Em O ESTADO DE S.PAULO:
Mangabeira vende extravagâncias
Com comitiva de 35 pessoas, chamou atenção na Amazônia mais pelas idéias inusitadas que por um projeto viável
Um estudo do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), divulgado dia 7, informou que até 2006 apenas 5% das residências da Região Norte eram servidas por esgoto. E que em Belém apenas 9% dispunham do benefício. Na mesma Belém, oito dias depois, o ministro de Assuntos Estratégicos da Presidência, Roberto Mangabeira Unger, anunciou suas primeiras idéias para a pasta criada no ano passado - a principal delas, a construção, no futuro, de um aqueduto para levar água da Amazônia para o semi-árido Nordestino.
No dia seguinte a prefeita de Santarém, Maria do Carmo (PT), trouxe Mangabeira de volta à realidade: lá, a água é abundante, mas não chegou, sequer, às casas da região. Não seria melhor resolver esta questão primeiro? Na viagem de quatro dias à Amazônia, o ministro despertou mais atenções por suas idéias extravagantes que por um projeto viável a longo prazo.
A questão do aqueduto foi abafada pela falta de saneamento na região; a ocupação de áreas desmatadas por agricultores familiares já está nos planos dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente (MMA); o manejo controlado de madeira também já é uma idéia do MMA; a criação de cursos que fixem o homem na Amazônia é idéia antiga do ex-governador do Acre Jorge Viana (PT); o incremento da indústria de transformação na Zona Franca de Manaus já era defendido pelo então presidente Castelo Branco, quando a criou, em fevereiro de 1967. As arrojadas idéias de Mangabeira não eram novas.
O ministro viajou para a Amazônia com uma comitiva de 35 pessoas. Quis levar junto a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, mas ela preferiu ficar em Brasília. O ministro da Cultura, Gilberto Gil - que conheceu Mangabeira no movimento hippie, em Salvador - resolveu viajar à última hora, quando voltava de um show considerado ruim na Bahia.
A viagem de Mangabeira e assessores para a Amazônia não saiu barato. A diária de cada membro da comitiva é de cerca de R$ 300 - o que perfaz R$ 10,5 mil por dia -, mais as despesas com deslocamentos aéreos e terrestres, aluguel de auditórios e a mobilização de autoridades locais. Mesmo assim o ministro não conseguiu ser levado a sério em sua primeira aparição de longo curso.
Autoridades disseram ao Estado, sem constrangimentos, que no âmbito do governo Mangabeira é considerado “café-com-leite”. Alguns auxiliares chegaram a dizer que só a mídia atribui importância a ele. Assessores do Palácio do Planalto contam que ele e o presidente Lula se conheceram em 2006, na campanha pela reeleição, apresentados pelo vice-presidente José Alencar (PRB). Revelam que Lula “morre de rir” de tudo o que o filósofo fala, por causa do marcante sotaque americano que ele tem.
“Café-com-leite” ou não, Mangabeira ocupa um posto cuja missão é pensar o futuro do Brasil, mas por enquanto não conseguiu resolver nem o local definitivo do seu gabinete. Quis uma sala ao lado do presidente, no Palácio do Planalto; não conseguiu. Instalou-se no 15º andar do prédio do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Setor Bancário Sul. A partir de fevereiro vai se mudar para o antigo prédio do Ministério do Exército, na Esplanada dos Ministérios.
Depois da aventura amazônica, a missão de Mangabeira será coordenar o Comitê Ministerial de Formulação da Estratégia Nacional de Defesa, criado no PAC da Defesa, no ano passado. O Comitê tem a atribuição de traçar um plano estratégico de defesa nacional - seja lá o que isso queira expressar, pois o País não sofre ameaças externas. O grupo deverá apresentar propostas para atualizar a Política de Defesa Nacional, abrangendo todos os aspectos de organização e aparelhamento das Forças Armadas.
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