terça-feira, 3 de novembro de 2009

Menos gente foi aos cemitérios no finados

No AMAZÔNIA:

Uma visita solitária ou uma reunião de família utilizando ornamentos sofisticados ou adereços simples, de confecção manual. Apenas duas situações dentre tantas encontradas ontem, durante o Dia de Finados, nas necrópoles de Belém. Cemitérios públicos e particulares lotados, confusão no trânsito do entorno dos espaços fúnebres, vendas desenfreadas, reclamação de visitantes e pouca segurança também não faltaram no feriado de 2 de novembro. Até fila para saborear o famoso cafezinho foi formada em um cemitério particular no bairro do Tapanã. A manhã ensolarada favoreceu, além dos visitantes, centenas de vendedores - que expuseram os mais diversos produtos, e em alguns casos de forma bem criativa. Boa parte dos cemitérios se preparou para receber milhares de pessoas. O reforço na limpeza e na segurança foram os pontos mais importantes para os administradores das necrópoles. No entanto, em alguns lugares, as reclamações foram constantes e unânimes.
Para a dona de casa Nazaré Pinheiro, o Cemitério Municipal do Bengui pode ser classificado como abandonado. 'O mato está muito alto, a sujeira tomou conta, e não está nada fácil achar uma sepultura. Além disso, vive tendo assalto neste lugar. Agora mesmo, observei que há inúmeros adolescentes lá no fundo do cemitério. Quem passar por perto, eles assaltam mesmo', garante. Nazaré afirma que as equipes da Polícia Militar e da Rondac (Rondas da Capital da Guarda Municipal de Belém) não fazem uma ronda interna, o que facilita os assaltos. 'Eles (policiais) ficam somente aqui na porta, enquanto que lá nos fundos os assaltantes estão fazendo a festa', critica. A aposentada Joana Silva, que foi ao cemitério com a família visitar a sepultura do marido, reclama do matagal e da sujeira presentes em todo o cemitério. 'Nada aqui funciona. Não é fácil encontrar os túmulos, não há livro de registros e nem o teto da capela os bandidos livraram', afirma.
Segundo informações do Dane (Departamento de Administração de Necrópoles da Secretária Municipal de Administração - Semad) o Cemitério Municipal do Bengui está desativado desde 1997, e possui cerca de 50 mil sepulturas. A direção do Dane informa ainda que foi reforçada a equipe de limpeza, assim como o efetivo policial, para garantir a segurança de aproximadamente 3 mil pessoas que estiveram no local.
Tapanã - O alto número de reclamações também foi comum no cemitério municipal do Tapanã - desta vez, provocada pela confusão no trânsito de veículos e pedestres nas vias do entorno do espaço fúnebre. O cemitério do Tapanã possui mais de 30 mil sepulturas, e segundo informações do Dane, cerca de 20 mil pessoas visitaram o local durante todo o dia de ontem. O número de vendedores dentro e fora da necrópole chamou a atenção - e foi um dos causadores do movimento desordenado no trânsito da área. Dezenas de barracas com vendas de assistência póstuma foram montadas na entrada do cemitério - que também foi tomada por comerciantes de flores, bebidas, velas, ornamentos e comida. A vendedora Zilda Nascimento reclama da concorrência e afirma trabalhar no mesmo lugar há 27 anos. 'Eu estava grávida do meu penúltimo filho quando comecei a vender flores aqui na porta do (cemitério do) Tapanã. Hoje, ele tem 27 anos e me ajuda a comercializar', lembra. Zilda vende flores naturais e artificiais, além de coroas e botões de rosas e outros ornamentos que ajudam a decorar a sepultura. 'Sustento a casa vendendo flores aqui o ano todo. Tem enterro quase todo santo dia, e às vezes acontecem, no mesmo dia, até cinco sepultamentos', revela.
A dupla de amigos César Silva e Edilson Costa, o Didi, faz trabalhos de pintura no dia-a-dia. Neste feriado de finados, os parceiros aproveitaram a profissão para aumentar a renda familiar. 'Estamos ornamentado os túmulos, fazendo uma decoração conforme o gosto do cliente', comenta Didi. Com inúmeros crucifixos descoloridos, feitos de madeira, os jovens fazem pinturas nas peças e vendem a R$ 5,00 cada. 'Este ano a concorrência está grande, por isso estamos com dificuldade para vender. Lembro que no ano passado, antes do meio-dia, eu já tinha vendido quase tudo', diz. A dupla trabalha no feriado de Finados há quatro anos. 'É melhor vender adereços do que pular o muro para assaltar, como muitos estão fazendo. Vamos até o final do dia, sem almoço, só com um lanche. Temos fé em Deus que vamos ser bem sucedidos', relata.

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