O caos nosso de cada dia

FRANCISCO SIDOU

Belém também teve sua "Noite de São Bartolomeu". A tarde/noite de quarta-feira, 3 de dezembro, tão cedo sairá dos corações e mentes dos belenenses que voltavam do trabalho ou das escolas e acabaram literalmente presos no congestionamento colossal que se formou em quase todas as vias do centro da cidade. Para completar o quadro de caos urbano, o que faltava acabou acontecendo: o apagão de energia da Celpa.
Com chuva copiosa, congestionamentos e às escuras, a insegurança e o medo tomaram conta de todos, pedestres e motoristas, que, assustados, já esperavam conformados os assaltos, que pareciam inevitáveis. Em algumas ruas alagadas, os carros pifaram e alguns marginais ainda assaltavam os motoristas, fingindo que iam ajudar.
Uma das faces mais visíveis do caos urbano de Belém é o seu trânsito caótico/neurótico. Com o temporal, os bueiros entupidos contribuem para o alagamento de algumas importantes vias/corredores de tráfego e, então, o pior acontece.

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Hay gobierno em Belém? Ou será que não estamos todos a bordo de um barco avariado e à deriva, por falta de comando?
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Carros enguiçados. Buzinaços ensurdecedores e inúteis. Pessoas irritadas e nervosas, aglomerando-se nos abrigos e paradas, esperando ônibus que não passavam ou então não paravam, "queimando" paradas. Mas, também, como fator positivo, tivemos o surgimento de líderes ocasionais , que se desdobravam para organizar o fluxo de veículos e ainda espantar os assaltantes e saqueadores, servindo de guias e verdadeiros anjos da guarda. Não se viu um só policial civil, militar ou qualquer guarda da CTBel. Os agentes públicos, que são pagos pela sociedade para zelar pela sua segurança, simplesmente desaparecem nas horas de caos urbano. Isso também é um retrato sem retoque da crise de governabilidade que os belenenses enfrentamos.
Nesses momentos de insegurança e de medo, o cidadão-eleitor-contribuinte se vê tentado a fazer uma pergunta que não quer calar: Hay gobierno na cidade? Ou será que não estamos todos a bordo de um barco avariado e à deriva, por falta de comando?
Os gestores de uma cidade como Belém, quase flutuando sobre uma lâmina de água, jamais podem alegar surpresa ou perplexidade com o fenômeno das chuvas que anunciam a chegada do inverno. Bueiros e canais entupidos de lixo e valas cheias de sujeira também revelam incompetência e omissão dos agentes públicos.
Os problemas da cidade estão se agravando diante da falta de soluções e medidas adequadas, notadamente para o trânsito, cada vez mais estressante e caótico. A crise de governabilidade da cidade, com o agravamento de seus problemas crônicos, também é resultante de muitos anos de omissões , falta de visão de futuro e de planejamento, não só do Dudu, mas também de outros prefeitos que fizeram muita propaganda enganosa, iludindo a boa fé da população. Obras viárias indispensáveis para desafogar o tráfego das vias entupidas da cidade vêm sendo adiadas há mais de 20 anos, quando em estudo sério, os técnicos japoneses da Jica - uma consultoria internacional sobre problemas urbanos - apontavam os "gargalos" do trânsito/tráfego de Belém e faziam sugestões de obras necessárias e inadiáveis. Eles também fizeram uma previsão, que soa hoje como terrível profecia que se cumpre. Eles previam que, se nada fosse feito, Belém iria parar por volta de 2010. Isso em 1986... As ruas de uma cidade são como as veias do corpo humano: quando entopem, o organismo entra em colapso. A sociedade precisa cobrar mais dos agentes públicos ineptos que ela mesma costuma eleger. Do contrário, sucumbiremos todos em um oceano de omissões e desculpas esfarrapadas.

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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br