No AMAZÔNIA:
Milhares de mãos em uma corrente de vida que percorre e fortalece aqueles que nela tocam. É assim que podemos descrever a corda do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, maior elemento simbólico da procissão. Puxado pelas mãos de inúmeros fiéis, esse ícone da romaria representa promessas feitas, agradecimentos, graças alcançadas e amor à Virgem Maria. Segurar a corda e conduzir a Virgem até a Basílica Santuário é o maior sacrifício para o fiel que acompanha o Círio de Nazaré.
Homens e mulheres, ricos ou pobres, todos juntos com o objetivo de cumprir o sacrifício prometido. Descalços e cansados, eles arrastam a corda como se a berlinda onde vai a pequena imagem da Virgem de Nazaré, dependesse daquele esforço para prosseguir. Enquanto avançam, os devotos não sentem as dores do sacrifício. O calor intenso, os rostos queimados pelo sol, as lágrimas que escorrem sem razões claras. Uma força imaterial que envolve toda uma multidão. Essa é a corda do Círio, um ícone que liga o espírito de pessoas simples e humildes a uma essência universal. Um símbolo de identificação do povo paraense.
Um povo que caminha na mesma direção, segurando a mesma corda, pisando o mesmo chão e unidos na mesma fé. O objetivo é um só: conduzir a berlinda da Mãe de Jesus até a Praça Santuário. Uma força invisível que resulta da tensão entre o concreto e o simbólico. Corpos em transe que caminham sinuosamente por entre a multidão, velhos ou jovens, brancos ou negros, ricos ou pobres. Por mais que a multidão fosse feita de pessoas diferentes, ali não existe concorrente, e, sim, irmãos na fé.
Um lugar privilegiado, onde todos querem compartilhar. É ali que cenas de fervor e fé atingem o auge. Segurar na corda do Círio, mesmo que por alguns segundos, é algo sagrado para os promesseiros, já que aquele símbolo de fé é quem enlaça a berlinda da Virgem. Apesar do comprimento, a corda ainda é insuficiente para tantas mãos. Dor, sede, mãos que sangram sem enfraquecer, e pés que tropeçam feridos e cansados, mais sempre firmes na caminhada de fé.
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