terça-feira, 18 de maio de 2010

A globalização da economia bandida


O terrorismo hoje está globalizado. Lembro que acompanhei pela mídia, durante certo tempo, a movimentação da Brigada Vermelha, nos anos 80. O grupo golpeava a Itália de forma brutal com sequestros e atentados. Mas tudo leva a crer que era mais um embrião da economia do submundo. Hoje, ficamos céticos quanto à capacidade dos governos de enfrentarem o crime organizado global.
Parece que a bandidagem sempre se beneficiou de fases de transição, como o fim do comunismo. Jamais, porém, teve a disposição tantas fronteiras abertas, fáceis de cruzar, tantas atividades sob as quais esconder e tantas áreas em que há mercado livre, mas não lei. Isso os torna parte da economia mundial.
A economia bandida abrange atividades ilegais, como a falsificação na China, e as zonas cinzentas das atividades não reguladas, como as movimentações escusas no mercado financeiro. Tudo isso leva a um crescimento durante grandes transformações. Muita coisa mudou. foi o que aconteceu na Revolução Industrial, depois da Quebra de 1929, da queda do muro de Berlim e dos atentados de 11 de setembro de 2001.
É mister que se diga que o maior epicentro foi o ataque de 11 de setembro que afetou significativamente a economia do crime e que surpreendeu a maior potência mundial de "calças curtas". O conflito no Afeganistão pode estar desestabilizando uma grande parte da Ásia. O tráfico de drogas estimulado e promovido pelo Taleban está conquistando o continente, se infiltrando no Irã, no Paquistão, até na "impenetrável" China.
Ademais, temos a desestabilização política, com a doutrinação do terror islâmico, e social, com a disseminação da heroína. O ataque tanto desestabilizou quanto deslocou as lavanderias do crime organizado global.
Após o fatídico 11 de setembro, os Estados Unidos ficaram muito exigentes e tornaram mais difícil a movimentação de dólares ilegais, que poderiam potencializar o financiamento do terrorismo. A chamada Lei Patriota fechou as portas americanas para o dinheiro sujo.
Como bandido é bandido, seja qual for o tipo é um fora da lei, portanto, eles usam a geografia local para fugir da polícia - ou seja, as organizações criminosas mudaram as operações para a Europa, Londres em especial. Só que os europeus não têm uma legislação como a dos americanos. As fronteiras da Europa estão vulneráveis e dão espaço para a colonização pelo crime organizado.
Profere-se uma campanha equivocada contra a Suíça, vinda de países mais lenientes com o dinheiro sujo, como o do Reino Unido. Quando surge dinheiro novo, muitos países querem retê-los dentro de seus mercados. A legislação britânica acoberta pessoas que desejam trazer dinheiro de origem suspeita para seu sistema financeiro - basta ter residência no país. Não se sabe quanto dinheiro espúrio da Rússia e do crime dos Bálcãs foi injetado e lavado no mercado britânico. Por exemplo, mais de 70% do pescado consumido mundialmente vem da pesca predatória e ilegal, e a máfia russa explora a pesca do Mar do Norte.
Os impactos dessa economia de salteadores sobre todos nós é que a crise financeira é o mais notável no momento. Há também a internacionalização das máfias, como a ‘Ndrangheta, multinacional de origem calabresa, a mais poderosa da Itália. Ela funciona como uma empresa de logística para o crime organizado. Outras organizações terceirizam as atividades para ela. Ela aproxima organizações, como os narcotraficantes colombianos e os vendedores de armas sérvios, têm um braço que lava dinheiro para organizações de toda parte do mundo, oferece serviço no estilo "clínica geral". Junto com a Russa, é a máfia mais poderosa do mundo.
Como o capitalismo globalizado e democrático pode ter contribuído para a economia bandida? Provavelmente, o modelo Ocidental, de democracia e livre mercado, serviram de referência para redesenhar as economias das ex-colônias européias e do antigo bloco soviético. Mas esses países se viram sem mecanismos para regular os capitais nem conter abusos.
No mais, na Rússia, a antiga elite se apropriou das áreas estratégicas. Na China, a economia bandida se tornou um motor no país. Os trabalhadores são explorados, e o Estado incentiva a fabricação de produtos falsificados para o consumo em escala mundial. Países pobres como a África, cujos líderes surgiram para governar as novas repúblicas africanas na segunda metade do século 20 estavam enraIzados pelo crime. No Brasil há corrupção e criminalidade, mas não há uma força bandida atuando no desenvolvimento, ao contrário do que vemos na China, Rússia, Itália ou nos mercados financeiros dos países desenvolvidos. Pergunta-se: será que não estamos consumindo produto que pode ter sido produzido sem pagar impostos, por escravos ou com matéria prima ilegal?

-------------------------------------------

SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

Nenhum comentário: