sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Por que se rouba? Por que se furta?

A postagem Quando vão furtar Belém - a cidade inteira? mereceu o seguinte comentário de um Anônimo:

O povo rouba, sim, porque lhe roubaram a educação. E é certo também que nem sempre se rouba pra se gastar com cachaça. Muitas vezes se rouba porque não há alternativa, o sujeito nem tem o primeiro grau escolar, está desempregado e, se há chance de levar uma peça de metal e vendê-la ele não titubeia, leva mesmo.
Pena que os militares tiveram décadas de poder supremo - até para matar brasileiros - e não se incomodaram em aplicar seus rigores sobre as escolas, militarizando-as, dando condições para que a geração que está aí tivesse condições de ter educação pra não ficar roubando aos ricos suas peças de metal, suas rampas pra seus carros reluzentes, onde dentro levam a vida com a saúde bem cuidada - com plano de saúde caro e inacessível à maioria da população.
Rouba-se muito neste país. Rouba-se até mesmo a educação, a saúde, o oxigênio dos pobres.

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Do Espaço Aberto:
Anônimo, é freqüente esse argumento do roubar “porque não há alternativa”, do roubar porque o sujeito é de “pouca instrução”, porque está desempregado etc.
Anônimo, o roubo estimulado por essas situações deve ser a exceção, e não a regra.
Há, por exemplo, a figura penal do furto famélico, aquela situação em que a pessoa em estado de extrema penúria tem a inadiável necessidade de se alimentar, e com este objetivo, subtrai algo de terceiro.
O furto famélico não é um crime, porque o agente está subtraindo coisa alheia para que ele ou outra pessoa não morra ou sofra lesão física decorrente da inanição.
Mas isso, repita-se, é uma exceção, e não a regra.
Porque há milhares, milhões de desempregados que não roubam.
Porque há milhares, milhões de pessoas que não possuem nem o primeiro grau que não roubam.
Porque há milhares, milhões de pobres que passam por privações terríveis, mas mesmo assim não roubam.
Porque há milhares, milhões que tiveram a “educação roubada”, mas que não roubam.
Não generalizemos, porque é perigoso.
E esse tipo de generalização contribui, inclusive, para reforçarmos certos estigmas de que ladrões – que furtam e roubam – são apenas pobres, desempregados, iletrados, pessoas que enfrentam, enfim, algum tipo de privação.
Afastemo-nos das generalizações, que nesse caso são perigosíssimas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Golaço do E.A.
Sua apreciação é perfeita.