domingo, 10 de março de 2019

Bandidos inauguram nova forma de assalto em Belém: o assalto à mão desarmada


A violência em Belém assumiu, digamos assim, várias facetas, vários vieses. Ou, se quiserem, vários disfarces.
A mais nova forma de assalto, em que bandidos, supostamente foragidos do sistema penitenciário, e aparentemente - repita-se, aparentemente - sem armas, se travestem de pedintes, é narrada pelo jornalista Jota Ninos, de Santarém, num texto que ele publicou em seu perfil no Facebook.
O próprio jornalista passou pela experiência dentro de um ônibus, na última sexta-feira (08).
Ao final, ele faz uma pergunta: "Quando será que teremos de volta nossa Belém de outrora?"
Ninos, essa pergunta, nós, os que moramos em Belém, os que adoramos esta cidade e, no caso de quem não nasceu aqui, os que a adotamos como sua, todos nós, Ninos, nos fazemos essa pergunta.
Todo dia, o dia todo. E não obtemos resposta, infelizmente.
O texto é o seguinte:

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Estou em Belém desde ontem, na reta final da recuperação de minha cirurgia realizada em 26/02. Ontem vivi uma experiência surreal, dentro de um ônibus, que passo a relatar.
Depois de andar de um lado para o outro de Uber, por conta da fama de "cidade violenta", resolvi fazer o caminho entre dois shoppings usando um coletivo urbano.
Tudo ia bem no trajeto, até o momento que dois rapazes entraram no ônibus e um deles começou a falar em voz alta para os passageiros. Imaginei logo que era um daqueles "pedintes de ônibus", coisa tão comum em Belém.
Só que ao invés do famoso discurso "eu poderia estar roubando...", o jovem grita em voz alta - e de certa forma, assustadora - que precisava que os passageiros lhe dessem qualquer dinheiro, "pode ser um real, dois reais, cinco reais...", dizia ele aos berros e eu esperando ele falar os motivos do pedido, enquanto seu comparsa passava olhando ameaçador para cada passageiro.
Eu fiquei ouvindo de cabeça baixa, mas de repente uma frase me chamou a atenção: "estamos pedindo a ajuda de vocês porque acabamos de sair da penitenciária e queremos uma vida nova, porque aquilo é um inferno!".
Foi a deixa para que os passageiros começassem a dar dinheiro aos dois. Vi várias mãos trêmulas se estendendo no corredor e entregando moedas de um real ou notas de dois e até de cinco reais para os rapazes. Eu fiquei quieto, mas assustado, achando que estava começando um assalto e não dei dinheiro.
Olhei pro cobrador à minha frente que guardava uma expressão de desconforto, mas com um leve sorriso pendurado na boca como quem soubesse o que estava acontecendo. Terminada a "coleta", os dois agradeceram e desceram do ônibus. Ouvi um burburinho com gente dizendo "Ufa!" ou rindo de forma nervosa da situação.
Foi aí que o cobrador falou pra todos, em voz alta, que havíamos acabado de presenciar uma nova modalidade de violência psicológica da Cidade das Mangueiras: o assalto à mão desarmada!
Segundo o cobrador, essa prática começou recentemente e os jovens geralmente são drogados e se aproveitam do medo das pessoas de assaltos e se apresentam nos ônibus como ex-internos de penitenciárias, conseguindo que as pessoas acabem dando suas "doações espontâneas"...
Quando será que teremos de volta nossa Belém de outrora???

Um comentário:

Anônimo disse...

só uma pergunta: por que o motora abre a porta para essas pessoas? Se estão drogados, o risco de algo acontecer é bem maior.