sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Pega na mentira!


Entre tantos projetos polêmicos que tramitam no Congresso Nacional, como o da descriminalização da maconha, da legalização do aborto e do casamento gay, tem agora um outro meio inusitado que será votado na terça-feira , 28, que torna crime uma mentira contada por acusado na Justiça ou perante uma CPI.
Ora, direis, e as mentiras contadas nas campanhas eleitorais não podem ser também inseridas nesse contexto? A propósito, dizia o grande estadista alemão Von Bismarck que "nunca se mente tanto na face da terra quanto depois de uma guerra, vencida ou perdida, após uma temporada de caça ou em véspera de eleição"... Sabia das coisas, o velho Bismarck.
Já o filósofo Aristóteles perguntava e ele mesmo respondia: "Qual a vantagem do mentiroso? É não ser acreditado mesmo quando está dizendo a verdade"!
Estamos às vésperas do segundo turno das eleições municipais, e a população de Belém, de tanto ouvir promessas mirabolantes feitas no palanque eletrônico dos debates, está meio perplexa diante da pobreza das duas opções que lhe são oferecidas e certamente acabará elegendo um Devedor de Promessas.
Belém parece condenada a ficar órfã por mais quatro anos. A cidade tem enormes carências em todas as áreas, mas notadamente na saúde, saneamento, educação e nos transportes. Precisamos de um gestor, não de um mágico, que recorrendo aos efeitos especiais da propaganda enganosa tem procurado vender ilusões, ao invés de debater soluções. Infelizmente, com a eleição de um dos dois candidatos, Belém não terá um prefeito, mas um "perfeito" ilusionista...
Voltando ao projeto "Pega na mentira", faltou seu autor incluir entre os passíveis de condenação pelo ato de mentir os políticos e candidatos aos governos de modo geral, à senatoria ou à "deputança". Particularmente, eles deveriam ser obrigados por lei a registrar em cartório de títulos e documentos uma lista com suas propostas e projetos , cuja execução, depois de eleitos, ser-lhes-ia cobrada pelos representantes da sociedade civil organizada ou pelo Ministério Público. O documento teria fé pública e, como tal, passível de ser cobrado em juízo. Um sonho? Talvez. Quem sabe um dia teremos uma reforma política que também possa promover a reforma do caráter dos políticos enganadores. A eleição do Cobrador Pregador para vereador de Belém pode ser uma "semente" e o começo de um processo de "purificação" do atual sistema eleitoral, viciado e carcomido.
Por enquanto, quem mente mais acaba levando a melhor. Para os "profissionais" da política, a mentira acaba sendo um bom negócio. Para outros "profissionais", pode ser também um mal necessário. Pecado continua sendo, com certeza, para os cristãos, velhos e novos. Crime, poderá vir a sê-lo?
Anatole France dizia, por exemplo, que "só as mulheres e os médicos sabem quão útil, necessária e benéfica é a mentira para os homens." Vivo ainda fosse, o mestre francês certamente incluiria nesse rol os políticos profissionais e até alguns amadores que giram em torno dos palácios e dos gabinetes do poder. E, de quebra, os dois candidatos a prefeito de Belém...

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FRANCISCO SIDOU é jornalista

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