Quem gosta de futebol lembra-se bem dele.
Lembra-se de Fiori Gigliotti. Era narrador. Aliás, não era bem isso: era um craque da narração esportiva. Morreu em junho de 2006, já na condição de comentarista da Rádio Capital, em São Paulo.
Quando o jogo começava, Fiori, voz empostada, emoção à flor do gogó e português corretíssimo, dizia exatamente assim: “Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”. O jogo avançava, um das equipes precisava fazer um gol e Fiori pontuava: “E o tempo passa...”.
Fiori Gigliotti, se vivo fosse, bem que poderia narrar esta disputa na Uepa como se fosse um espetáculo – de má qualidade, de trombadas, esbarrões e muitas faltas.
Pois agora “abrem as cortinas e começa o espetáculo” de mais um capítulo desta novela que se tornou o processo de escolha do reitor da Uepa, paralisado desde 15 de janeiro passado, quando o juiz Charles Menezes Barros concedeu liminar a pedido de Sílvio Gusmão, o primeiro colocado, alegando que Bira Rodrigues, o segundo, teria sido habilitado de forma fraudulenta a concorrer ao pleito.
Qual é a nova fase? É a fase do espetáculo das especulações e das pressões políticas, que voltam a ser reaquecidas depois de um período de esfriamento, iniciado quando a contenda passou a ser travada no Poder Judiciário, onde tramitam duas ações relativas às eleições (aqui e aqui), e no Ministério Público, destinatário de duas representações, uma de cada candidato (aqui e aqui).
Agora, especula-se que a governadora Ana Júlia Carepa estaria propensa a descartar a nomeação de Bira - o preferido de dez entre dez petistas que circulam em torno da chefe do Executivo e, presume-se, dela própria -, por entender que a nomeação do professor seria prejudicial ao governo neste momento.
Há outra especulação à vista: a de que Ana Júlia estaria convencida de que a saída menos desonrosa para o caso Uepa seria nomear um reitor pro tempore, uma vez que não se sabe quando o Judiciário vai sentenciar a ação declaratória de nulidade do resultado do pleito para reitor na instituição.
O assanhamento geral
Em meio a tantas especulações, o que fazem os partidários de uma e outra solução? Assanham-se. E assanham-se de uma tal forma que ou se confundem – e aí demonstrariam não saber o que querem – ou deliberadamente tentam confundir os outros – e aí tentam pôr à prova quem possua um mínimo de bom senso.
Vejam só.
Ontem à noite, começaram a postar comentários no post Disputa na Uepa faz estrago no interior do Estado. Estão lá na caixinha. Podem conferir. São curiosíssimos. Dizem coisas assim, por exemplo:
“A comunidade da Uepa iniciou um movimento pela moralização da Uepa.” Você suspira fundo e festeja: Oba! Enfim, uma luz no fim do túnel.
Aí lê-se o trecho seguinte do comentário:
“Na quinta-feira, mais de trinta pessoas que incluíram professores, alunos e técnicos da Uepa se reuniram em frente ao Palácio dos Despachos em um ato público e foram recebidos pela governadora do Estado Ana Julia para ser entregue a ela documentos assinados pela comunidade pedindo a nomeação da chapa Bira e Jofre. Estes documentos revelam os reais vencedores do pleito eleitoral na Uepa, que foi a chapa representada pelo Prof. Bira e pelo Prof. Jofre e que o resultado divulgado na mídia foi forjado pela montagem de um regimento eleitoral que permitiu uma interpretação equivocada da fórmula de proporcionalidade utilizada e incherto (sic) de votos de funcionários...” – e por aí vai. Leia você mesmo lá na caixinha o restante.
Tem mais outro comentário. Ei-lo:
“A governadora Ana Júlia recebeu na quinta-feira passada uma comissão formada por membros da comunidade da Uepa, que incluiu representantes do Conselho Universitário, dos sindicatos de técnicos e do movimento estudantil, que entregou documentos relatando as mazelas e meios antidemocráticos utilizados pela atual gestão da UEPA para eleger o candidato da situação Silvio Gusmão. A governadora se comprometeu a fazer uma avaliação minuciosa do que ocorreu neste processo eleitoral. Acho que foi um aceno para indicar um reitor pro tempore isento e idôneo que pudesse fazer uma auditoria deste conturbado processo, livre de pressões políticas, para que diante destas informações ela se sinta assim mais segura para indicar o novo reitor da Uepa.”
