segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Cenário de "apolitismo"



Para construir uma democracia, deve-se avançar no combate às mazelas estruturais do Estado brasileiro. Desde o início da República, os brasileiros assistem à distância aos processos políticos do país - muitas vezes regados a corrupção. Um grande erro, diria Aristóteles, pois, segundo ele, só se constrói uma organização social e política justa com participação dos cidadãos. O homem só pode alcançar a chamada felicidade virtuosa individual ou coletiva por meio da participação na discussão dos problemas das cidades.
Aquela velha história: "Política, futebol e religião não se discutem"; "Não gosto de política"; "É tudo igual, as mesmas caras e nenhuma proposta nova". Em ano de eleição, o Brasil volta a ouvir de seus eleitores lugares-comuns como os dessas frases, que expressam, por um lado, o cansaço em relação aos escândalos por corrupção, sempre presentes nos noticiários, e, por outro, que denotam a falta de interesse e de cultura política que possibilitem uma ação concreta diante da indignação.
Contudo, essa falta de informação e de cultura política, em parte resultados de uma educação cada vez mais sucateada e do descrédito dos políticos - o que leva a uma sensação de "homogeneização corrupta" que envolve as mais variadas siglas partidárias, ou seja, a ideia de que todos são rapinas e vão continuar repetindo os erros de seus antecessores, e que, portanto, nada vai mudar -, a centralização das atividades administrativas e das decisões políticas em palácios fechados e inatingíveis, mesmo que somente ao imaginário da população, fazem desta uma esfera da vida que pouco ou nada diz à sociedade brasileira no dia a dia.
Além disso, as frases supracitadas revelam também o desinteresse do brasileiro, de modo geral, em relações às questões que envolvem a participação política. O cenário político brasileiro e o que cada termo do vocabulário político realmente significa demonstram o enorme disparate entre o real e o ideal, o que é e o que deveria ser, o modo como se faz a administração da "coisa pública" no Brasil.
Ademais, é preciso pensar na crítica ao individualismo para que os homens possam sair do caos no qual nossa época mergulha. Uma das faces desse caos é, em nosso país, a grande descrença e a falta de norte para os brasileiros em relação às instituições públicas, principalmente aos candidatos que apresentam novamente seus mesmos rostos e seus "projetos" que, como por milagre, resolveriam todos os problemas que assolam a nação. Somado a isso, o verdadeiro show do chamado "horário eleitoral gratuito" torna o processo eleitoral um palco de teatro de comédia. E como conciliar o individualismo que assola a era atual e a política brasileira?
O individualismo está presente naqueles que se dizem "representantes dos anseios da população", os próprios políticos. Ao cometerem atos ilícitos com dinheiro público, não estão considerando o mal que fazem àqueles que não terão esses recursos à disposição. Porém, o individualismo não atinge somente candidatos a cargo administrativos, mas também à sociedade brasileira. Alienados e desinteressados, em parte somos todos vítimas de um processo que nos fez ficar à margem da construção de nossa história política.
Na verdade, a política deve prestar um serviço à sociedade, e não um desserviço, como vemos muitas vezes na cultura brasileira. Porém, a ausência ou a deturpação da ideia de autoridade, de participação política, de fiscalização tornam o cenário lastimável. O brasileiro está extremamente imerso nesse cenário de "apolitismo".

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Uma das coisas que mais me espanta nesta campanha política, é a falta de criatividade das empresas que cuidam do texto dos candidatos a vereador. Uma das pérolas que aparecem, são as mesmas de mil novecentos e carne assada, vejam: ”você me conhece”, nunca vi o cara mais gordo e nem mais magro. “em mim você pode confiar”, nem o CPF dele foi fornecido. “Eu sou a... do bar, para uma vida melhor das crianças”, deveria logo tirar o bar do apelido, e fechar o estabelecimento, pelo menos já ajudaria na campanha. “sempre lutei pelos pobres e mais carentes”, juro que pensei no Batman e no Superman, nem capa ele tinha e muito menos apareceu em revista em quadrinhos. “Venho pedir uma oportunidade para ser vereador, vote numero...”, já deu pra notar que o candidato só quer o salário. Um cara aparece com um olhar bizarro, e ainda com um gorro de Papai Noel, nesse nem criancinha confia. Vejo a campanha ,apenas para me convencer de que o mundo ainda é mundo e de que nem Freud explica.