Da jornalista Franssinete Florenzano, sobre o post As questões por trás de teimosias sobre Belo Monte:
Realmente, o povo precisa ser alcançado nesse debate, para evitar que continue a ser manobrado (assim como os índios) pelos interesses internacionais, que querem o Brasil dependente de energia. Será que ninguém percebe que todas as empresas do setor estão com suas ações bamburrando nas bolsas? Quem é que iria querer construir uma usina para perder dinheiro? É claro que a UHE-Belo Monte é necessária para nós. E a legislação ambiental brasileira é rigorosa o suficiente para conter abusos e penalizar qualquer deslize das empreiteiras. E também é de uma clareza cristalina que o governo nunca esteve verdadeiramente empenhado em construir Belo Monte, senão a usina já estaria pronta há muito tempo. Ao contrário, do mesmo modo que empurra com a barriga a conclusão das eclusas de Tucuruí, as hidrovias e o asfaltamento da Santarém-Cuiabá e da Transamazônica (há quem ache que isso vai destruir a floresta, mas ninguém se importa com as pessoas que morrem por falta de assistência médica, que sofrem em meio aos atoleiros, à poeira, às crateras e ao desabastecimento). Quem são os defensores de uma Amazônia intocada, em detrimento dos seres humanos que nela vivem? Por acaso moram na mata, sujeitos à dengue, malária, febre amarela, sem escola e sem hospital? Nada disso! Todos adoram o conforto do ar condicionado e seus filhos estudam e vivem em segurança. Não defendo o governo muito menos empreiteiras, mas está na hora dessa máscara hipócrita cair. E dos cidadãos serem respeitados como tais. O que deveria preocupar é que o governo nem fala em construir eclusas, quer construir hidrelétricas impedindo a navegação, isso sim é um crime, desrespeito ao nosso direito de ir e vir. Mas quem se habilita a cobrar essa obrigação?
3 comentários:
Franssi, suas colocações são absolutamente pertinentes e, lamentávelmente, creio que todos os envolvidos no processo, excluindo a população, sabem de tudo isso. Só que a carência de educação, de saúde e a desinformação do povo geram bons e rentáveis dividendos, inclusive políticos. Então, pra que mexer nisso e comprometer o poder de manobra sobre esse povo sofrido?
Sim, e é por isso mesmo que temos que escancarar essa artimanha. A Eletronorte fechou o rio Tocantins há mais de duas décadas quando construiu a usina hidrelétrica. Políticos e empresários já protestaram incontáveis vezes, FHC e Lula juraram de pés juntos que iriam restabelecer a navegação com as eclusas, é até hoje nada. De vez em quando a obra pára. Ora por irregularidades contratuais, detectadas pelo TCU, ora por falta de recursos previstos no OGU, ora por invasões no canteiro. E assim passam os anos, chegam os períodos eleitorais, todos renovam promessas, fazem inflamados discursos, reúnem, debatem - e nada acontece. O dinheiro que o Pará deixou de ganhar nesses mais de 20 anos, os empregos que seriam gerados, as novas oportunidades de negócios, de criação de uma grande infra-estrura multimodal e de saúde, os avanços tecnológicos - e, é bom que se ressalte - a proteção à natureza, significam muitas vezes mais do que os tão chorados R$1,5 do custo das ecluas inacabadas. Falta, mesmo, é vontade política. Os nossos índios estão praticamente em sua totalidade aculturados, falam e vivem como "os brancos". Gostam de viajar de avião, de utilitários esportivos com ar condicionado e de todos os ícones urbanóides. Quando vêem jornalistas e turistas, envergam seus cocares e adereços, pintam seus corpos e posam para as fotos - a maioria, cobradas. Já estive em várias aldeias, de diversas etnias, em lugares considerados inacessíveis, e a realidade é doída. No dia-a-dia, o calendário cultural autóctone substituiu vários rituais por outros da dita civilização. Já repararam que os índios votam? Pois é. E não gostam mais de apito nem espelho.
Na pressa, cometi alguns erros de grafia. Por favor, leia-se "e até hoje nada" e "R$1,5 bilhão do custo das eclusas". Perdão, leitores.
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