A polêmica sobre a abertura da rua principal do Conjunto do Basa para o tráfego de veículos, ligando as avenidas Almirante Barroso e Primeiro de Dezembro, na qual acabei entrando como Pilatos no Credo (Trânsito no conjunto do Basa), trouxe de volta o debate em torno do "engessamento" do trânsito de Belém. Em recente artigo, publicado em O LIBERAL, com o sugestivo título “Belém está parando”, alertava mais uma vez, como venho fazendo há 20 anos, para o iminente colapso da cidade. Com uma frota aproximada de 226 mil veículos automotores e o ingresso de 50 novos veículos/dia, que circulam pelas mesmas e saturadas vias, a cidade está atingindo o ponto máximo de "exaustão dos materiais" e deve parar até 2010, se nada for feito, de acordo com a terrível profecia (que se cumpre) dos japoneses da Jica. Comparo a situação do trânsito de Belém com a de um corpo humano envelhecido e doente: quando as artérias (ruas) entopem, todo o organismo entra em colapso.
Prepare seu coração para novas emoções neste inverno. "O caos nosso de cada dia", dia 3 de dezembro, foi apenas o começo de uma série de novos atropelos. Quando chove (vai chover cada vez mais até março), algumas vias e importantes corredores de tráfego alagam, em razão de bueiros e valas entupidas de lixo. Então, é chegada a hora do salve-se quem puder. Carros enguiçados, buzinas irritantes, berros, palavrões, xingamentos inúteis, assaltos e arrastões formam o "caldo da cultura" do atraso, da insegurança e do medo. É o retrato sem retoque de uma cidade sitiada pela falta de governo e pela incompetência de gestão.
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“Belém já elegeu cinco prefeitos. Nenhum deles teve visão de estadista para perceber que com o crescimento da cidade também iam crescendo seus problemas e as carências de serviços básicos para sua população.”
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Na década de 80, técnicos da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) elaboraram o estudo mais sério já realizado sobre o trânsito da cidade, deixando pronto e acabado um moderno Plano Diretor de Tráfego Urbano (PDTU), que também previa a modernização da frota de ônibus de Belém. Desde então (1986), Belém já elegeu cinco prefeitos. Nenhum deles teve visão de estadista para perceber que com o crescimento da cidade também iam crescendo seus problemas e as carências de serviços básicos para sua população. A falta de planejamento urbano, a ausência de políticas públicas e a submissão de prefeitos a interesses corporativos de alguns donos de ônibus resultaram no caos urbano em que a cidade está mergulhada atualmente e que tem, no trânsito caótico/neurótico, uma de suas faces mais cruéis, porque também está matando, notadamente os mais jovens.
Dentre algumas obras viárias importantes e já então inadiáveis para desafogar o tráfego de Belém, previa o PDTU/86 dos japoneses, a construção de anéis viários (conjunto de elevados) no Entroncamento, no Largo de São Braz e no cruzamento da Julio César com Pedro Álvares Cabral. Para aquelas bandas, no entorno do aeroporto, também seria deslocada a Estação Rodoviária, permitindo a integração entre os meios de transporte e facilitando a vida dos passageiros. Belém é a única capital que ainda tem estação rodoviária localizada no centro da cidade, fato que contribui para aumentar o sufoco de seu trânsito pesado e estressante. A Almirante Barroso, como principal corredor de tráfego de entrada/saída da cidade seria repaginada (ver imagem I), com via expressa exclusiva para ônibus no seu canteiro central, que se prolongaria até Marituba, passando pelas cidades da área metropolitana da Grande Belém (a opção via expressa para ônibus poderia conviver modernamente com o metrô de superfície, que atenderia melhor o grande fluxo dos milhares de passageiros que circulam diariamente entre Belém e cidades vizinhas, incluindo Mosqueiro).
Os ônibus seriam os mais modernos existentes na época , os chamados "papa-filas", com ar-condicionado (imagem II). Com maior capacidade para "engolir" e transportar passageiros, eles também iriam reduzir o número de coletivos que circulam desnecessariamente pelo centro comercial da cidade (eixo Ver-o-Peso/Presidente Vargas) como acontece até hoje, com as sucatas sobre rodas que tão bem conhecemos.
Alguém pode se perguntar: esses japoneses da Jica não seriam uns jovens sonhadores? Não necessariamente. Eram técnicos sérios e competentes, que fizeram um diagnóstico dos problemas da cidade (nunca antes realizado) e, com base em dados da realidade que então encontraram, efetuaram competente planejamento de um conjunto de propostas e obras viárias necessárias para preparar a cidade para um futuro promissor, como importante metrópole da Amazônia e uma das principais cidades do Brasil.
Decorridos 22 anos de omissão e desídia dos agentes públicos, nenhuma daquelas obras inadiáveis foi realizada. Lamentavelmente, como todos sabemos, as propostas de melhoria do trânsito/tráfego de Belém jamais saíram do papel. O PDTU dos japoneses trocou de nome e hoje atende por Via Metrópole. Desde então, vimos surgir um caricato viaduto meia-sola na Bandeira Branca (que leva do nada a coisa alguma) e dois túneis no Entroncamento, que só têm contribuído para congestionar ainda mais aquele infernal "gargalo" de entrada/saída da cidade. Obras cosméticas e caríssimas, verdadeiros monumentos ao desperdício do dinheiro público.
ACORDA, BELÉM!
