No AMAZÔNIA:
O cumprimento de uma ação de despejo determinada pela Justiça do Estado exaltou ânimos e gerou insatisfação entre os moradores da passagem Margarida, situada no bairro da Cremação, em Belém. Por conta de dívidas não pagas reclamadas pelo dono da propriedade, a família da aposentada Maria Raimunda Sousa de Brito foi obrigada a deixar a casa em que morava há cerca de 20 anos - um barraco de madeira de dois cômodos, em que vivem hoje cerca de 15 pessoas, a maioria crianças menores de 12 anos de idade.
O despejo foi determinado pelo juiz Mairton Marques Carneiro, da 6ª Vara Cível da Capital, em setembro do ano passado, mas somente ontem foi cumprido. Como a decisão já havia sido comunicada à família, mas ela tinha se negado a sair do local, o despejo foi feito por uma oficial de Justiça com o apoio de uma guarnição de policiais militares da Ronda Tática Metropolitana (Rotam). Eles chegaram à passagem Margarida - cuja entrada fica na rua dos Pariquis, entre 14 de Março e Generalíssimo - por volta de 8h30, quando os familiares de Maria Raimunda ainda estavam dormindo.
Os moradores do casebre foram notificados da decisão judicial e tiveram de remover todos os objetos pessoais e móveis da casa em cerca de uma hora, mas se negaram a pô-los no caminhão de mudanças disponibilizado pela Justiça. 'Não temos para onde ir, como é que vamos tirar nossas coisas daqui?', indagou, revoltada, a aposentada, que preferiu deixar os pertences da família na própria passagem, com o apoio dos demais moradores.
Segundo um dos filhos de Maria Raimunda, o proprietário teria alugado o terreno à família, mas há tempos tinha deixado de cobrar o valor, já que a família não dispunha de renda para pagá-lo. Além disso, ninguém teria sido avisado de que ele reclamava os aluguéis na Justiça até a ordem de despejo ser emitida.
'Alugamos esse terreno há mais de 20 anos. Mal temos dinheiro para nos sustentar, como é que vamos pagar um monte de parcelas que apareceram do nada? E já estamos aqui há mais de 20 anos, não é possível que não tenhamos direito algum sobre a propriedade', reforçou Maria Raimunda.
A oficial de Justiça responsável pelo despejo, que preferiu não se identificar, reforçou que a família fora avisada desde o ano passado, mas sempre se negou a sair do local. Sensibilizados com a situação dos agora sem-teto, os vizinhos já se preparam para recorrer da decisão judicial e pedir, ao menos, uma indenização.
'Eles vão ao Ministério Público, à Defensoria. Eles têm de ter algum direito. E nós vamos fazer abaixo-assinado, ajudá-los. Eles moram conosco há 20 anos, são pessoas de bem e trabalhadoras. Não merecem este tratamento', disse, indignada, a doméstica Alzira Serrão, moradora da vila há 28 anos.
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