segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Cobertos de lama

No AMAZÔNIA:

Passar o domingo de carnaval em Curuçá, nordeste paraense, e voltar limpo pra casa é praticamente impossível. Seja por conta dos esbarrões 'acidentais' com os foliões, seja pela espuma, confestes ou cerveja que são jogadas para o alto indiscriminadamente, o certo é que não há como ficar de fora da brincadeira dos sujos. Os 'Pretinhos do Mangue' - brincantes do bloco que leva o mesmo nome - espalham-se pelas ruas da cidade e por onde passam imprimem sua marca, nada ou niguém fica impune: carros, muros e pessoas logo ficam com a cara, a cor e o cheiro do manguezal curuçaense.
Composto literalmente por sujos, o bloco completa este ano 20 anos de história. O presidente do bloco, Edmilson Campos do Santos, conta que muita coisa mudou nas últimas duas décadas. 'Tudo começou com três amigos que em uma época de carnaval foram ao mangue atrás de caranguejos. Sem dinheiro para poder pagar os abadás dos blocos de rua, eles em meio a lama decidiram criar o seu próprio bloco de carnaval que seria livre para quem quisesse participar. Na época isso não agradou aos moradores que sentiam vergonha do bloco, mas felizmente isso mudou e agora o bloco ‘Pretinhos do Mangue’ é motivo de orgulho para a cidade', comenta empolgado o presidente.
Ontem, primeiro dia de desfile do bloco - os pretinhos do mangue voltam às ruas amanhã -, cerca de três mil pessoas seguiram durante uma hora o trio elétrico que levava a banda de fanfarra Lauro Sodré, responsável pela trilha sonora da festa, mas a julgar pela disposição de quem topou dar um mergulho no mangue antes de cair na folia, a música certamente era um item dispensável à festa. O percurso começou em frente ao manguezal e acabou na praça matriz de Curuçá.
O ponto de partida do bloco foi a avenida 15 de Novembro, em um dos trechos que dá acesso ao manguezal. Os pretinhos só sairam de lá em direção ao corredor da folia na avenida 7 de Setembro às 17 horas, mas uma hora antes já se avistava os primeiros foliões chegando com seus 'abadás' de lama. A estudante Amanda Caroline, 18 anos, participou pela primeira vez do bloco ecológico. 'A sensação de estar coberta de lama é um pouco nojenta, mas no fundo é legal', disse.
Sob o lema da consciência ecológica, os curuçaenses desfilaram propagando a necessidade de conservação do mangue e dos caranguejos, uma das principais fontes de geração de renda para famílias locais.
Este ano, o bloco promoveu uma gincana em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente para diminuir o montante de lixo acumulado nas ruas após a passagem dos blocos.

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