O boi bate as asas. Está pronto para tentar alçar vôo.

O boi está prestes a avuar na política paraense. Por enquanto, bate as asas. Se vai avuar, são outros quinhentos.
Como o momento é de muitas especulações sobre os conchavos pré-eleitorias, uma especulação em especial fortaleceu-se bastante nos últimos dias. Dá conta de que PSDB e DEM, com interlocução a cargo do ex-governador tucano Simão Jatene, e PMDB, pela voz de seu presidente regional, deputado federal Jader Barbalho, estariam ensaiando uma aliança para as eleições municipais de outubro.
Os termos do acordo: Jatene para prefeito, com Valéria Pires Franco na vice, em chapa que contaria com o apoio do PMDB. Em contrapartida, o deputado Manoel Pioneiro, o tucano pré-candidatíssimo a prefeito de Ananindeua, município que já governou, desistiria de disputar a prefeitura do município vizinho a Belém com Hélder Barbalho (PMDB), o prefeito que está pronto para encarar a disputa pela reeleição.
- Mas já combinaram isso com o Pioneiro? –indagou o poster quando ouviu o relato no último final de semana.
- Ainda não. Mas ele ainda vai saber – responde quem afirma que já viu e ouviu as primeiras batidas nas asas do boi.
Pioneiro, no momento, é o russo da história.
Conta-se que o técnico Feola chamou Garrinha, na Copa de 1958, e deu mais ou menos a seguinte instrução.
- Mané, vão pegar a bola no nosso meio-campo e esticar um passe lá para a ponta-esquerda. O ponta vai cruzar para o meio da área, um zagueiro adversário vai cortar, alguém do nosso time domina a bola e dá o passe a você. Você pega a bola, dribla uns três ou quatro e faz o gol na Rússia. Só isso.
E o Mané, sábio como ele só:
- Mas, professor, já combinaram tudo isso com os russos?
Pois é. Pioneiro, o russo, seria avisado da aliança mais tarde. Mas há um fato concreto que confere algum sentido à aliança que se especula: trata-se do fato de que o deputado tucano, até agora, está inelegível, porque já teve as contas de dois exercícios seus – da época em que era prefeito de Ananindeua – rejeitadas pela Câmara Municipal.

Contas rejeitadas
O deputado tucano sabe – e isso foi ontem confirmado por uma bem informada fonte do PSDB – que esse é um entrave judicial que não será fácil de remover. E mais difícil ainda será a remoção dos obstáculos políticos, uma vez que a Câmara tem maioria de vereadores que formam a base de apoio do prefeito Helder Barbalho.
É certo, todavia, que aferições preliminares indicam que Pioneiro, numa disputa direta com Helder Barbalho, teria amplas condições de voltar à prefeitura de Ananindeua, hipótese que Jader – muito mais do que seu filho – sequer cogita. Uma eventual derrota de Helder no pleito de outubro faria naufragar os planos de Jader de vitaminar a carreira do filho para que este, mais cedo do que muitos imaginam, esteja pronto para disputar o governo do Estado.
As negociações entre PSDB/DEM e PMDB já teriam até mesmo alcançado ares de alguma concretude, expressos inclusive na orientação da cúpula tucana para que uma vereadora do PSDB em Ananindeua baixasse um pouco os decibéis de suas críticas ao prefeito Helder Barbalho. A mesma fonte tucana que admitiu ser uma preocupação real de Pioneiro a possibilidade de ficar judicialmente impedido de concorrer às eleições de outubro também admite que o sonho, entre vários segmentos do próprio PSDB, é a formação de uma chapa que tenha Jatene como candidato a prefeito e Valéria como vice. Seria a volta de uma dobradinha para repor no cenário do poder, desta vez no âmbito municipal, os dois políticos que governaram juntos o Pará durante os quatro anos que antecederam o governo petista.
Mas o tucano garante – e sobre isso chega muito perto de jurar – que Jatene e Jader não tiveram até agora qualquer conversa sobre o assunto. Se estão com vontade de conversar, ninguém sabe. E se entre a vontade de conversar – se é que a têm – e a conversa, aí mesmo é que é difícil fazer previsões.
Por isso é que, por enquanto, o boi apenas bate as asas. Precisamos captar seus movimentos e seus sinais.