Vocês acham que faz sentido? Não faz. Com todo o respeito aos contendores da Uepa (os que torcem pelo professor Gusmão, os que torcem pelo professor Bira e os que torcem – ou já torceram – pelo professor Palácios), ninguém aí pode falar em moralização. Ninguém. Por quê? Porque ninguém possui a isenção mínima para fazê-lo. E todos têm participação direta neste espetáculo deprimente, que começou com a aprovação de um regimento eleitoral gracioso – além de equivocado e que induz a cambalachos e interpretações dúbias -, passou por um processo eleitoral marcado por disputa política que não dignificou a Uepa e termina assim – com pressões políticas, acusações, ações judiciais e representações no Ministério Público.
Há fortes acusações do professor Gusmão contra o professor Bira e vice-versa. O reitor atual também tem sido alvo de críticas e acusações fortíssimas, algumas, inclusive, com publicação não autorizada na caixa de comentários do blog, por ofenderem diretamente a honra inclusive de outras pessoas que não têm participação direta na disputa. Como, portanto, falar em isenção?
Se a governadora Ana Júlia quiser mesmo resolver esta situação, talvez não tenha outra alternativa que não indicar realmente um pro tempore e, quem sabe, até mesmo anular estas eleições.Enquanto, como diria o saudoso Fiori, “e o tempo passa...” O tempo passa, e a Uepa se desgasta. Mais e mais.
2 comentários:
Caro Paulo uma coisa eu realmente concordo com você o processo todo já começou errado com o regimento eleitoral que não foi gracioso não, mais muito bem montado para favorecer uma das partes. Este Regimento Eleitoral foi votado no Conselho Universitário em uma reunião marcada as pressas, onde só os partidários do Silvio Gusmão sabiam antecipadamente da mesma e conpareceram em massa. Portanto este conselho que era para ser representativo de toda a comunidade universitária não cumpre com esta função, pois é constantemente manipulado e muitas vezes atropelado com resoluções ad referendum. Nesta reunião o Prof. Jofre que nem era ainda candidato juntamente com outros professores, defenderam que a eleição fosse feita pautada principalmente em debates já que tratava-se de uma eleição em uma academia e que fosse evitado grandes gastos que fossem influenciados pelo poderio econômico. Defenderam também que quem ocupasse cargos de chefia na UEPA se afastassem durante o periodo das eleições para que fosse evitado o uso da máquina administrativa. Que só votassem funcionários do quadro efetivo da UEPA. Todas essas propostas foram rejeitadas por este Conselho. Se a comunidade fosse ouvida em relação a estas questões com certeza decidiria por um caminho mais democrático que desse condições de igualdade para todos os candidatos e para fazer que as eleições da UEPA fosse a escolha livre de uma posição consciente, sem nenhum tipo de coação ou influencia do poder econômico, e assim talvez evitassemos toda essa celeuma que se criou. Mas acredito também que já era hora da sociedade saber o que acontece atrás dos muros da UEPA. É necessário que mesmo após estas eleições se travem mais debates sobre o papel desta instituição para o desenvolvimento do Estado, sua relação com o poder executivo, sua autonomia e uma possibilidade de maior participação maior da comunidade daa UEPA na gestão.
Sem dúvida, Anônimo.
A Uepa precisa sanear-se. Se aproveitar essa crise toda para sanear-se, sairá engrandecida.
Porque a Uepa não é do professor Gusmão, do professor Bira, do professor Palácios, do PT, do PSDB, do PMDB - de ninguém. Deve ser de todos.
Na Uepa, como em qualquer academia, as pessoas podem e devem ter suas preferências e convicções. Podem e devem externá-las. Podem e devem divergir, discordar, debater. Porque lá um espaço onde o confronto das idéias, das preferências e das discordância deve temperar sempre a vida acadêmica.
Quando isso se transforma em politicagem, no exercício indevido de poderes, nos "acertos de contas" entre grupos e grupelhos políticos, então chega-se ao nível da sarjeta.
É onde a Uepa se encontra. Deploravelmente.
Vou postar seu comentário na ribalta, acompanhado do comentário do blog.
Um bom domingo pra você. E tire a Uepa de sua sobremesa (rsssss).
Abs.
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