GUTO LOBATO, do Amazônia Jornal:
Na tarde do último dia 14 um portador de necessidades especiais caminhava pela avenida Pedro Miranda, uma das mais movimentadas de Belém, quando foi baleado por policiais militares durante uma revista. As circunstâncias ainda não foram totalmente apuradas, mas sabe-se que os PMs - agora investigados pelos colegas da Polícia Civil - desconfiavam que a vítima estivesse armada e fosse reagir. Mas, na verdade, ela carregava um pequeno walkman sob a blusa. Mais que manchar a imagem da corporação, o incidente serve para ilustrar o peso da responsabilidade que os agentes de segurança pública carregam na hora de fazer as abordagens policiais de rua - técnicas rotineiras, responsáveis por prevenir a criminalidade ao invés de combatê-la à base de tiroteios e perseguições.
Contabilizadas nas estatísticas oficiais da PM, as abordagens figuram como atividades primordiais dos praças. Somente de janeiro até o último dia 15, o Comando de Policiamento da Capital (CPC) da PM registrou quase 400 mil procedimentos deste tipo nas ruas da Região Metropolitana. As técnicas relativas à abordagem são baseadas em princípios legais (veja quadro) e se tornam itens obrigatórias para que um agente seja aprovado nos cursos de formação e posto nas ruas. O que não evita, no entanto, que erros - muitos deles fatais - sejam cometidos ao se pôr em prática o policiamento preventivo.
Casos como o que resultou na morte prematura de Emerson Cruz Freitas, de 37 anos, não costumam sair da mente da população com facilidade. É natural: diante do aumento da violência urbana, a figura do policial é uma das poucas capazes de transmitir segurança a quem se tornou refém da criminalidade - ser vítima de seus principais combatentes é uma contradição difícil de engolir. No entanto, segundo o comandante de policiamento da capital, o coronel PM Edivaldo Sarmanho, não se deve criar aversão à prática da abordagem, e sim colaborar com ela.
'Se há um caso malsucedido, em que seja comprovado erro por parte dos policiais, isso certamente não é por falta de treinamento, até porque as técnicas são constantemente repassadas, tanto na formação do policial quanto em cursos de reciclagem', garante. 'É preciso que haja a consciência de que revistar e interrogar pessoas que apresentem características suspeitas na rua é uma atividade rotineira, essencial para evitar a consumação de possíveis crimes. A população precisa ter confiança no trabalho policial', completa Sarmanho.
De fato, não faltam casos em que a ação de bandidos é coibida pelas revistas em via pública. Só nesta primeira metade de ano foram feitas 400 apreensões de armas de fogo que estavam nas mãos de suspeitos a partir do procedimento. Isso quando não são encontrados objetos roubados ou drogas - que resultam em um dos tipos mais comuns de flagrante lavrados pela Polícia Civil nas seccionais da capital - nas mãos dos que são abordados nas ruas. 'É preciso que se desmistifique aquela ideia de que abordamos as pessoas de forma indiscriminada na rua. O policial sabe reconhecer uma atitude suspeita e só chega ao cidadão caso haja evidência de que algo pode estar errado. Um dos princípios da abordagem é não agir por impulso', argumenta.
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