quinta-feira, 20 de maio de 2010

A política e a arte da dissimulação

O deputado Martinho Carmona (PMDB) foi um dos oradores nas discussões sobre esse projeto de R$ 366 milhões, que não ata nem desata na Assembleia.
Na tribuna, Carmona abriu o coração.
Ele mesmo o disse.
Fez um desabafo.
Expôs, expulsou, expeliu, revelou uma, digamos, crise de identidade.
Uma enorme crise de identidade.
“Nesse momento, o que estamos vendo é que tudo o parece ser não é”, disse o peemedebista.
Ser ou não ser?
Estar ou não estar?
Situação ou oposição?
Aliado ou adversário?
Em resumo, eram esses os questionamentos do deputado.
Em resumo resumidíssimo, Carmona mal conseguiu disfarçar o seu profundo desconforto por não saber o que seu partido é. E ele também.
Se oposição ou governo.
Se está ou não está no governo.
Se está ou não está na oposição.
Se é aliado ou não do governo Ana Júlia.
O deputado foi muito franco e transparente em externar de público esse desabafo.
Foi muito franco em externar de público essa crise de identidade.
Mas Sua Excelência, como deputado experiente que é, teria – e certamente tem – elementos que não lhe permitiriam, por um minuto que fosse, enfrentar esse dilema, essa crise de identidade.
Sua Excelência sabe que a política é, muitas vezes, a arte da dissimulação.
E a dissimulação, quando se manifesta em contendas que se travam em outros palcos, em outros âmbitos – como na guerra, por exemplo -, é muitas vezes apenas parte de uma estratégia.
Mas a dissimulação, mesmo quando é tática, nem sempre consegue ela mesma dissimular-se.
Nem sempre a dissimulação consegue mascarar-se de dissimulação.
Como agora.
O deputado Martinho Carmona, por sua experiência e por ser deputado do PMDB, talvez disponha de mais elementos do que nós, observadores da cena política, para não se deixar trair por dissimulações.
Porque é certo o seguinte.
O PMDB não é mais governo.
O PMDB é oposição.
O PMDB não é mais aliado do governo Ana Júlia.
O PMDB já rompeu com o governo Ana Júlia.
O PMDB só não irá, como muitos pensam, fazer um comício para anunciar solenemente: “Rompemos”.
Não.
Mas é fato que o rompimento já ocorreu.
E o PMDB vai sair com candidato próprio nas próprias eleições.
“Ah, mas o PMDB ainda tem cargos no governo”, poderá dizer o deputado Carmona e poderão dizer alguns – ou até mesmo muitos.
E aí?
Isso faz parte da dissimulação.
O PMDB finge que é governo e o governo finge que ainda tem o PMDB como aliado.
Mas esse fingimento está cada vez menos distinguível.
Está cada vez menos dissimulado.
Porque se há alguém nesta parada que não está vivendo qualquer crise de identidade, esse alguém é o PMDB.
Porque o PMDB não é mais governo.
Já rompeu.
É oposição.
O resto é dissimulação, deputado.
É só dissimulação.

8 comentários:

MARCIO VASCONCELOS disse...

É sempre bom lembrar que os DEPUTADOS, terão que submter a conveção, para terem que concorrer nas próximas eleições.
E por isso, quando algum parlamentar se diz independente, é porquê, não segue a linha partidária, e poderá ter o seu nome rejeitado na convenção.
É por isso, leitores do BLOG, que o DEPUTADO, sabe que tem seguir com o partido, pois, caso contrário ficará sem mandato.
É minha pequena opinião para este gigantesco blog.

Anônimo disse...

A eleição do nobre deputado Luís Cunha para a vaga de Conselheiro do TCE, aparentemente, se configurará como a primeira e única vitória política do Executivo em quatro anos de gestão.

A proposta a ser apreciada do empréstimo 366 não é nem mais a sombra do projeto original enviado pelo Executivo. O que será votado é o substitutivo apresentado pelo deputado Parsifal Pontes (PMDB).

Agora, as atenções começam a se concentrar no projeto do PCCR dos Professores. Mais uma vez a gestão de Ana Júlia deixa claro que não sabe cumprir acordos.

Apesar de alardear ter elaborado o plano em conjunto com os professores, a proposta enviada à Assembléia não representa os interesses da categoria, que deixou isso claro durante audiência pública ontem.

Está na hora de a governadora largar o braço de puty e começar a ouvir a sua amiga Edilza Fontes.

Veja o que a professora diz em seu blog:

"No meu entendimento, o governo deveria ter se feito representar pelo secretário de planejamento, que é quem está discutindo o plano e, faz parte da mesa de negociação com o SINTEPP, assim como, é quem tem uma visão do planejamento e do orçamento do Estado.

Avalio também, que era um bom momento para o novo secretário assumir uma postura de diálogo perante o poder legislativo e a categoria. Digo, assumir este novo momento, já que agora ficou claro que o eixo da negociação passará pelo legislativo.

A categoria pareceu bastante mobilizada, com muita gente ficando do lado de fora da ALEPA e não podendo participar do debate. O clima é de acirramento e de cobranças para com o governo, e o movimento foca na figura da governadora como culpada da greve. Há um discurso muito articulado e que tem, no meu entendimento, uma ressonância na base da categoria e, que deixa o governo em uma situação muito defensiva."

o restante do comentário está em http://edilzafontes.blogspot.com/2010/05/o-debate-do-pccr-na-alepa.html

Anônimo disse...

Paulo,
Adorei o texto. Perfeito. Mais direto impossível. E o resto é tolice do Carmona.

Anônimo disse...

Do Carmona para o Jader.

“Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder o
que não dá mais pra ocultar.
E eu não posso mais calar, já que o brilho desse olhar foi traidor
e entregou o que você tentou conter, o que você não quis desabafar....”

Anônimo disse...

O que o Deputado está querendo dizer é que se esse Governo perder a eleição ele será aliado do novo Governo. Se ganhar, ele será, também, aliado do velho ou novo governo. Ele é do PMDB. Vocês já viram esse partido fora do governo?

Anônimo disse...

Faltou um "toma-te" depois do "distinguível".

Anônimo disse...

Como muitos políticos nesse País, o Carmona é governista. Sigla partidária é uma exigência do TRE. Só isso!

Anônimo disse...

Acho mesmo é que o Jáder não manda mais no Carmona e no Juvenil, que estão, assim, assim com a Ana FORA Júlia.