Prepare seu coração para novas emoções neste inverno. "O caos nosso de cada dia", dia 3 de dezembro, foi apenas o começo de uma série de novos atropelos. Quando chove (vai chover cada vez mais até março), algumas vias e importantes corredores de tráfego alagam, em razão de bueiros e valas entupidas de lixo. Então, é chegada a hora do salve-se quem puder. Carros enguiçados, buzinas irritantes, berros, palavrões, xingamentos inúteis, assaltos e arrastões formam o "caldo da cultura" do atraso, da insegurança e do medo. É o retrato sem retoque de uma cidade sitiada pela falta de governo e pela incompetência de gestão.
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“Belém já elegeu cinco prefeitos. Nenhum deles teve visão de estadista para perceber que com o crescimento da cidade também iam crescendo seus problemas e as carências de serviços básicos para sua população.”
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Na década de 80, técnicos da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) elaboraram o estudo mais sério já realizado sobre o trânsito da cidade, deixando pronto e acabado um moderno Plano Diretor de Tráfego Urbano (PDTU), que também previa a modernização da frota de ônibus de Belém. Desde então (1986), Belém já elegeu cinco prefeitos. Nenhum deles teve visão de estadista para perceber que com o crescimento da cidade também iam crescendo seus problemas e as carências de serviços básicos para sua população. A falta de planejamento urbano, a ausência de políticas públicas e a submissão de prefeitos a interesses corporativos de alguns donos de ônibus resultaram no caos urbano em que a cidade está mergulhada atualmente e que tem, no trânsito caótico/neurótico, uma de suas faces mais cruéis, porque também está matando, notadamente os mais jovens.
Dentre algumas obras viárias importantes e já então inadiáveis para desafogar o tráfego de Belém, previa o PDTU/86 dos japoneses, a construção de anéis viários (conjunto de elevados) no Entroncamento, no Largo de São Braz e no cruzamento da Julio César com Pedro Álvares Cabral. Para aquelas bandas, no entorno do aeroporto, também seria deslocada a Estação Rodoviária, permitindo a integração entre os meios de transporte e facilitando a vida dos passageiros. Belém é a única capital que ainda tem estação rodoviária localizada no centro da cidade, fato que contribui para aumentar o sufoco de seu trânsito pesado e estressante. A Almirante Barroso, como principal corredor de tráfego de entrada/saída da cidade seria repaginada (ver imagem I), com via expressa exclusiva para ônibus no seu canteiro central, que se prolongaria até Marituba, passando pelas cidades da área metropolitana da Grande Belém (a opção via expressa para ônibus poderia conviver modernamente com o metrô de superfície, que atenderia melhor o grande fluxo dos milhares de passageiros que circulam diariamente entre Belém e cidades vizinhas, incluindo Mosqueiro).
Os ônibus seriam os mais modernos existentes na época , os chamados "papa-filas", com ar-condicionado (imagem II). Com maior capacidade para "engolir" e transportar passageiros, eles também iriam reduzir o número de coletivos que circulam desnecessariamente pelo centro comercial da cidade (eixo Ver-o-Peso/Presidente Vargas) como acontece até hoje, com as sucatas sobre rodas que tão bem conhecemos.
Alguém pode se perguntar: esses japoneses da Jica não seriam uns jovens sonhadores? Não necessariamente. Eram técnicos sérios e competentes, que fizeram um diagnóstico dos problemas da cidade (nunca antes realizado) e, com base em dados da realidade que então encontraram, efetuaram competente planejamento de um conjunto de propostas e obras viárias necessárias para preparar a cidade para um futuro promissor, como importante metrópole da Amazônia e uma das principais cidades do Brasil.
Decorridos 22 anos de omissão e desídia dos agentes públicos, nenhuma daquelas obras inadiáveis foi realizada. Lamentavelmente, como todos sabemos, as propostas de melhoria do trânsito/tráfego de Belém jamais saíram do papel. O PDTU dos japoneses trocou de nome e hoje atende por Via Metrópole. Desde então, vimos surgir um caricato viaduto meia-sola na Bandeira Branca (que leva do nada a coisa alguma) e dois túneis no Entroncamento, que só têm contribuído para congestionar ainda mais aquele infernal "gargalo" de entrada/saída da cidade. Obras cosméticas e caríssimas, verdadeiros monumentos ao desperdício do dinheiro público.
ACORDA, BELÉM!
Prestes a completar 393 anos, Belém mantém suas ricas tradições culturais, além da diversidade de seus cheiros, sabores e cores, apesar dos maus-tratos de filhos ingratos que insistem em construir torres tórridas para morada de alguns caras-pálidas endinheirados e deslumbrados, transformando a cidade numa ilha de calor com a destruição de suas pontes com a natureza e a vida. (Réquiem para o último quintal de Belém).
Os alquimistas do Fórum Social Mundial estão chegando e querem te conhecer melhor! Apesar de todos os pesares, da falta de providências e do desgoverno, eles saberão te compreender e se renderão ao teu charme, morenice cheirosa e exuberância de tuas cores e sabores.
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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br
Os alquimistas do Fórum Social Mundial estão chegando e querem te conhecer melhor! Apesar de todos os pesares, da falta de providências e do desgoverno, eles saberão te compreender e se renderão ao teu charme, morenice cheirosa e exuberância de tuas cores e sabores.
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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br
Um comentário:
Em mais uma de suas riquíssimas crônicas, o jornalista Francisco Sidou mostra a nossa dura realidade e o nosso triste futuro quando fala do trânsito caótico/neurótico da cidade das mangueiras. Como diz em sua crônica que, no ano de 2010, a cidade de Belém vai parar, só não enxerga quem não quer. Infelizmente ainda não tivemos governantes audaciosos que tentassem colocar em prática esse plano para resolver parte de nossos problemas diários. Por fim, depois dessa crônica fica o recado de que a nossa Metrópole da Amazônia ainda pode ser salva, afinal antes tarde do que nunca.
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