor. A própria Marta já foi vítima de muito preconceito e intromissão na vida particular no episódio de separação de Eduardo Suplicy e jamais deveria se valer desse expediente".
Na verdade, o desespero venceu o bom senso. Considerada homofóbica, a propaganda feriu o orgulho dos militantes homossexuais do próprio partido. O Comitê GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) que apóia a campanha de Marta chegou a divulgar um manifesto de repúdio à estratégia que, segundo o texto, viola o direito à privacidade, reforça o preconceito e parte de uma crítica moralista.
Marta pôs a vida pessoal de Kassab na disputa. O preconceito surgiu pela via do caráter pessoal do candidato - "É casado? Tem filhos?". As duas frases mais comentadas da semana saíram de uma peça publicitária de rádio e TV, de pouco menos de 30 segundos, da campanha de Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo.
Trata-se de uma insinuação perversa por rotular o candidato de homossexual, como se o fato de ser casado e ter filhos pudesse determinar a orientação sexual de alguém e assim livrá-lo do preconceito. Uma pessoa pode ser solteira a vida toda e ter um comportamento exemplar na vida profissional e política. Atingir a individualidade de uma pessoa é uma infâmia só encontrada nos regimes políticos que usam a força para eliminar as vozes dissidentes ou para destruir povos pela fome ou pelas doutrinas econômicas que reduzem as multidões à categoria de entulho humano.
Pelos seus ataques descabidos a Kassab, é lamentável que o flerte com a derrota a tenha conduzido para a sarjeta eleitoral. A situação da sexóloga está muito difícil, as evidências caminham no sentido de que Marta só vencerá a eleição por milagre, pois a candidata não tem de onde tirar votos, principalmente depois que o tucano Geraldo Alckmin manifestou apoio a Kassab.
As ofensas não trazem votos. É claro que houve reações hipócritas ao comercial. Muitos dos que agora protestam têm o hábito de recorrer a baixarias quando se trata de políticos da agremiação do Nosso Guia e da esquerda em geral. Os mesmos que neste momento se dizem tocados alimentaram preconceitos como, por exemplo, a suposta preferência do Nosso Guia pelos destilados.
Mas nada disso justifica valer-se de um expediente do qual Marta sempre se disse - e, de fato, foi - vítima. A candidata, constrangida, transferiu a responsabilidade pela veiculação do vídeo à equipe de marketing, chefiada por João Santana. O que era ruim ficou pior. Marta finge que não sabe por que a posição preconceituosa e enrustida não cabe bem em quem fez a vida militando no lado oposto.
Marta que, está insinuando que o prefeito é gay, faz isso no mesmo discurso em que o acusa de ligação com o ex-prefeito Celso Pitta, processado por corrupção. Para a sexóloga de hoje, homossexualidade e desonestidade estão do mesmo lado. Kassab foi à Justiça Eleitoral e conseguiu direito de resposta para rebater o que classificou de "grande equívoco" da adversária. "O importante é o caráter das pessoas. O estado civil - se é solteiro, casado, se tem filho - é uma questão de foro íntimo", disse à "Folha de S.Paulo".
Marta Suplicy é mulher de vanguarda, não só por este exemplo, mas por tantos outros, constata-se a falência de políticos, pertencentes a segmentos de uma classe dirigente que não se preparou. A sexóloga tem uma história conectada às boas causas, à defesa das mulheres, dos homossexuais, das minorias. O risco é ela - que tem pretensões presidenciais - sair da campanha menor do que entrou.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
Comentário de uma professora da Universidade de São Paulo e uma das fundadoras do PT considera a estratégia condenável do ponto de vista ético e sem nenhum resultado prático. Provavelmente, "não vai ganhar nenhum voto com isso. Ao contrário, vai perder apoio entre os homossexuais e outros segmentos da sociedade, eu incluída. É burrice de assessores e marqueteiros que querem desorientar o eleitor. A própria Marta já foi vítima de muito preconceito e intromissão na vida particular no episódio de separação de Eduardo Suplicy e jamais deveria se valer desse expediente".
Na verdade, o desespero venceu o bom senso. Considerada homofóbica, a propaganda feriu o orgulho dos militantes homossexuais do próprio partido. O Comitê GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) que apóia a campanha de Marta chegou a divulgar um manifesto de repúdio à estratégia que, segundo o texto, viola o direito à privacidade, reforça o preconceito e parte de uma crítica moralista.
Marta pôs a vida pessoal de Kassab na disputa. O preconceito surgiu pela via do caráter pessoal do candidato - "É casado? Tem filhos?". As duas frases mais comentadas da semana saíram de uma peça publicitária de rádio e TV, de pouco menos de 30 segundos, da campanha de Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo.
Trata-se de uma insinuação perversa por rotular o candidato de homossexual, como se o fato de ser casado e ter filhos pudesse determinar a orientação sexual de alguém e assim livrá-lo do preconceito. Uma pessoa pode ser solteira a vida toda e ter um comportamento exemplar na vida profissional e política. Atingir a individualidade de uma pessoa é uma infâmia só encontrada nos regimes políticos que usam a força para eliminar as vozes dissidentes ou para destruir povos pela fome ou pelas doutrinas econômicas que reduzem as multidões à categoria de entulho humano.
Pelos seus ataques descabidos a Kassab, é lamentável que o flerte com a derrota a tenha conduzido para a sarjeta eleitoral. A situação da sexóloga está muito difícil, as evidências caminham no sentido de que Marta só vencerá a eleição por milagre, pois a candidata não tem de onde tirar votos, principalmente depois que o tucano Geraldo Alckmin manifestou apoio a Kassab.
As ofensas não trazem votos. É claro que houve reações hipócritas ao comercial. Muitos dos que agora protestam têm o hábito de recorrer a baixarias quando se trata de políticos da agremiação do Nosso Guia e da esquerda em geral. Os mesmos que neste momento se dizem tocados alimentaram preconceitos como, por exemplo, a suposta preferência do Nosso Guia pelos destilados.
Mas nada disso justifica valer-se de um expediente do qual Marta sempre se disse - e, de fato, foi - vítima. A candidata, constrangida, transferiu a responsabilidade pela veiculação do vídeo à equipe de marketing, chefiada por João Santana. O que era ruim ficou pior. Marta finge que não sabe por que a posição preconceituosa e enrustida não cabe bem em quem fez a vida militando no lado oposto.
Marta que, está insinuando que o prefeito é gay, faz isso no mesmo discurso em que o acusa de ligação com o ex-prefeito Celso Pitta, processado por corrupção. Para a sexóloga de hoje, homossexualidade e desonestidade estão do mesmo lado. Kassab foi à Justiça Eleitoral e conseguiu direito de resposta para rebater o que classificou de "grande equívoco" da adversária. "O importante é o caráter das pessoas. O estado civil - se é solteiro, casado, se tem filho - é uma questão de foro íntimo", disse à "Folha de S.Paulo".
Marta Suplicy é mulher de vanguarda, não só por este exemplo, mas por tantos outros, constata-se a falência de políticos, pertencentes a segmentos de uma classe dirigente que não se preparou. A sexóloga tem uma história conectada às boas causas, à defesa das mulheres, dos homossexuais, das minorias. O risco é ela - que tem pretensões presidenciais - sair da campanha menor do que entrou.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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