Por TALITA BEDINELLI, da Folha de S.Paulo
Raimundo era gago desde criança, mas ninguém percebia. É que logo que descobriu o problema e as primeiras gozações começaram, criou uma técnica de disfarce: estendia as letras que seriam repetidas na gagueira.
"Não po-po-de dizer" virava "não pooode dizer", exemplifica o irmão Lúcio. Já tinha trauma porque antes de ser gago trocava as palavras.
Era chamado pelos seis irmãos de "badi bau a", forma como passava a ordem da mãe: "não pode ir para a rua".
Tornou-se uma criança "tímida e bastante observadora". Já na adolescência passou a se expressar por meio da escrita e virou jornalista, profissão do pai e de três dos irmãos.
Começou no jornal "A Província do Pará" e tornou-se correspondente na Amazônia para "O Estado de S. Paulo", conta Lúcio.
Ganhou dois prêmios "Esso" na década de 1970 e virou presidente do Sindicato dos Jornalistas do Pará.
Gostava de contar como escapou da morte, aos 25 anos: deveria viajar em um avião teco-teco para o Amapá, onde havia acontecido um naufrágio. Raimundo se atrasou e acabou perdendo o voo. A aeronave caiu e nenhum dos ocupantes sobreviveu.
Morreu aos 56 na última quinta-feira, em decorrência de um câncer no estômago descoberto há três anos. Deixou a mulher e três filhos.
A missa de sétimo dia será na quarta-feira, mas a família ainda não havia definido um local até a noite de ontem.
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