sexta-feira, 2 de julho de 2010
Por que não o metrô do Cariri?
Pesquisadores, estudiosos, técnicos e especialistas em transportes reuniram-se durante três dias, no Hangar, em Fórum de Transporte sobre a Região Metropolitana de Belém, para debater mais uma vez a caótica situação do trânsito e do tráfego na cidade. Os diagnósticos são quase os mesmos, desde a década de 80, quando os então jovens técnicos da Agência Internacional do Japão (Jica) elaboraram minucioso estudo técnico sobre os problemas do transporte na área metropolitana, apontando também as soluções mais adequadas, como a abertura de novos corredores de tráfego, construção de terminais de integração, adoção de corredores exclusivos para ônibus no canteiro central da Augusto Montenegro, BR-316 e Almirante Barroso, além da construção de anéis viários no Entroncamento, no Largo de São Brás e na confluência da avenida Pedro Álvares Cabral com Júlio César.
Previam também o prolongamento da avenida João Paulo II até Marituba, além da construção de ciclovias em todos os principais corredores de tráfego, além do deslocamento da Estação Rodoviária de São Brás para área além do “gargalo” do Entroncamento. Eles também indicavam um modelo de ônibus mais adequado para o transporte urbano, no estilo “papa-filas”, hoje ultrapassado com a adoção do metrô de superfície nas grandes metrópoles. De quebra, ainda fizeram uma previsão, que soa hoje como terrível profecia que se cumpre: a de que Belém poderia parar até 2010, caso nada fosse feito em termos de obras e serviços essenciais para normatizar o tráfego e descongestionar o trânsito.
Como quase nada foi feito desde então e o que foi feito, com exceção do elevado de quatro pétalas da Pedro Álvares Cabral com Júlio César, o foi de maneira incipiente, sem qualquer planejamento urbano ou viário, como aquele viaduto da Bandeira Branca, que mais parece um "autorama" gigante ou aqueles dois túneis que alagam no Complexo do Entroncamento, obras cosméticas e caras, verdadeiros monumentos ao desperdício do dinheiro público.
Diagnósticos e estudos não faltam. O que tem faltado, na verdade, é ação proativa de planejamento e execução de obras e serviços necessários e inadiáveis desde 1985, de quando data o PDTU dos japoneses. Com a municipalização do trânsito, a partir de 1988, havia a expectativa de que a descentralização de tarefas relativas ao planejamento do tráfego e gestão do trânsito, entre o Detran e a CTBel, fosse positiva. Ledo ivo engano. O que se constata, hoje, é o quase total imobilismo do Detran e a ação ineficaz e predatória (ao bolso do cidadão) da Ctbel, que se limita a azeitar sua máquina de fabricar multas e gerar renda. Renda que não é devolvida em serviços de melhoria do caótico e neurótico trânsito de Belém. E assim se passaram 20 anos de omissões dos agentes públicos eleitos para gerir a “coisa” pública, mas que preferem administrar a “privada”, de preferência com o dinheiro público.
Outra "obra cosmética" foi o "rasga" no Conjunto do Basa, que é emblemática da incompetência abissal da gestão do Dudu. A ligação da Primeiro de Dezembro seria mais eficaz á altura do Complexo do Entroncamento, onde deveria ter sido construído o anel viário, não aqueles dois túneis que alagam quando chove. Enquanto não se resolver o "nó" do Entroncamento, o trânsito da cidade continuará engessado, caótico e neurótico. A única solução possível, hoje, ali, seria a construção dos elevados por cima dos túneis.
A "fadiga" do trânsito de Belém , com engarrafamentos diuturnos, principalmente na Almirante Barroso, se deve ao fato de ser aquela via ainda o único corredor de tráfego de entrada e saída da cidade, desde a década de 60, quando ali ainda haviam vacarias, sítios e sedes campestres de clubes. Hoje com quase dois milhões de habitantes em sua área metropolitana e com uma frota aproximada de 250 mil veículos "leves", fora os coletivos e os "pesados" que entram e saem, a cidade está parando. As ruas de uma cidade são como as artérias do corpo humano. Quando entopem acontece o colapso. É o caso do trânsito de Belém. Houve muito diagnóstico, muito debate, muita omissão de socorro, mas quase nenhuma medicação preventiva.
Algumas medidas básicas para administrar o caos estabelecido continuam sendo proteladas, como a redução do número de ônibus que demandam o centro da cidade, a adoção do bilhete único de passagem em terminais de integração, além do deslocamento do Terminal de São Brás para outra área, de preferência na nova Avenida Independência, não mais no Entroncamento, porque ali apenas aumentaria a balbúrdia no "Complexo do Caos".
