sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Avariadas do sal


Como quase tudo em Salinas, o carnaval também está em declínio. Blocos de empolgação e de "sujos" que faziam a alegria de nativos e turistas na quadra momesca saíram de cena, por falta de apoio e incentivo. Até o famoso bloco "As Desvairadas do Sal" deixou de sair às ruas, com a sua animação movida a combustível flex (cerveja e cachaça), muita descontração e sadia irreverência. Nele desfilavam circunspectos senhores da sociedade paraense, alguns acima de qualquer suspeita... de sair do armário. Respeitáveis médicos, advogados, dentistas,, empresários e até jornalistas (hum...), bem-sucedidos profissionalmente, abandonavam seus instrumentos de trabalho e, esquecendo a estressante rotina diária, caíam na gandaia, liberando geral, alguns até mesmo soltando a franga, vestidos de colombinas, borboletas, pitonisas, fofuras de Belém, messalinas, entre as mais cotadas.
Alguns marmanjos também desfilavam balançando a pança como bebês chorões com chupeta em forma de cantil cheio daquela água que passarinho não bebe. "As Desvairadas" eram uma atração à parte e movimentavam as tardes de Salinas, com muita descontração e alegria.
Atualmente, a pobreza do carnaval de Salinas, comparando-se com a pujança do carnaval da Vigia, de Bragança, de Curuçá, de Cametá e de outros municípios do interior paraense, é bem um reflexo do abandono em que a cidade se encontra. Ruas esburacadas, lixo se amontoando nas calçadas devastadas, carapanãs gigantes em revoada compõem um cenário deprimente da cidade, abandonada à sua própria falta de sorte e de governo.
A inapetência da gestão pública em Salinas chega a ser chocante, numa cidade com todas as condições de se tornar importante pólo turístico do Pará e referência nacional como é, atualmente, Alter-do-Chão, eleita por importante revista de turismo a praia mais bonita do Brasil - merecidamente, aliás.
Conversando com um vereador salinense, perguntei-lhe a razão de a cidade estar tão maltratada, como nunca dantes em sua história, nem mesmo nos piores momentos da gestão "Di mal a pior". Disse-me, então, o edil salinense que a população já está com saudades do Di e que até um bloco de empolgação preparava-se para sair às ruas, com o sugestivo apelo "Volta, Di"!

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“Salinas sem turistas, Dr. Wagner, é uma cidade sem futuro e sem vida. É essa a sua vocação natural. Não deixe que a desilusão tome conta da população da cidade, que tanto apostou na mudança que o senhor prometeu.”
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E pensar que a população elegeu um cirurgião justamente na esperança de que ele operasse transformações necessárias para que a cidade voltasse a atrair novos turistas não só de Belém, mas também de Manaus, Brasília, Palmas e até do exterior, que costumam se encantar com as belezas naturais de Salinas, mas acabam não voltando devido as precárias condições de sua infra-estrutura turística.
Salinas sem turistas, Dr. Wagner, é uma cidade sem futuro e sem vida. É essa a sua vocação natural. Não deixe que a desilusão tome conta da população da cidade, que tanto apostou na mudança que o senhor prometeu.
Não vale a desculpa de que o senhor recebeu uma "herança maldita" e que a prefeitura não tem dinheiro sequer para uma capinação e limpeza das ruas. Em campanha, o candidato Wagner apregoava sua condição de amigo e companheiro de Lula e de Ana Júlia, lembra?
Salinas tem um potencial turístico tão grande, senhor prefeito, que muita coisa pode ser feita, em termos de melhorias, sem verbas publicas, mas através de parcerias com empresas privadas, as famosas PPPs tão do agrado de outros governos petistas. Um exemplo: a revitalização da orla e da praia do Atalaia. Consultadas, grandes empresas como a Vale, o Banco do Brasil e o Banco da Amazônia, por exemplo, certamente participariam de um projeto com esse alcance, pois teriam retorno garantido com a veiculação de suas mensagens publicitárias em espaços privilegiados na Praia do Atalaia.
O transporte coletivo em Salinas é outra lástima. Turista sem carro em Salinas dificilmente voltará à cidade, que não tem locadora de automóveis nem ônibus decentes para um simples giro pela orla e outros pontos turísticos. Com incentivo da Prefeitura, certamente alguma empresa poderia se interessar pela exploração do setor, de preferência, com aqueles ônibus-jardineiras, que fazem sucesso em Curitiba e em outras cidades que incentivam o turismo.
Essas e muitas outras iniciativas podem ser adotadas sem verbas públicas, mas com incentivo oficial. Desde que haja vontade política, aliada à dedicação, competência, engenho e arte.
Do contrário, Salinas, que está na UTI, poderá morrer de inanição gerencial.
E, então, entre as "avariadas do sal" poderão também figurar, além das ruas esburacadas, as esperanças de perdidas ilusões de sua população, de seus poetas, de seus trovadores, admiradores e amigos que um dia até promoveram, com grande sucesso, um Festival de Música Popular com o sugestivo nome de "Uma Canção para Salinas".

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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br

6 comentários:

Jorge Ramos disse...

Minha visão sobre Salinas é completamente oposta. Pra mim não tem lugar mais bonito nesse Pará. A mesma coisa digo de Belém, de quem todos falam mal. Essas, são pessoas amargas, mal humoradas, que perderam a capacidade de se emocionar e se danam a criticar a tudo a a todos.
Eu daria um conselho a essa gente frustrada: viajem, vão conhecer outras terras, outras pessoas, vão sentir na pele a discriminação. E depois voltem prontos a reconhecer que o Pará é a melhor das terras, que Belém é uma cidade impar e que Salinas é tudo de bom.

Anônimo disse...

