terça-feira, 22 de setembro de 2009

Hélio Gueiros não deve fazer graça com coisa séria

Hélio Gueiros - acima, no traço de J.Bosco - deu uma entrevista ao Blog do Vic.
É sempre interessante ler Hélio.
É sempre interessante ouvi-lo.
Na sua linguagem coloquial – que às vezes beira a linguagem desabrida, insolente, debochada -, Hélio Gueiros não raro chega a divertir.
Mas convém levar a sério certas coisas que ele diz, sobretudo quando o diz num tom, digamos, de despreocupação, num tom meio blasé.
Quando fala nesse tom, Hélio Gueiros minimiza ou omite fatos históricos que não podem ser sonegados.
E mais do que sonegados, são fatos históricos que podem às vezes ser deturpados.
E aí não há graça nenhuma no que Hélio Gueiros diz.
Leiam, por exemplo, as duas perguntas abaixo e as respectivas respostas de Hélio ao Blog do Vic, quando ele se refere ao tom da campanha de 1990, que confrontou as candidaturas de Jader Barbalho e Sahid Xerfan (então apoiado por Gueiros) ao governo do Estado, em pleito vencido por Jader.
Leiam:

Houve uma época em que vocês brigaram, não é?
Hélio Gueiros: Pessoalmente, eu e o Jader nunca brigamos. Agora, ele fez umas declarações, num comício em Castanhal, e eu dei uma cutucada nele também.

Por que vocês se desentenderam?
Hélio Gueiros: Eu mesmo não sei... Acontece que eu era muito jaderista - mas eu sou Hélio Gueiros... Nem sempre eu afinava, pensava a mesma coisa que o Jader. E o Jader aceitava e coisa e tal. Um dia, ele se aborreceu, lá num comício em Castanhal, e rompeu comigo. Levou até um irmão meu, para participar do comício.


O quê?
“Eu e o Jader nunca brigamos” - é isso?
“... Eu dei uma cutucada nele também.”
Nunca brigaram, o senhor e o Jader, doutor Hélio?
O senhor deu apenas uma “cutucada” em Jader, e ele no senhor, doutor Hélio?
Não diga isso, doutor Hélio.
Sua idade e seu status de cidadão que já ocupou praticamente todos os cargos de relevância na vida pública do Pará não lhe permitem dizer isso.
E seu depoimento, precioso para a História, não pode deturpar histórias.
A campanha a que Hélio Gueiros se refere foi marcada por uma das disputas verbalmente mais porcas a que o Pará já assistiu nos últimos anos.
Hélio passou a campanha inteira destilando ofensas a Jader que resvalaram para o campo pessoal.
E Jader retrucava na mesmíssima moeda.
Hélio disse coisas assim: "Jader é um ladrão transitado em julgado". A frase - ou antes uma sentença - foi manchete de primeira página de O LIBERAL, à época. Quem duvidar, basta ir aos arquivos do jornal.
Jader, no seu Diário do Pará, só se referia a Hélio como o "pai dos talentosos", insinuação irônica de que um dos filhos de Hélio prosperou rapidamente em seus negócios com balsas e foi beneficiário de operações supostamente escusas na Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia). Quem duvidar, basta dar uma passadinha nos arquivos do Diário e comprovar.
Em decorrência desse tom - ou dessas "cutucadas", putz! - Jader e Hélio passaram anos rompidos.
Depois, recompuseram-se, porque, como vocês sabem, estratégias de poder desconhecem certas conveniências, certos princípios éticos e certos pudores.
Tudo pelo poder.
Fora isso, confiram os melhores momentos da entrevista de Hélio Gueiros. Mas, do que ele diz, tirem algumas coisas por menos; ou por mais, depende.

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* "A política do Pará é uma coisa até a morte do Magalhães Barata. Até a vigência do baratismo, o paraense tinha opção: ou Barata, ou antibaratista. Depois dele, quem paga um bolozinho muita gente vai atrás. E no tempo do Barata, não: o cara podia botar o dinheiro que botasse na bolsa do sujeito, que o baratista não se vendia; o antibaratista também não. Hoje, você não sabe quem é quem."

