Nova Bandeirantes é um município de 13 mil habitantes no extremo norte de Mato Grosso. Fica longe, quase no ponto onde o Estado faz divisa com Pará e Amazonas. Foi ali, na zona rural (região de onça, jibóia e gado nelore), que Gilberto Giuzo passou a maior parte de sua vida. O menino magrelo de olhos esverdeados, filho de migrantes paranaenses, demonstrou desde cedo um talento incomum: aos 4 anos já fazia contas de cabeça, para surpresa dos pais, sitiantes sem instrução. A vocação matemática não impediu que levasse a vida da roça. Cresceu em lombo de cavalo, tratava do gado, erguia cercas na propriedade da família. As escolas que freqüentou eram precárias mesmo para os padrões brasileiros. Desde a infância dividia seu tempo entre as aulas e o trabalho.
Neste ano, aos 24, Gilberto terminou o 2o ano do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, de São José dos Campos. Lá se forma a elite da engenharia brasileira. Também neste ano, conseguiu uma das 38 bolsas da Fundação Estudar, disputada por 6 mil candidatos. O prêmio tenta identificar os jovens mais promissores do país. Gilberto é um deles. Passou pelos obstáculos sucessivos do mau ensino público, da privação cultural, do trabalho infantil, do abandono escolar e do isolamento geográfico. Fez de si mesmo um milagre estatístico. Em um país que joga fora a maior parte de seu potencial humano, resistiu. Ele representa um triunfo do talento, um triunfo da vontade, um caso em um milhão. Sua história ajuda a retratar – pelo reverso – a tragédia do desperdício humano brasileiro. Quantos Gilbertos haverá por aí, perdidos, vivendo abaixo de seu potencial?
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