sábado, 25 de outubro de 2008

A história de um namoro trágico

Na ÉPOCA:

“Lindemberg disse que, se eu não me afastasse de Eloá, mataria nós dois.” A ameaça foi feita ao estudante Paulo Henrique da Silva, de 15 anos, cerca de duas semanas antes do assassinato de Eloá Cristina Pimentel. Liso, o apelido de Lindemberg Alves, de 22 anos, cruzou o caminho de Paulo na periferia de Santo André. O adolescente foi surpreendido quando voltava para casa depois de uma partida de futebol. Liso parou sua moto, uma CG 125, e o intimidou. Ele sabia que Paulo e sua ex-namorada, amigos desde a 5ª série, estavam “ficando”. Esse foi o indício mais forte das intenções homicidas de Lindemberg. Ele não se conformava com as negativas de Eloá de reatar o namoro de quase três anos.
Lindemberg também procurou a ex-namorada na saída da escola. A conversa terminou em agressão. Ele deu um soco nas costas de Eloá, que se desequilibrou e caiu no meio da rua. Foi a primeira vez que a estudante contou às amigas e aos pais ter apanhado de Liso. A princípio, ninguém acreditou. A mãe de Eloá, Ana Cristina, a levou ao apartamento de Lindemberg para esclarecer a história. Ele negou ter batido na ex-namorada e classificou o episódio como uma briga que terminou com um empurrão.
Ana Cristina, a Tina, não se convenceu e cogitou ir à delegacia denunciar o rapaz por agressão. Recuou a pedido do marido. “Aldo disse que Lindemberg era uma boa pessoa e não conseguiria mais emprego com ficha suja”, afirma a agente de saúde Simone Morais Duarte, a amiga que hospedou a família de Eloá em casa durante o seqüestro.
Aldo, o pai de Eloá, considerava Lindemberg como um filho. Mas tinha outro motivo para se manter longe de delegacias. Em São Paulo, ele usava documentos falsos. Aldo José da Silva é um disfarce. O pai de Eloá se chama Everaldo Pereira dos Santos. Ex-policial militar, ele é suspeito de integrar um grupo de extermínio em Alagoas. Foragido desde 1993, foi reconhecido pela polícia alagoana ao ser flagrado pelas câmeras de televisão durante o seqüestro da filha. Segundo Simone, ele nunca contou aos filhos nem aos amigos que fez em Santo André sobre o passado. “Ninguém desconfiava que ele tinha sido policial, muito menos foragido da Justiça”.
Com o assassinato de Eloá e a repercussão nacional do caso, o passado de Everaldo ressurgiu. Com medo de ser preso – ou, segundo a família, morto em uma operação de “queima de arquivo” por conhecer detalhes de crimes ocorridos nos anos 1980 e início dos 1990 –, Everaldo nem sequer foi ao velório da filha. Até a tarde da sexta-feira, ele não havia se apresentado à polícia. E seu paradeiro permanecia desconhecido. Entre os crimes de que Everaldo é suspeito está o assassinato do então delegado Ricardo Lessa, irmão do ex-governador de Alagoas Ronaldo Lessa. A Guarda Civil de Santo André calcula que pelo menos 36 mil pessoas estiveram no cemitério para acompanhar o velório e o enterro de Eloá. Poucos eram parentes e conhecidos da adolescente. A grande maioria foi ao cemitério porque acompanhou o seqüestro pela TV. “Há pessoas que entraram na fila para ver o corpo três vezes”, disse um dos PMs responsáveis por organizar a multidão. Mulheres erguiam crianças para que elas pudessem avistar Eloá. Jovens fotografavam a morta com o celular. Uma mulher, na faixa dos 50 anos, abriu os braços para o policial militar e reclamou do tempo escasso: “Nem deu para ver direito”.

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