quarta-feira, 1 de abril de 2020

Morte de idosa em Alter do Chão não é propriamente um caso médico. É um caso de polícia.



A Secretaria de Saúde do Pará publicou há pouco, em sua conta no Twitter, documentos para desmentir um tsunami de áudios e vídeos que inundam as redes sociais desde o início da tarde desta quarta-feira (01), depois que a própria Sespa confirmou a primeira morte por Covid-19 no estado. A vítima foi uma senhora de 87 anos que residia em Alter do Chão, distrito de Santarém, no oeste do Pará.
Nos áudios, netos e outras pessoas próximas à família põem em dúvida o diagnóstico laboratorial apresentado, afirmam que a idosa morreu no dia 19 de março, “de velhice” (segundo a linguagem utilizada nas mensagens), e garantem que nunca souberam que ela tinha Covid-19, tanto é assim que continuaram a seu lado, até os últimos momentos de vida. E tanto o velório como o sepultamento atraíram centenas de pessoas, já que ela era muito popular em Alter do Chão.
Entre os documentos apresentados, um deles, evidentemente, é o exame laboratorial, que foi feito em Belo Horizonte (MG). Pois é por aí, por esse detalhe - um exame feito em Minas Gerais -, que começa uma série de dúvidas que apenas uma investigação, rigorosa e rápida, da polícia e do Ministério Público, será capaz de elucidar.
Todas as dúvidas, incongruências e inconsistências deste caso estão expostas, preto no branco, com todas as letras, em português de Portugal, em expediente datado de 25 de março, assinado por ninguém menos que o secretário de Saúde, Alberto Beltrame, e endereçado ao procurador-geral de Justiça, Gilberto Martins.
Vejam nas imagens a íntegra do documento.
Está dito lá que a senhora morreu no dia 19. No dia 18, portanto quando ela ainda estava viva, foi recebida a amostra para o exame laboratorial, que ficou pronto no dia 24.
Mas por que a amostra foi colhida?
Os familiares pediram?
Se pediram, alguém tinha suspeita de que a mulher estava infectada pelo vírus?
Ela apresentava algum dos sintomas de Covid-19 nos dias anteriores à sua morte?
Por que o exame não foi feito em Santarém mesmo?
Por que foi mandado para um laboratório particular em Belo Horizonte?
E o médico, que nem é funcionário público municipal, por que não notificou a Sesma ou a Sespa de que a paciente era um “caso suspeito”, como era “seu dever legal” fazê-lo, conforme expressões do próprio secretário, vazadas no expediente remetido ao MP?
Esse não é apenas um caso médico ou laboratorial. É um caso de polícia.
Convém que o Ministério Público requisite, com urgência, a instauração de inquérito para esclarecer as 1.500 perguntas que saltam aos olhos de qualquer um.

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