domingo, 19 de julho de 2009

Árduo momento para Honduras


A expressão "República bananeira" passou a ser aplicada a outras nações latino-americanas com governo corrupto e economia baseada em um único produto. Mas Honduras é a bananeira original. Honduras é um país da América Central, sua capital é Tegucigalpa. Honduras foi descoberta em 1502, por Cristovão Colombo, em sua quarta viagem. Colombo encontrou um território marcado pela presença da civilização Maia, e só após um período de guerra contra os índios é que os espanhóis conseguiram o controle da colônia. Durante muito tempo o país foi sempre governado por uma ininterrupta sucessão de caudilhos.
A atual crise política em Honduras é um evento em desenvolvimento desencadeado quando o Exército, sob as ordens dos poderes Judiciário e Legislativo, depôs o presidente Manuel Zelaya às 5 horas da manhã de domingo, 28 de junho passado. O país surpreendeu o mundo com um golpe de estado quando centenas de soldados invadiram sua residência e o levaram ainda de pijama até uma base aérea, de onde foi expatriado para San José, Costa Rica. A prisão de Zelaya ocorreu cerca de uma hora antes de serem abertas as urnas para uma consulta popular não vinculativa sobre um referendo que pedia ao Congresso a convocação de uma Assembleia Constituinte para o país.
Dada a irrelevância de Honduras, o mundo precisou optar por simplesmente ignorar o acontecimento e, ao contrário, partir para uma punição exemplar que desestimulasse outras aventuras na América Latina. Prevaleceu a segunda opção.
Durante a semana passada, a Organização dos Estados Americanos, a Assembleia-Geral das Nações Unidas, a União Europeia e os Estados Unidos, destino de 70% das exportações hondurenhas, ameaçaram com sanções. O resultado é um paradoxo: o presidente odiado em casa tornou-se celebridade no exterior. Ninguém é mais inadequado para o papel que o presidente deposto.
O cardeal católico Óscar Rodríguez Maradiaga, considerado progressista no seio da Igreja, atual arcebispo de Tegucigalpa, afirmou que o plano de Zelaya era se perpetuar no poder e instalar uma ditadura nos moldes de Hugo Chávez. Dom Rodríguez Maradiaga foi professor do presidente deposto e tinha estreitos laços de convivência com ele.
O presidente deposto faz de um tudo para reunir apoio internacional para seu retorno ao cargo, com uma visita à República Dominicana, onde recebeu o apoio do presidente Leonel Fernandez, enquanto Hugo Chávez, um de seus partidários mais explícitos, disse que Zelaya vai retornar ao país "por quaisquer meios". Dono de fazendas e madeireiras, ele foi eleito por um partido de centro-direita. Mas lá pela metade do mandato aproximou-se do caudilho bolivariano. Seu governo aceitou do venezuelano a recompensa de US$ 130 milhões, 4 milhões de lâmpadas e 100 tratores pela entrada de Honduras na Alba, o clube dos amigos de Chávez.
Os hondurenhos inicialmente aprovaram a barganha. Mas se assustaram ao perceber que Zelaya levava a sério sua conversão à esquerda. Claro, seguindo o roteiro chavista, ele convocou um plebiscito para mudar a Constituição e autorizar a própria reeleição. Nem seu partido o apoiou.
Enquanto isso, o inflamado ditador venezuelano declarou as conversações da Costa Rica, "mortas antes de começarem" e pediu um embargo comercial total a Honduras. Falando em Caracas, Chávez também criticou o governo do presidente dos EUA, Barack Obama, por ter apoiado as conversações mediadas pelo presidente da Costa Rica, dizendo que não pode haver negociações com "um usurpador" em Honduras.
Como a Constituição não permite o impeachment, a oposição optou pelo caminho , digamos, tradicional. Produtor de banana e café, Honduras é ainda pouco favorecida do que El Salvador. Pobre Honduras, premida entre golpistas e um presidente que quer usar a democracia para acabar com a democracia.

-------------------------------------------

SERGIO BARRA é medico e professor
sergiobarra9@gmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Democracia é muito do que a vontade da maioria; democracia são os controles institucionais que permitem aos governados controlar os governantes.

Assim, estou de acordo com a avaliação do articulista, pois, na América Latina, alguns líderes pretendem usar a maioria eventual para liquidar as instituições democráticas, retornando ao velho caudilhismo de outros tempos que julgávamos sepultados.