Tzipi Livni pode ser a segunda mulher a ocupar o cargo de premiê. A atual ministra das Relações Exteriores de Israel, Livni, de 50 anos recém-completados, venceu as eleições internas do partido centrista Kadima (em hebraico, significa "Para a frente"), o maior da coalizão que governa Israel. Ela venceu por pequena margem, o equivalente a 1,1%, o ministro dos Transportes, Shaul Mofaz. Pelas regras políticas Israelenses, Tzipi deve ser a futura primeira-ministra, no lugar do demissionário Ehud Olmert.
Antes partidária de um Grande Israel, que incluísse os territórios palestinos. Tzipi se rendeu, influenciada pelo ex-primeiro-ministro Ariel Sharon, à evidência de que a única maneira de Israel preservar seu caráter judaico e democrático é renunciar a pelo menos uma parte dos territórios ocupados desde 1967.
Durante a campanha para a liderança do Kadima, ela chegou a defender o assassinato dos líderes do grupo palestino Hamas na Faixa de Gaza. Afirmou que atacaria o Irã se as ameaças do país inimigo se concretizassem - embora tenha baixado o tom, segundo a mídia local. A escolha entre Mofaz e Livni é, para o cidadão israelense, a escolha entre o uso da força militar e o uso da diplomacia na resolução dos conflitos.
Com um estilo de vida simples, mãe de dois filhos, Tzipi trabalhou para o Mossad, o serviço secreto israelense, entre 1980 e 1984, como especialista em Direito Comercial. Entrou para a política em 1999, pelo Likud, o partido de direita nacionalista. É conservadora, mas não tanto como a americana Sarah Palin, a vice de McCain.
Tzipi Livni quer fazer história como Golda Meir - mas antes precisa vencer muita desconfiança. Se escolhida premiê, será a segunda mulher a ocupar o posto no país. A primeira foi Golda Meir, entre 1969 e 1974. Golda foi a "dama de ferro" antes do epíteto se colar em Margareth Thatcher. Para David Ben-Gurion, fundador do estado de Israel, Golda era "o melhor homem do governo".
O primeiro-ministro Ehud Olmert em entrevista de despedida afirmou que Israel terá de renunciar a grande parte da Cisjordânia e a Jerusalém Oriental se quiser paz com os palestinos - que exigem fundar uma nação independente. Todos esses territórios foram ocupados por Israel durante a Guerra dos Seis Dias, travada em 1967. Israel abandonou a Faixa de Gaza em 2005, mas ainda mantém o controle da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental. O primeiro ministro, que durante seu governo retomou as negociações com os palestinos e com a Síria, também observou que Israel terá que abrir mão das Colinas de Golã caso deseje paz com Damasco.
Olmert sinalizou que Israel manteria "uma porcentagem" da Cisjordânia, mas teria que ceder aos palestinos uma quantidade equivalente de território israelense, pois sem tais concessões "não haverá paz". Ele também afirmou que Israel não poderia manter o controle sobre os mais de 200 mil palestinos que moram ali. Para o deputado Silvam Shalom, do partido Likud (direita), Olmert não passa de um "ingênuo".
A ministra Livni é conceituada, e para isso invoca a árvore genealógica. Para ela, o Estado judaico está intimamente ligado à história de sua própria família. Seus pais estavam entre os primeiros a se casar em Israel, no dia seguinte ao da fundação, em 15 de maio de 1948. O pai Eitan, foi chefe de operações da Irgun, a guerrilha sionista contra a Grã-Bretanha e o mandato palestino. A mãe também militava com armas.
Em Israel, a mudança é sempre bem-vinda, embora ela seja novata em política. Ela gosta de repetir o slogan colado ao seu nome, o de "senhora mãos limpas", por nunca ter sido flagrada em escândalo - fato raro entre políticos de ponta em Israel. Os mais conservadores a consideram suave demais e tem que liderar a nação em tempos de guerra sem parecer boneco do ministro da Defesa, Ehud Barak.
Confirmada a renúncia de Olmert, o presidente Shimon Peres consultará os líderes dos partidos majoritários do parlamento, o Knesset, de modo a escolher um deles como primeiro-ministro. Historicamente, o escolhido é da agremiação com mais assentos (hoje, o Kadima). O eleito terá 42 dias para montar um governo de coalizão. Se fracassar, por desacordo, Peres pode convocar eleições antecipadas, em até 90 dias. Nesse caso, crescem as chances de um representante do partido de direita, o Likud, no acordão israelense.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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