segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O desafio de Marta

No Blog do Noblat, sob o título acima:

A capital de São Paulo é uma fortaleza do PSDB. Ali ele sempre ganha – só que desta vez será representado no segundo turno pelo prefeito Gilberto Kassab, do DEM, afilhado do governador José Serra. Certo? Errado.
Na verdade, a capital de São Paulo é uma fortaleza anti-PT. Resiste ao assédio até mesmo do presidente mais popular da História.
A mais recente pesquisa de intenção de votos do Instituto Datafolha, divulgada no último sábado, simulou a eleição do prefeito de São Paulo em segundo turno.
Rejeitado por seu próprio partido e pela esmagadora maioria dos eleitores no primeiro turno, Geraldo Alckmin derrotaria Marta Suplicy, candidata do PT, por 50% a 42%. Quanto a Kassab, bateria Marta por placar quase idêntico - 50% a 41%.
Em 2002, o governo Fernando Henrique Cardoso estava ladeira a baixo. Crescia o número de desempregados no país e um dólar custava R$ 4,00.
Apesar disso, no segundo turno, José Serra, candidato a presidente da República pelo PSDB, só perdeu para Lula na capital de São Paulo por uma diferença de dois míseros pontos percentuais. No cômputo nacional de votos perdeu feio – 61,2% a 38,8%.
Dois anos depois, Serra enfrentou Marta, que tentava se reeleger prefeita. Ela vencera Paulo Maluf com o apoio do PSDB. Serra derrotou Marta por 54,8% dos votos contra 45,1%.
Lula se reelegeu presidente em 2006 esmagando Alckmin por 60,8% dos votos a 39,2%. Alckmin cometeu a proeza de ter menos votos no segundo turno do que no primeiro. Mas na capital de São Paulo deu Alckmin com 54,4%. E também no Estado com 52,3%.
Talvez só Getúlio Vargas tenha sido um presidente da República mais popular do que Lula. Como nenhum candidato a prefeito e a vereador ousou falar mal dele e a economia continua nos trinques, é possível que Lula alcance até dezembro uma aprovação superior a inacreditáveis 85%.
Pois eu lhes digo: será mais fácil, muito mais fácil para Lula pôr Dilma Rousseff no segundo turno da eleição presidencial de 2010 do que eleger Marta prefeita.
Dilma ainda é pouco conhecida no país. Jamais disputou uma eleição. É a principal ministra do governo. E tem mostrado serviço. Lula poderá dizer para os brasileiros: “Votem nela. Podem confiar. É uma administradora competente e dará continuidade ao meu governo”.
Os paulistas conhecem Marta de sobra. E têm opinião formada a respeito dela. São muitos os que a amam, de fato. Mas também são muitos os que preferem vê-la pelas costas.
A rejeição a Marta medida em todas as pesquisas só é menor do que a de Maluf. Da primeira vez que Lula esteve em São Paulo para reforçar a campanha de Marta, ela tinha algo como 40% das intenções de voto. Caiu. E caiu mais um pouco depois que Lula passou por lá novamente.
Em resumo: Lula não transferiu votos para Marta no primeiro turno. Por que transferirá no segundo?
Marta só tem uma chance de vencer: desconstruindo Kassab. Indo para o pau. Apontando seus defeitos. E tentando colá-lo em Maluf – embora Maluf tenha sido um aliado de Marta na eleição perdida por ela para Serra.
O segundo turno em São Paulo despertará os instintos mais primitivos dos dois candidatos. Para Kassab, o ideal seria travar o duelo administrativo – o que você fez, o que eu fiz, o que você deixou de fazer, o que eu farei.
Foi assim que ele atravessou o primeiro turno, atropelando Alckmin. A campanha serviu para apresentar ao paulista um candidato que ele mal conhecia e um conjunto de obras do qual ele mal se dera conta.
Kassab foi suficientemente esperto para se oferecer logo de saída como o único nome disposto a se contrapor ao PT enquanto Alckmin, sem ter o que mostrar, ora cutucava Marta de leve, ora batia forte no próprio Kassab. Um equívoco.
Se não quiser perder o segundo turno depois de ter perdido o primeiro, só restará a Alckmin anunciar rapidinho seu apoio a Kassab. Aí poderá pensar em se eleger deputado federal daqui a dois anos.

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