quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Marta pisa na bola e dá tiro no pé

CILA SCHULMAN


Ser mulher não é pra qualquer um. Quando ocupa uma função tradicionalmente masculina então, sai de baixo. Quem quer saber de filho doente, geladeira pifada, botox vencido, marido carente, quando é exigida à rainha do lar eficiência no trabalho?
Não reclamo. Adoro! Sou bem mulherzinha e exerço um ofício de macho. Sei a dor e a delícia de ser o que sou. E também da dificuldade de equilíbrar a imagem das candidatas quando faço campanha de mulher.
Um professor meu, em Washington, resumiu: no Legislativo tudo bem, mas no Executivo, ou a candidata projeta suavidade demais para enfrentar as crises do cargo pretendido, ou é rotulada de "bitch", cadela, essas mulheres assertivas, desagradavelmente fortes. Quem é que quer?
Semana passada, defendi Marta Suplicy (PT) durante uma hora no rádio. Reagi a uma colega que criticou o beijo apressado da candidata no ex-marido no dia da eleição, dizendo que não aceitava "ela ter trocado o Eduardo por aquele argentino".
Certo, o eleitor vota em pessoas, mas não seria a rejeição gigante de Marta fruto de preconceito? Se ela fosse um homem arrogante, ainda assim seria tão odiada? Quanto homem que bate em mulher é eleito e ninguém tá nem aí?
Marta é um ícone para nós mulheres. A moça que nos anos 80 falava de sexo na TV. A guerreira que venceu o machista Paulo Maluf e chegou à Prefeitura de São Paulo. A mulher madura que largou um casamento falido para assumir o novo amor, contra tudo e contra todos. A defensora dos fracos e oprimidos, incluindo os gays. A mãe que criou os filhos para a vida, sem julgamento.
A candidata que agora está curiosíssima para saber se o adversário Gilberto Kassab(DEM) é casado, tem filhos, com a desculpa de que ele não abordou o assunto no programa eleitoral. E ela? Mostrou o novo marido na televisão? Não, nesta campanha só quem apresentou a família foi o fervoroso católico, o caretão, o nada cosmopolita Geraldo Alckmin(PSDB).
Foi mal, Marta, muito mal. Porque o candidato pode tudo, só não pode apontar nos outros a fraqueza que ele mesmo possui. Fica com cara de oportunismo, causa dicotomia.
Pior ainda foi culpar seu marqueteiro. Que atitude tosca. Melhor seria você assumir o erro, amiga, como fez no "relaxa e goza", e tentar recuperar sua dignidade. Sei que é difícil imaginar que haja vida depois das eleições. Mas ela continua, que o digam os 278.690 candidatos a prefeito e vereador derrotados nesta campanha.
Como no jogo de vôlei, ganha a eleição quem erra menos. E desta vez, Marta, você errou feio. Foi além: manchou sua história ao colocar na roda o tema da sexualidade, quando o que se discute é a cidade. Justo você, esta mulher.

--------------------------------------
CILA SCHULMAN é jornalista e coordenadora de comunicação e estratégia de campanhas eleitorais.
Artigo e foto disponíveis no Blog do Noblat

Um comentário:

Anônimo disse...

Com esse currículum todo, me escreve um artigozinho micha. Marta nunca desbancou Maluf, o contexto sim. Não criou os filhos para o mundo, deixou que o mundo os criasse. Não deixou um casamento falido, despensou uma conveniência da qual achava não mais precisar. Não foi irreverente ao falar de sexo na tv nos anos 80, foi mais uma vez oportunista. Mandou o Brasil inteiro se f... com seu relaxa e goza. Não é taxada injustamente de vaca, se porta como uma. O Brasil está tendo a feliz oportunidade de ver quem é essa mulher antes de correr o risco de tê-la apoiada por lula ao pleito presidencial próximo. Ufa! Escapamos por pouco.