No Amazônia
Um policial militar foi assassinado com dois tiros, ontem à noite, no Guamá, em Belém. O cabo Antônio Marco da Silva Figueiredo dirigia em direção à sua residência quando foi vítima de uma emboscada. Menos de duas horas depois, quatro homicídios foram registrados na Terra Firme. Moradores do bairro afirmaram que os crimes foram cometidos por policiais, em represália ao assassinato do cabo da PM.
Antônio Marco da Silva Figueiredo tinha 43 anos e era cabo da Ronda Tática Metropolitana (Rotam). Porém, ele estava afastado pela junta médica da PM há sete anos, após ser baleado na perna. Por volta das 20 horas de ontem, o PM conduzia seu veículo (um Celta vermelho de placas NSF-6669) na rua Augusto Correa quando foi interceptado por um Honda Fit cinza. No interior do veículo estavam cinco homens, segundo informações iniciais. Os ocupantes do carro cinza efetuaram os primeiros disparos contra o Celta e em seguida emparelharam os veículos, forçando o cabo a fazer uma curva à esquerda, após entrar na passagem Monte Sinai. Acuado, o policial militar ficou sem defesa e os bandidos desceram do Honda. Testemunhas contaram que pelo menos quatro deles estavam armados. Foram efetuados dez disparos, dos quais dois atingiram o policial, que morreu na hora. Quatro homens em duas motos também estavam no local dando cobertura aos criminosos.
Conhecido como “cabo Pet”, Figueiredo era reconhecido pelo combate ao crime, mesmo após ter sido afastado. No local onde ele foi morto, algumas pessoas atribuíram a ele várias mortes de bandidos nos bairros do Guamá e Terra Firme. Por isso, uma das linhas possíveis de investigação pode tratar o assassinato como uma vingança de criminosos. Segundo o sargento Rossicley, da PM, a morte do cabo não ficaria impune. “Ainda não sabemos se trata-se de uma represália, mas sabemos que um pai de família foi morto. Estamos unidos para combater o crime e daremos resposta para a população”, frisou o sargento, que trabalhou com o cabo Figueiredo durante algum tempo.
Uma moradora da passagem Monte Sinai, que preferiu não se identificar, disse que o policial era a favor da população do bem. “Ele era um bom policial, defendia as famílias e aqui ninguém era assaltado, porque bandidos tinham medo dele”, disse a senhora.
O sargento Rossicley também afirmou que a polícia já tinha informações sobre os suspeitos. Foi divulgada uma lista informal dos apelidos: Mauro Gordo, Panturrilha, Grandão, Denis Pimentinha, Túlio e Jacura.
Comandante da PM convoca “força-tarefa”
Em nota encaminhada à redação, a Polícia Militar informou que está “empenhada nas buscas pelos criminosos que ceifaram a vida do graduado PM, tendo inclusive o Comandante Geral da PMPA (coronel Daniel Mendes) convocando todos os comandantes de unidades da capital a deslocarem-se para suas respectivas unidades e acionarem seus efetivos para a referida força-tarefa em caráter de urgência; bem como a Corregedoria da PM que já está com equipes distribuídas para acompanhar as ações policiais e para apurar quaisquer denúncias que forem veiculadas, inclusive monitorando as redes sociais”.
“Também estão atuando nas buscas o Comando de Missões Especiais, por meio dos Batalhões e Companhias e os demais comandos de área, além dos serviços de inteligência da PMPA e o apoio de órgãos do sistema de segurança pública”, informou a nota.
Mensagem pede “resposta” de militares
Ao sargento da Polícia Militar Rossicley, que atuou ontem nas buscas pelos acusados de matar o cabo Antônio Marco da Silva Figueiredo, é atribuída uma mensagem na internet de convocação a outros militares para reagir à morte do policial morto. O texto, que foi compartilhado em redes sociais a partir do Facebook, conclama policiais militares a dar uma “resposta” ao crime: “Convocação! Amigos, o nosso irmãozinho Pet (cabo Figueiredo) acabou de ser assassinado no Guamá. Estou indo. Espero contar com o máximo de amigos. Vamos dar a resposta. Sargento Rossicley”.
Incursões em áreas de periferia resultaram em mais mortes
Após o crime, policiais começaram a fazer incursões no Guamá e bairros próximos na tentativa de localizar os acusados. Após as 20 horas, pelo menos seis outras mortes foram registradas na Terra Firme, no Jurunas e no Parque Verde. Não há a confirmação de que as mortes têm ligação com a execução do policial militar. A população, porém, acusa PMs de terem cometido os crimes. A primeira vítima foi um adolescente de 16 anos, baleado duas ou três vezes, segundo informações preliminares. O crime ocorreu na rua Brasília, próximo à passagem Ligação. Familiares afirmaram que ele trabalhava na Ceasa e não tinha envolvimento com crimes. Uma prima do adolescente, que não se identificou, contou que os dois assassinos estavam de moto e usavam capuz. “Um deles puxou meu primo pelo braço e atirou nele. Sem motivo nenhum”, disse.
Na rua São Domingos, a vítima foi um cobrador de van, identificado como Bruno Gemaque, de 20 anos. Ele estava sentado na frente de uma residência quando foi baleado e morreu instantes depois. A menos de 500 metros dali, na rua Gabriel Pimenta, o deficiente físico Jefferson Cabral Reis, de 27 anos, morreu ao ser baleado várias vezes na cabeça. Testemunhas relataram que os acusados estavam em um carro. A sogra do rapaz, que se identificou apenas como Marilene, contou que Jefferson trabalhava na área de serviços gerais de um supermercado, mas estava afastado para um tratamento de hanseníase.
Outros - No fim da noite de ontem, o Centro de Perícias Científicas Renato Chaves (CPC) confirmou sete mortes, a do cabo da PM e outras seis. Quatro das mortes foram registradas na Terra Firme. Outras duas ocorreram no bairro do Parque Verde (conjunto Jardim Sideral) e outra no Jurunas.
Em todas as quatro situações na Terra Firme, moradores atribuíram as mortes a policiais militares. “Eles entraram aqui na Terra Firme e saíram atirando em pessoas inocentes. O policial foi morto no Guamá e mataram quem não teve nada a ver com o que houve lá. Tenho até medo de pensar quantos inocentes ainda irão morrer até amanhã”, disse a irmã de uma das vítimas.
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