sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Eis Severino, eis o Brasil, eis a política

A política, com todo o respeito aos políticos, causa repulsa às vezes todo dia, o dia inteiro.
Por onde se olha, vêem-se coisas repulsivas, inalcançáveis pelo bom senso.
Por onde se olha, constatam-se práticas degradantes, que visam interesses imediatos – imediatíssimos. E só.
E nesta época de eleição, há um esforço grande em estimular-se o voto. Mas quando se olha no entorno, fica difícil de acreditar que o voto pode mudar alguma coisa para melhor. Fica difícil de acreditar no que se vê, no que se ouve ou no que se lê.
Agora, mesmo, lê-se que o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, conta com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se eleger prefeito de João Alfredo, cidade de 30 mil eleitores, a 106 quilômetros de Recife.
Severino é çauma figura. Se vocês bem se lembram, ele é uma figura.
Mas, no Brasil, figuras folclóricas como Severino Cavalcanti são capazes de despertar o riso. Um risco pra cá, outro pra lá, uma frase de efeito aqui, outra ali e tende-se a considerar o político folclórico um inofensivo, uma cara de bem com a vida, autêntico, um exemplo de homem público apegado, digamos, às suas raízes.
Um cidadão como Severino Cavalcanti é um desses exemplares. É um desses espécimes.
Severino é folclórico, é boquirroto. É engraçado. Fala antes de pensar e, por isso, acaba divertindo. Assim ele foi quando exerceu a presidência da Câmara dos Deputados. Assim ele foi quando ostentou a condição – vejam só – de terceiro homem na linha sucessória da República.
Nunca antes, jamais, em tempo algum na História deste País, o Brasil correu risco tão grande em ser governado por um cidadão como esse.
Porque cidadãos como Severino Cavalcanti, divertidos embora, são perigosos. São perigosíssimos. Oferecem o máximo perigo para a higidez, a limpidez, a transparência que se deve exigir de quem exerce um cargo público.
Mas, olhem só.

Protagonista de escândalo
Severino foi protagonista de um dos maiores escândalos de que já se tem notícia no País. O escândalo do mensalinho. Se o escândalo tive como protagonista, caberia dizer que ali houve uma história de achaque, de uma configurada extorsão. Coisa de escroque. Um nojo. Como o escândalo foi protagonizada pelo então presidente da Câmara, diz-se que foi um “deslize ético imperdoável”.
Pois este mesmo Severino - que renunciou ao mandato para não ser cassado e para não perder, em conseqüência, os direitos políticos - é candidato a prefeito de sua terra natal, a pequena João Alfredo, no interior de Pernambuco.
E aí, que Severino seja candidato?
E aí?
E aí que Severino está praticamente eleito. Só não se diz que está com certeza eleito porque as urnas serão abertas e fechadas no próximo domingo.
Não é apenas a eleição antecipada de Severino que assusta.
Assusta sua aceitação pela nata – ou por uma parte dela - da República.
Já passaram por seu palanque o ministro das Cidades, Márcio Fortes, e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa.
Por último, mas não menos importante, Severino tem o apoio – explícito, expresso, escancarado e vocalizado – de ninguém menos que o presidente da República.
“Quando perceberam que ele não seria oposição ao meu governo, derrubaram ele. Parte da elite paulista, se encontrar com ele, não cumprimenta. Eu cumprimento Severino onde o encontrar”, diz o presidente, numa mensagem em apoio ao rei do mensalinho.
Eis Severino.
Eis o Brasil.
Eis a política.
Eis o resultado da degradação.

4 comentários:

Anônimo disse...

É o Brasil Severino, meu caro, que virou "A República de Sucupira"!O grande Dias Gomes nem suspeitava que a realidade viria um dia superar sua genial criação em "O Bem Amado". Do Chicosidou

Anônimo disse...

E os "cumpanhêros" ainda querem fazer a gente acreditar em esquerda, direita e discursos rançosos.
Nada.
Acabou.
Resta isso que o poster bem descreveu no texto.
Muito triste.

Poster disse...

"República Severina". É isso, Sidou.
A República da degradação.
Abs.

Poster disse...

Anônimo das 09:59,
Etiquetas, rótulos já acabaram, não é?
As práticas - nefandas - é que perduram.
Infelizmente.
Abs.