* "Aí é que está. O Jader é filho de um baratista: Laércio Barbalho, que teve intimidade com o Barata, sabia bem quem era o Barata e aprendeu muita coisa com ele – e deve ter transmitido isso ao Jader. Então, o Jader tem o seu carisma pessoal, mas também herdou a sabedoria, o jeito do Barata, através do depoimento do pai dele. Então, o Jader se aproxima muito dessa circunstância. Com um detalhe: se ele se candidatar a governador, não é fácil se eleger; ele, pessoalmente, não ganharia a eleição. Mas, só vence no Pará quem o Jader apoiar. Ele é a margem, a diferença entre os dois lados. Ele, com o PMDB dele, decidiu pra esse ou aquele lado - qualquer lado! - ele vai decidir a eleição. Tome nota: vai ganhar a eleição quem o Jader apoiar."

* "[...] Então, o Jader é um fenômeno por quê? Tirando aí as empresas dele, ele não tem outro apoio. Mas ganha. Por quê? Porque quem é peemedebista é jaderista. Assim como quem era PSD era baratista. O Jader vai pelo mesmo caminho."

* "[...] A gente tem a impressão de que o Brasil está se acabando, por causa da imprensa. A imprensa brasileira só destaca o que não presta. A culpa não é do jornal: ele sabe que o povo começa a se interessar pelo noticiário do que não presta. Mas, tem um lado que presta. Só que para esse lado não vem publicidade, porque não vende jornal, rádio, televisão."

* "A Ana Júlia se vê vítima das isenções absurdas que o Brasil concede, porque não fica nada para o Pará. Tudo que sai daqui é isento, não paga nada. Onde é que já se viu isso? Até para pagar funcionário quase já não está dando, porque eles frearam tudo do Pará. Toda a arrecadação do Pará sofre cortes violentos com a política do Governo."

* "[...] alguns dos que estão chegando aí são tão cínicos, que a primeira intenção deles é dividir o Pará: nós ficamos com o que não presta e eles, que estão chegando agora, ficam com o filé! Isso é para eles, é para o novo estado! O Pará é Marajó, bicho, gado - e olhe lá! A mina fica com eles... E ainda tem gente que vai atrás dessa corja! Esse negócio de emancipação..."

* "[...] Eu me lembro de uma vez que fui com o Jader, numa excursão, lá pelo Sul do Pará. Aí, o Jader disse assim: “quem for paraense, levante o braço!” - tinha uns três ou quatro... “Quem for maranhense, levante o braço!” - todo mundo levantou. Aí que eu vi que era tudo maranhense."

* "Eu não me incomodo que eles ocupem - mas sim que eles nos tomem... Quer dizer: o que vem de fora deve respeitar a casa que não é dele. Mas, achar que eu vou chegar na tua casa, te botar num pontapé pra fora e ficar com a coisa boa, não!... Eu duvido que eles façam isso na Zona Bragantina, que já está exaurida; duvido alguém querer emancipar aquela região. Vão ficar com o quê? Osso? Não, eles querem o filé!... Querem vir pra cá, dizer que estão nos ajudando, e estão é querendo levar tudo e tirar da gente definitivamente! É uma coisa meio cínica, desavergonhada!... Eu sempre disse uma coisa: vejo com certa simpatia é o desejo do Baixo Amazonas de se emancipar."

* "Por exemplo, eu acho o Jatene muito bom, é um sujeito muito bem intencionado. Já o Almir tem umas birras!... O Jatene seria reeleito tranquilamente!... Mas, se sentiu obrigado a ceder para o Almir, porque o Almir fez questão de ser candidato outra vez. Aí o Jatene abre o espaço para o Almir – e o Almir se candidata. Agora, fica avacalhando o Jatene, dizendo que ele é isso, que é aquilo. O Jatene saiu de campo para ele entrar. E ele entra, sacrificando o amigo, que tinha uma reeleição garantida. Agora, fica responsabilizando o Jatene por tudo. Quer dizer: é um mal agradecido!..."

* "[...] o Almir só foi candidato e ganhou porque foi o candidato do Jader, para o Senado. Quem fez o Almir senador foi o Jader... Como ele retribui isso dessa maneira, não sei por que. Eu queria saber. Tentei várias vezes. Ele não dizia de maneira áspera. Mas, não me estimulava. Ele nunca chegou a me dizer o porquê disso. E eu que vi como o Jader insistiu pela candidatura dele... Uma vez, estávamos o Jader, o Almir e eu. Aí, nos sentamos e ele disse pro Jader: “olha, você vai me perdoar, mas eu vou anarquizar não sei com quem” – nem me lembro com quem era. “Eu não quero mais ser governador, não quero mais ser nada”. Aí, o Jader: “Tenha calma, vamos resolver... Não faça nada, deixe que eu resolvo”. Aí, ele baixou a crista e se elegeu. O Jader teve tolerância, paciência pra agüentar o Almir como candidato. Mas o Almir não retribuiu isso até agora."