Esse tal dr. Wagner é a Ana Júlia de Salinas, copia da original.
Promessas mil, promessas de mudanças, promessas e promessas.
E...nada de nada, só incompetência e demonstração de ser inapto para o cargo.
Ambos são "maravilhosos" exemplos cumpanherus.
Ôrra meu!

Cândido Messias disse...

Concordo com o Jorge Ramos quando diz que “não tem lugar mais bonito nesse Pará” que Salinas. Concordo, da mesma forma com o que diz a respeito de Belém, contrapondo-se aos que falam mal da nossa Cidade das Mangueiras.
Não concordo, porém quando diz que as pessoas com senso crítico que se manifestam ao estilo do jornalista Francisco Sidou sejam “pessoas amargas, mal humoradas, que perderam a capacidade de se emocionar e se danam a criticar a tudo a todos.”

Ora, meu caro Jorge! Salinas tem uma população fixa que precisa evoluir também como beneficiários das mesmas benesses da sua população flutuante, afortunados freqüentadores que buscam no “Paraíso ao Mar” o direito de curtis a vida, contemplando a natureza, a família, os amigos ou até mesmo, solitariamente conversando com o seu próprio umbigo. A “receita” de Sidou contempla essa possibilidade. Basta vontade política e garra para alavancar a vocação turística do aprazível balneário.

No mais, amigo Jorge (perdoe-me a liberdade), Papai do Céu nos presenteou com as belezas naturais que todos reconhecemos próprias de Salinas. Mas, “Papai do Céu” nos criou seres inteligentes com a obrigação de interagirmos, uns para com os outros e com a própria natureza. Não para sermos entes meramente contemplativos e estáticos como se insensíveis fossemos. Somos seres racionais e dotados de senso crítico que pode e deve ser trabalhado em benefício da própria espécie humana. Não somos pedra e, como pó, só o seremos nos estágios temporais enquanto desencarnados.
Por tudo isso, concordo com o Jornalista Sidou, um profissional da comunicação escrita que, aliás, não tive ainda o privilégio de conhecer mas que, pelos artigos publicados, não só no Espaço Aberto como, também, em O Liberal, não me parece pertencer ao caricato bloco das “pessoas amargas, mal humoradas, que perderam a capacidade de se emocionar e se danam a criticar a tudo a todos”, como o nobre comentarista afirma. É, sim, um jornalista ao melhor estilo que constrói os seus textos com um toque todo personalístico, quase sempre recheados de idéias criativas e inovadoras. É o caso do artigo aqui comentado.
A propósito, em algum momento, em algum jornal que circula em Belém, li uma notinha sugerindo a indicação desse jornalista para a Secretaria de Turismo de Salinas (nem sei se existe. Será?. Até acreditei nessa possibilidade porque me parece ser um apaixonado pela “Atlântica” e, ainda, pelo espírito empreendedor que demonstra ter. Pena que o seu senso crítico, não possa, talvez, ser notado pela essência do que pensa e escreve, mas pelos estreitos meandros dos interesses meramente político-partidários.

Como um PTista convicto, sem vínculo nem compromisso com os caciques do Partido, livre, portanto, para pensar e agir, lamento que o PT não tenha, talvez, a competência para atrair pessoas com o perfil desse jornalista. Aliás, mesmo sem saber se é alto, baixo, gordo ou magro, acho mesmo que ele não é petista. E nem consigo desvendar a sua ideologia político-partidária, pois o homem, mesmo com classe, tinta e papel à mão, baixa o malho em tudo e em todos, sem perder a coerência das suas idéias. Isso, por sinal, não consigo entender como “certidão de nascimento ou óbito” de um amargurado ou coisa do gênero, mas, tão somente como traço natural de qualquer bom jornalista.

Luiz Otavio Braga disse...

Graças a pessoas como o Sr.Jorge Ramos as coisas estão do jeito que estão. Que Salinas tem belezas isso concordamos. Mas dizer que é amargura notar os ônibus caindo aos pedaços, o lixo, os urubus, a buraqueira, a desordem é muita alienação. Sidou foi correto em suas observações. Se ele amargo, então que venham os amargos! Melhor do que ser cego!

Paulo Angelim disse...

Esse Jorge Ramos "tá" com toda pinta de ser um DAS ou Aspone do Prefeito de Salinas. Chamar o jornalista Francisco Sidou de "amargo" só porque ele critica a falta de gestão de Salinas, reconhecendo a cidade como a maior vitrine do Pará, em razão de seu potencial turístico, e lamentando estar tão mal cuidada nas mãos inábeis de um cirurgião - é , no mínimo, uma tentativa de "calar" uma das poucas vozes independentes da imprensa paraense. Lamentável, seu Jorge Ramos. O senhor deve estar "mamando" em alguma "teta" da Prefeitura de Salinas para dizer tanta sandice. Pelo visto, suas viagens não lhe trouxeram muito "verniz" cultural. Leia mais. Tem gente que viaja , mas não lê nada. Talvez seja o seu caso.

MARCIO VASCONCELOS disse...

CONCORDO COM O SR JORGE, já estive em vários países e cidades do BRASIL, e não existe praia mais bonita do que o ATALAIA, na EUROPA, BRASILEIRO, é discriminado por ser brasileiro, nos EUA, a discriminação começa pela exigência de visto, e quando você consegue desembarcar nos EUA, é bem tratado, pois, o AMERICANO quer o seu dinheiro, tanto que neste país, não existe o TAXFREE, ou seja você paga imposto AMERICANO, e o seu dinheiro fica naquele país.
RJ, é linda e maravilhosa, mais o povo é mal educado, as praias sujas, e as pessoas fumam maconha ao ar livre.
Eu sempre viajo, e quando volto, tenho a certeza, não existe lugar melhor para se viver com que BELÉM.