sexta-feira, 20 de março de 2009

O tombo da ribanceira


As águas de março expõem as mazelas urbanas de uma cidade que cresceu desordenadamente, sem planejamento urbano, sem saneamento básico e com muito pouca ação governamental em busca de soluções inadiáveis, sempre adiadas. As águas de março, em Belém, não chegam "fechando o verão", mas provocam muitos "tombos da ribanceira", com ruas alagadas, casas inundadas, bueiros entupidos de lixo jogado na via pública, engarrafamentos colossais, buzinaços estressantes. São faces do caos urbano que se estabelece quando chove. A insegurança e o medo de assaltos nas paradas de ônibus e nos congestionamentos completam o cenário de abandono, escancarando a omissão dos agentes públicos. A nossa bela cidade está sem comando e à deriva.
As soluções dos graves problemas urbanos de Belém são remetidas para um passado de omissões, falta de planejamento e de visão, “heranças malditas”, fantasmas que precisam ser exorcizados não com queixumes, mas com ações governamentais efetivas de parte de agentes públicos que se elegeram justamente prometendo mudanças.
A cidade e sua população, sobretudo a mais carente, continua sofrendo os efeitos da época invernosa, sem perspectivas de soluções a curto prazo. Não vale culpar a natureza, pois esses problemas são antigos e recorrentes. Planos existem muitos. O que falta é ação. O prefeito Duciomar gosta muito de citar as tais "obras estruturantes", cujos efeitos a população ainda não sentiu. O trânsito continua neurótico e estressante, notadamente quando chove. E como chove em Belém nessa época!
A cidade está ficando "engessada". Vocês lembram da famosa profecia dos jovens técnicos japoneses da Jica? Pois bem: eles previram, com base em premissas técnicas, que Belém poderia parar até 2010, caso não fossem realizadas algumas obras viárias indispensáveis para desafogar as vias de tráfego da cidade. Isso em 1986. Alguém duvida que isso está acontecendo ?

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“Como sonhar com a Copa do Mundo em 2014 com esse cenário desolador de uma cidade ‘engessada’? E o PAC da mobilidade, que a governadora prometeu para breve, transformando Belém num canteiro de obras para dotar a cidade de condições plenas de ser a sede amazônica da Copa? O tempo está passando e Manaus trabalhando. Só Ana Júlia não vê...”
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Das obras previstas no projeto (PDTU), então elaborado, nenhuma chegou a ser concretizada. Tivemos um viaduto meia-sola na Bandeira Branca e dois túneis que alagam no Complexo do Caos, aliás, do Entroncamento, duas obras cosméticas e caríssimas que não constavam daquele projeto, e que apenas têm contribuído para aumentar o congestionamento na Almirante Barroso e na entrada/saída da cidade.
Como sonhar com a Copa do Mundo em 2014 com esse cenário desolador de uma cidade "engessada"? E o PAC da mobilidade, que a governadora prometeu para breve, transformando Belém num canteiro de obras para dotar a cidade de condições plenas de ser a sede amazônica da Copa? O tempo está passando e Manaus trabalhando. Só Ana Júlia não vê...
A saúde pública em Belém também está agônica. São muitas as mortes de pessoas por omissão de socorro nos pronto-socorros municipais. A desesperança toma conta de seus familiares, que se sentem nessas horas totalmente impotentes e abandonados. São dramas de uma realidade cruel, que não mais sensibilizam gestores públicos "anestesiados", só preocupados em manter o poder, com seus cargos DAS , suas mordomias e seus parentes e amigos mamando nas tetas públicas.
Os vereadores de oposição ainda ensaiaram um grito de alerta com a ameaça de instalar uma CPI para apurar os desmandos na saúde pública municipal.
O prefeito então agiu rápido para "abortar" qualquer iniciativa nesse sentido, usando os conhecidos métodos franciscanos do "é dando que se recebe".
E tudo fica como está, de preferência sem novos questionamentos que podem acabar repercutindo na mídia não amestrada.
Passado o susto da CPI, o prefeito reeleito pode agora, aliviado, dedicar-se aos seus devaneios de novas "obras estruturantes" como as pontes ligando Outeiro a Mosqueiro, eleitas como prioridades de sua "nova" e desastrada gestão. Enquanto isso, os muros com cercas elétricas e as "torres de marfim" vão se multiplicando e crescendo verticalmente, em ritmo alucinante, destruindo as "pontes" da cidade com a natureza e a vida. Até quando, Belém, serás castigada sem reagir nem mugir ?

Ladrões de sonhos

Ouvir alguns depoimentos prestados na CPI da Pedofilia, instalada na Assembléia Legislativa, chega a ser deprimente. A certa altura da vida, parece que já se viu de "um tudo", como diria o saudoso jornalista Edwaldo Martins. Mas não. As torpezas e os detalhes sórdidos revelados pela CPI nos deixam com a sensação de que a podridão não tem limites. Um ser humano que destrói os sonhos de uma criança não merece só ir para a cadeia. Como castigo, os abomináveis pedófilos deveriam ser levados para um zoológico, onde, enjaulados, poderiam aprender, observando o comportamento dos animais, pelo homem taxados de irracionais, como eles defendem e respeitam suas crias, as "crianças" de sua comunidade.

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Francisco Sidou é jornalista
chicosidou@bol.com.br

2 comentários:

Anônimo disse...

Será que a ANA sabe o que é trabalhar?

Franssinete Florenzano disse...

Sidou, eu compartilho o que você sente quanto às sessões da CPI da Pedofilia. Saio delas nauseada, triste, doída, arrasada. Tenho uma amiga jornalista, com filha pequena, que me disse que está ficando enlouquecida, examina todas as noites a sua filhinha para ver se está tudo bem. É uma coisa tão horrível, mexe muito com a gente, principalmente nós mulheres e mães. Espero do fundo do coração que essa CPI sirva para dar um basta a esses crimes impunes, e que nossas crianças enfim ganhem a proteção efetiva do poder público.