segunda-feira, 27 de abril de 2020

Jornalista narra o horror que viu ao levar a mãe com Covid-19 para ser atendida. “Não desejo para o meu pior inimigo”, afirma.


O jornalista Luiz Flávio postou nesta segunda-feira (27) o depoimento abaixo, acompanhado da foto acima, em seu perfil no Instagram.
O relato é pungente – porque verdadeiro e emblemático da situação de colapso, de saturação, de exaustão completa em que se encontra o sistema público e privado de saúde em Belém.
Leiam.

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Minha mãe tem 71 anos. É asmática, diabética e renal crônica.
Faz diálise numa clínica particular às terças, quintas e sábados e essa semana sentou ao lado de uma senhora com Covid-19.
Ontem à tarde sentiu um desconforto respiratório acima do normal. A temperatura corporal subiu para 37,5°.
Seguimos para a Unimed-Doca para fazer uma tomografia.
Chegamos lá às 20h30. Só conseguimos ser atendidos às 00h15 de hoje. A tomografia foi feita por volta das 1h.
Retornamos ao médico para a reavaliação por volta das 4h30.
O exame mostrou uma mancha grande no pulmão, com indicativo de Covid-19...
Ela recebeu a “dose de ataque”, com um comprimido de hidroxicloroquina e outro de azitromicina.
Ela tá bem, com falta de ar, mas o médico quer internação imediata, dada a idade avançada e as comorbidades.
Seguimos na luta na busca por um leito.
Passamos 9 horas no hospital à espera de atendimento.
A maior unidade do maior plano de saúde do Estado virou um Hospital de Guerra: pessoas jogadas nos bancos desacordadas, outras em cadeiras de rodas urrando sem conseguir respirar. Muitas desmaiadas em macas...
No meio de tudo isso os profissionais de saúde, trabalhando no limite, sem conseguir atender todos a tempo, ouvindo impropérios pela demora no atendimento.
A culpa não é deles. Mas a quem apelar e despejar todo nosso medo e agonia num momento desesperador?
Se quem tem um plano de saúde passa por isso, imagino o povo da periferia que sequer consegue entrar em UPA.
A velha Marina tá bem, tomando medicação em casa.
O que vi e vivi ontem naquela unidade de saúde não desejo para o meu pior inimigo.
Acho importante compartilhar esse relato para mostrar o quão esse vírus é letal, na esperança de tocar na mente e coração de pessoas que ainda debocham dessa pandemia, que já vitimou dezenas de milhares de pessoas pelo mundo.
Um câncer não derrubou essa mulher e não vai ser um vírus “feladaputa” desse que vai fazer ela se entregar.
Eu? Bom... Acho que fui infectado, pois fiquei so lado da minha mãe o tempo todo.
Vamos aguardar os próximos dias e ver como meu organismo reage.
Tenho histórico de atleta, mas sabe como é que é, né...
Fiquem com Deus e, principalmente: #FiqueemCasa

2 comentários:

AHT disse...

Força, Dona Marina!
Força, Luiz Flavio!
Vocês superarão mais essa!

Anônimo disse...

Vamos nos cuidar e, quem puder, ficar em casa. Precisamos o máximo de isolamento social, para evitarmos a proliferação e cuidarmos de quem estiver com a Covid.

Só assim, com apoio de todos, poderemos sair dessa Pandemia e retomarmos nossas atividades diárias: estudar, brincar, festejar, trabalhar e gozar a vida em sua plenitude.