sábado, 5 de janeiro de 2008

O ano eleitoral e o voto


ROBERTO DA PAIXÃO JÚNIOR

Dois mil e oito é ano de eleições, e outra vez seremos chamados a escolher representantes para cuidar do dinheiro público.
Cansados dos governantes que enriqueceram ilicitamente à custa de tais recursos e daqueles que se serviram do poder apenas para satisfazer interesses pessoais, resta-nos saber como escolhê-los.
Se partirmos do princípio segundo o qual não existe ser humano perfeito, quais devem ser as características dessas pessoas? Sem pretensão de acerto, relacionamos adiante algumas que achamos essenciais.
A primeira, a busca pelo conhecimento. Cremos que não basta ao candidato ser detentor de eventuais graduações universitárias ou títulos acadêmicos, conforme demonstrado pela História recente do nosso País. Antes de tudo, será preciso que ele se movimente para alcançar valores que não possui, o que estabelecerá um ambiente íntimo capaz de exteriorizar ao eleitor os seus mais sinceros propósitos.
A segunda, a lembrança de compromissos assumidos. Candidato que não tem essa capacidade é quase certo que não cumprirá com programas adotados em campanha. Trata-se, pois, da aptidão humana para quitar dívidas, situação inseparável do atributo de honestidade que deve nortear o comportamento político.
Como terceira característica, catalogamos o empenho na conquista de valores morais. Para tanto, o combate interior contra idéias de corrupção pode ajudar bastante o candidato. Também nunca será demais lembrar que a autoridade moral é força irresistível capaz de atrair não só o eleitor, mas aqueles que desejam sustentar um governo por meio da justiça e da paz social.
Outro atributo é a confiança. Nesse sentido, a sinceridade deve ser o ponto de referência do candidato. Jamais mentir sobre o que pode fazer em prol da sociedade. Não deverá, portanto, elaborar promessas que estejam fora do atual quadro financeiro do ente federativo para o qual pretende se candidatar, evitando, assim, fomentar expectativas fantasiosas.
O candidato também deve ser humilde para lembrar que, se um dia alcançar o triunfo, chegou lá não porque seja detentor de alguma habilidade política, mas porque foi erguido pela vontade de um corpo social sem esperança e cansado de sofrer em nome da democracia, que só costuma bater na sua porta para pedir votos.
Por fim, cabe ao candidato ter a capacidade de aprender que o patrimônio que vai administrar não é dele nem seu, mas nosso, e que por isso não há espaço para proveitos pessoais. Afinal, vige na administração o princípio do interesse público.
A falta dessas qualidades constitui, hoje, objeto de grande preocupação das empresas de marketing, que quase sempre procuram criá-las artificialmente. Entretanto, encobrir esses defeitos é minimizar a capacidade de entendimento do eleitor, que não suporta ver desperdiçado seu voto com quem não merece a sua confiança. Não foi por outro motivo que grafamos as palavras busca, lembrança, empenho e conquista na frente daquelas qualidades, exatamente por saber que ninguém as ostenta no conjunto.
Assim, por conta da dificuldade de encontrar pessoas com essas qualidades, cabe ao eleitor investigar as ações do seu candidato. Se ele procura reeleger-se, verifique, por exemplo, junto ao Ministério Público, ao Tribunal de Contas e à Justiça se há alguma pendência que o comprometa. Caso tente se eleger pela primeira vez, analise a sua vida pregressa para saber se é merecedor da sua confiança. Do contrário, é melhor procurar outro em quem votar.

Roberto da Paixão Júnior é especialista em Direito do Estado

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