Ouso discordar das conclusões dos eminentes autores do “Projeto do Sistema Integrado de Transporte na Região Metropolitana de Belém” , coordenado pelo "lua preta" Marcílio , do Ação Metrópole, apenas no que se refere ao estudo de viabilidade econômica ter indicado o ônibus e não o metrô de superfície como a melhor opção de matriz do novo sistema de transporte coletivo para Belém.
Ao ser excluída do eixo da Copa de 2014, Belém também perdeu a grande chance de ser contemplada com verbas federais para modernização de seu sistema viário urbano, a exemplo do que vai ocorrer com as 12 cidades escolhidas como subsedes da Copa. Todas serão dotadas de metrô de superfície, a solução mais moderna para a crise do transporte coletivo nas grandes cidades.
Concordo que em Belém não seria viável o metrô subterrâneo convencional, pois teria que ser operado com barcos e bóias... Porém o metrô de superfície não só é mais viável economicamente, como também a alternativa mais adequada e moderna. Os Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs) fariam o transporte de massa interligando as cidades da área metropolitana de Belém, utilizando os canteiros centrais de corredores como a BR-316, Rodovia Augusto Montenegro e Almirante Barroso até São Brás, onde deveria ficar o terminal de integração com os ônibus, com bilhetagem única.
O modelo indicado para Belém seria o mesmo que está sendo adotado em Manaus. Trata-se de uma versão compacta do metrô de superfície (Veículos Leves sobre Trilhos), misto de metrô e ônibus, no estilo papa-filas. Cada um transporta 270 passageiros, o que equivale a quatro ônibus lotados. Os modelos a diesel poluem 93% menos que os ônibus convencionais enquanto os elétricos nada poluem. Também emitem 75% menos ruídos e consomem apenas 10% da energia ou combustível que os ônibus comuns. Talvez essa opção só não seja "bem vista" pelos donos de ônibus que, por sinal, julgando-se também os donos da cidade, não aceitam mudanças no sistema viário urbano de Belém.
Sabem onde são fabricados os VLTs? Não, não é na Europa, nem nos Estados Unidos, nem no Japão, nem em São Paulo. Eles são produzidos, em série, logo ali no sertão do Cariri, por uma empresa cearense "arretada" de eficiente, a "Bom Sinal". Ela já atende encomendas de 50 prefeituras de capitais e do interior, algumas bem menores que Belém, que estão pegando carona na modernidade para resolver a crise em seus sistemas viários urbanos.
Enquanto isso, continuamos convivendo com expoentes da cultura do atraso, como os sinais de quatro tempos, as "tartarugas" como marcadores de faixas "exclusivas" para ônibus, os alternativos piratas com seus profetas do caos pegando passageiros no meio das ruas, as bicicletas sem placas andando na contramão das ruas e do bom senso, atropelando e matando vítimas inocentes, notadamente os idosos. Um cenário mal resolvido de uma cidade sem governo e sem lei, uma espécie de "Nova Déli" tropical, como a chamava em seu concorrido Blog Quinta Emenda o saudoso colega jornalista Juvêncio Arruda Câmara, o Juca, que tanta falta tem feito na paisagem humana/urbana de Belém, cada vez mais degradada pela ação predatória das construtoras de "torres de marfim" e de um prefeito anão, que só pensa "naquilo", ou seja, em "faturar", não importa como, mesmo privatizando as ruas da cidade, a água e agora até os sonhos dos autênticos e históricos militantes do PT paraense que ainda acreditavam que um novo mundo seria possível quando seu partido chegasse ao poder...
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FRANCISCO SIDOU é jornalista
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2 comentários:
Concordo plenamente com você, Francisco. Hoje o que se vê é um caos institucionalizado pelo Governo do Estado e Prefeitura de Belém, e tanto Ana Júlia quanto Dudu estão disputando quem fica com o prêmio de pior governo. Sinceramente, acho que dá empate.
O Francisco Sidou é uma das "feras" do "jogo Aberto", na briosa Rádio Tabajara FM , que é de longe o melhor programa jornalístico do Pará. Ele e o carlos mendes são jornalistas diferenciados não só pela competência , mas pela ética e pela maneira educada com que tartam seus entrevistados, mesmo sem "refrescar" nas perguntas...
Ou seja, eles praticam o verdadeiro jornalismo, sem ter rabo preso com ninguém. Talvez seja por isso que a Governadora Ana Júlia prometeu, mas nunca foi ao programa "Jogo Aberto", porque o ela só goista de dar entrevistas para jornalistas "amestrados", de prefer~encia seus subordinados jornalistas Chapas-Brancas com DAS.
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