* "O Almir tinha essas doidices, viu?... Um belo dia inventou não sei o quê, foi embora, deu uma banana para todo mundo – foi embora sem dizer nada!... Mas, não foi hostilidade de Jader, nem coisa nenhuma. Foi uma doidice do Almir!... O Almir é assim, mas ele é metido à temperamental, a se zangar. Fiz uma campanha com o Almir, né? Aí, um pobre coitado do interior, um chefe político, dizia: “aqui, em praça pública, estou dizendo uma coisa: se vossa excelência não cumprir o prometido, aqui para o povo de tal lugar, nós romperemos com o senhor”. Aí o Almir queria, na mesma hora, dizer que o cara fosse para o inferno, porque ele fazia o que queria e não iria aceitar uma chantagem dessas... Eu disse: “peraí!... peraí!... Acaba com isso!... Deixa o cara fazer a farolada para o eleitorado dele, para o gado dele!... Mas ele não vai fazer nada, não te perturba”. Aí, ele se acalmou. Mas ele queria responder na hora, avacalhando com o chefe político, por causa dessa presepada."

* “Esse meu filho [Hélio Gueiros Júnior, o Helinho, que foi vice-governador no segundo mandato de Almir Gabriel] é meio genioso também e dois bicudos não se beijam. O Almir pensava que ele não era assim; pensava que era um bestalhão. E não é!... É chato, o Hélio Junior é enjoado: topa a parada. Quer dizer: tem de levá-lo com muito jeito, porque ele é estourado. E o Almir também é estourado. Não ia dar certo.”

* “[...] Tu acreditas em pesquisa? Só acredite em pesquisa na véspera da eleição – tome nota. O Ibope só faz a pesquisa fiel na véspera. Antes, ele faz negócio. Porque uma parte do eleitorado vota em quem estiver na frente da pesquisa. Então, ele vai fazendo isso e vai ganhando o dinheirinho dele. Mas, quando chegar na véspera, o Ibope vai dar o certo.”

5 comentários:

Anônimo disse...

Dispenso a leitura do que parte desse senhor.
Quem leu a famigerada carta que ele enviou ao Lúcio Flávio Pinto, datilografada e por ele assinada já sabe do "conteúdo", da moral e da ética desse senhor.
Qualquer pessoa mínimamente decente vomitaria. Bleargh!

Dênis disse...

O Papudinho é cínico demais! Mas é um velho inteligente.

Unknown disse...

Dr. Hélio Gueiros faz sempre comentários inteligentes, e tem uma grande visõ política do Pará.

Anônimo disse...

Helio Gueiros é muito sábio, e o Helinho muito inteligente e determinado, desejo mais sucesso.

Rui Vasconcelos disse...

Só fala mal do Dr. Hélio Gueiros e do filho HG Jr quem não os conhece, e apenas se deixa levar por mentiras e leviandades que sobre eles são publicadas e depois espalhadas boca a boca por quem também não os conhece.
Dr. Hélio foi vítima de parte da imprensa local, a serviço de interesses pouco dignos de encômios. Deixou o governo e a prefeitura e até hoje possui exatamente o mesmo patrimônio que tinha antes de assumi-los. Assim, nada tendo o que dizer de sua conduta moral, "alguém" inventou e com muita competência espalhou ser ele alcoólatra. Em 40 anos de convivência, porém, NUNCA vi Dr. Hélio bêbado. O criador dessa mentira só não contava com o fato de que o povo passaria a ter ainda mais simpatia pelo "papudinho"...
Quanto ao filho, igualmente vítima da irresposabilidade da imprensa, e em nível nacional, pagou caro por enfrentar os poderosos que mandavam no Estado, pensando que ele, como Vice-Governador, seria uma "vaquinha-de-presépio", e faria tudo bonitinho como eles mandassem. Só quem não sabe o que realmente aconteceu - antes e quando ele assumiu o governo - pode acreditar nas maldades que sobre ele foram ditas. Se soubesse, dá-lo-ia plena razão por agir como agiu.