A edição mais recente da revista Época desta semana nos presenteia com
jornalismo puro. E a reportagem de capa, de 30 páginas, assinada pelo repórter Denis
Russo Burgierman, é a expressão perfeita desse jornalismo.
Por três meses, ele foi aluno do COF, assim
chamado o Curso On-Line de Filosofia, que tem como estrela e protagonista o
cidadão Olavo de Carvalho, para muitos professor, para outros filósofo, para alguns
mais pensador e para o resto, nada. Nesse nada, inclua-se o papel de guru do
governo Bolsonaro, o de um guru que não se alimenta apenas de pretensões de ser
a referência, o esteio ideológico de um governo, mas que se nutre, tudo indica,
do desejo de governar de fato, senão por ele, pelo menos através dos fanáticos
que indicou para ocupar cargo na Esplanada dos Ministérios.
É o caso dos ministros Ricardo Vélez Rodríguez,
o desparafusado
da Educação, e Ernesto Araújo, que sonha (mamããããeeeeee!) em alijar a
China (maior parceiro comercial do Brasil) do espectro de relações prioritárias
que o País deve preservar, independentemente dos governos da hora.
Há algum tempo, eu já não lia uma reportagem que
se vale da ironia, de fatos, da exposição de ideias do entrevistado com outras
que lhe são contrárias, tudo isso como instrumento para aproximar o leitor de
um mundo complexo, como o que Olavo de Carvalho construiu – ou pretende
construir.
Burgierman não escondeu sua identidade.
Não se fez de infiltrado. Ou por
outra: foi um infiltrado
transparente. Chegou, inclusive, a insistir com Olavo – em contatos feitos
através de uma filha do dito professor – para que lhe desse uma entrevista. Mas
a condição imposta pelo cidadão foi que a matéria, antes de ser publicada,
fosse submetida ao próprio entrevistado, que teria então a faculdade de
modificar o texto a seu talante. Uma proposta imoral, né? E, por imoral,
plenamente recusada.
“Procurei me comportar como acho que um aluno
deve se comportar: me abri para aprender, tomei notas, li vários livros, fiz um
monte de perguntas. Convivi com outros alunos pelas redes sociais, por vezes
fui tomar café com eles. Como regra, não identifico os alunos no texto pelo
nome, para não causar problemas para ninguém. Não me escondi: usei meu nome
verdadeiro, respondi a verdade para quem me fez perguntas (por exemplo, que
pago minhas contas fazendo programa como jornalista)”, conta Burgierman.
O repórter transformou sua matéria como se fosse
um diário, indicando as datas mais relevantes em que Olavo, em suas aulas, expões
teses amalucadas e delirantes, ao mesmo tempo em que comenta vários temas,
geralmente relacionados a seus críticos, ao governo Bolsonaro, às esquerdas de
um modo geral, à intelectualidade e à mídia, que ele odeia com um vigor
comovente.
O retrato que a reportagem transmite, pelo menos
na minha percepção é a seguinte: que a história da humanidade se divide entre
antes e depois de Olavo Carvalho.
As aulas a que o repórter esteve presente, por
meio de um chat, ofereceram-lhe a
oportunidade de colher um perfil muito mais assustador de Olavo de Carvalho do
que aquele que nos é revelado através de suas intervenções no Facebook ou no
Twitter.
Ali, na reportagem, está o Olavo de Carvalho refém
das redes sociais, das quais se serve às vezes durante madrugadas inteiras,
entretido em fazer postagens porcas.
Ali está o Olavo de Carvalho boca porca, que
desfia palavrões de A até Z, de Z até A.
Ali está o Olavo de Carvalho com manias
persecutórias.
Ali está o Olavo de Carvalho que externa ojeriza
a todos os intelectuais – à exceção dele, é claro.
Ali está o Olavo de Carvalho confessadamente,
escancaradamente possuído por um fanatismo de direita tenebroso, a ponto de
acreditar, vejam só, que a ditadura militar inaugurada em 1964 foi uma decepção
completa, em termos de repressão, de censura e seja mais ou que for. “A
esquerda governou este país durante 50 anos e fez um estrago monumental”, disse
o cara em uma de suas aulas. Façam as contas: 50 anos inclui todo o regime
militar.
Ali está o Olavo de Carvalho cheio de mimimi,
que clama, suplica, implora, choraminga a seus alunos que o defendam dos
críticos.
Ali está o Olavo de Carvalho que se alimenta da
briga, da ofensa, da desqualificação moral de opositores para se manter, ele
mesmo, em evidência, sob os holofotes.
Ali está o Olavo de Carvalho que, quando
reconhece a sua pequenez, acaba confessando que se acha o maior filósofo que a
humanidade já produziu.
Em uma de suas aulas, ao dizer que já era
atacado desde os tempos do Orkut, bradou em alto e bom som no chat: “Foi a maior campanha de
assassinato de reputação voltada para um cidadão privado ao longo de toda a
história humana. A Polícia Federal se interessou? Não!”
Leram o que ele disse? “A maior campanha de
assassinato de reputação voltada para um cidadão privado ao longo de toda a
história humana”.
Em outra oportunidade, ensinou a seus alunos: “Não
puxem discussão de ideias. Investigue alguma sacanagem do sujeito e destrua-o.
Essa é a norma de Lênin: nós não discutimos para provar que o adversário está
errado”.
Entenderam?
Não se sabe se a norma de Lênin repugna ao dito professor. Talvez não. Porque ele a segue fielmente em práticas e rotinas que observa em sua cátedra (hehe), seja nas aulas, seja nos dejetos verbais que faz escoar pelas redes sociais.
Não se sabe se a norma de Lênin repugna ao dito professor. Talvez não. Porque ele a segue fielmente em práticas e rotinas que observa em sua cátedra (hehe), seja nas aulas, seja nos dejetos verbais que faz escoar pelas redes sociais.
Esse é Olavo de Carvalho.
O
guru do governo Bolsonaro.
3 comentários:
Mais que um excelente exemplar do praticante dos bons costumes da Família Tradicional Brasileira. É um estuprador cultural.
Este é um Governo democrático e esta imprensa que vivia as custas do Governo Federal e que em boa hora foi extinto esta gastança a todo custo inventam e caluniam tanto o Presidente e seus apoiadores. Vamos ver até onde esta turma de caluniadores irão.
Grande filósofo. Melhor que FHC, no mínimo.
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