domingo, 19 de outubro de 2008

Hospital atesta morte cerebral de garota mantida refém

Da Folha Online

O hospital municipal de Santo André confirmou à 23h30 deste sábado (18) a morte cerebral de Eloá Cristina Pimentel, 15, que foi feita refém pelo ex-namorado por mais de cem horas em Santo André (Grande São Paulo).
A adolescente perdeu massa encefálica e passou por cirurgia. A bala ficou alojada no cerebelo. A amiga da adolescente, Nayara, também de 15 anos, foi baleada no rosto, está consciente e não corre risco de morte, segundo os médicos.
A morte cerebral foi constatada na segunda bateria de exames que faz parte do protocolo do conselho de Medicina. Foram feitos três tipos de exames: laboratorial (sangue), neurológico (reflexos) e uma medição do fluxo de sangue nas artérias cerebrais. Segundo os médicos, a família foi avisada antes da imprensa e estão sendo atendidos por psicólogos.
"Vamos aguardar a decisão da família sobre a doação dos órgãos. Numa eventual favorável da família, os órgãos serão retirados aqui mesmo. Caso não concordem, ela será mantida nos aparelhos até o processo seja resolvido num processo natural.", disse o secretário de Saúde de Santo André, Homero Nepomuceno Duarte.
Na frente do hospital, 15 amigos da adolescente que estavam desde a tarde acompanhando seu quadro de saúde choravam após receberem a notícia da morte cerebral.
Durante a tarde de sábado, a equipe médica do hospital havia atestado que a garota estava em coma irreversível. Segundo a neurocirurgiã Grace Mary Lídia, é a forma mais grave do coma.
Inconformado com o fim do namoro de três anos, Lindemberg Fernandes Alves rendeu a adolescente na última segunda-feira (13). Além dela, outras três pessoas --uma amiga da garota e outros dois jovens-- também foram feitas reféns.
Às 20h daquele dia, policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) foram ao prédio localizado em um conjunto habitacional no bairro Jardim Santo André para tentar negociar a liberdade dos reféns. Após duas horas de negociação, os garotos foram liberados.
Na madrugada da terça-feira (14), duas irmãs de Alves foram ao local. As cozinheiras Francimar, 35, e Lindomar, 38, afirmaram que Alves era muito amoroso com a adolescente e sempre se mostrou tranqüilo. Entretanto, ele entrou em depressão após o rompimento com a garota e passou a ameaçá-la de morte caso ela não reatasse o relacionamento.
Ainda na terça-feira, Alves disparou duas vezes em direção a uma multidão formada por jornalistas e curiosos que circundavam o prédio. Apesar do susto, ninguém ficou ferido. Durante a noite, os policiais cortaram o fornecimento de energia ao apartamento onde as garotas eram mantidas reféns. Em troca do retorno da eletricidade, Alves libera a amiga de sua ex-namorada.
Menos de dois dias após a libertação, a adolescente volta às 10h de quinta-feira (16) ao apartamento, porém, não como refém. O mais longo caso de cárcere privado do Estado terminaria apenas às 18h10 de sexta-feira (17) de forma trágica.
A Polícia Militar afirma que decidiu invadir o apartamento após o rapaz atirar. "O que provocou a invasão foi o próprio agressor. O Gate não atirou. Fizemos de tudo para preservar a vida dos três", disse neste sábado o coronel Eduardo Félix, comandante do Batalhão de Choque da PM.
A ex-namorada de Alves saiu do apartamento ferida na virilha e na cabeça. Uma amiga que também estava no imóvel foi baleada no rosto, operada e não corre risco de morte.
Segundo o coronel, Alves deu o primeiro tiro e, quando a equipe do Gate entrou no apartamento, o rapaz descarregou a arma.
Félix defendeu a atuação da equipe no desfecho do caso. "Não houve erro. Todas as decisões foram tomadas em equipe", afirmou o PM.
Preso, o ex-namorado da adolescente foi levado neste sábado para o CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Segundo a polícia, ele foi levado na noite de sexta-feira a uma delegacia de Santo André, mas se recusou a falar sobre o caso.

Nenhum comentário: