ISMAEL
MORAES – advogado socioambiental
O repórter da Rede Globo Fabiano Vilella, em
matéria no Fantástico de domingo
passado, resumiu toda a nossa revolta, indignação e até vergonha com apenas uma
pergunta feita ao presidente mundial da Hydro o norueguês Svein Richard
Brantzaeg: “A Hydro também comete crime ambiental na Noruega como faz no
Brasil?”
A resposta em inglês dada por Brantzaeg resumiu
toda à relação dele com o governo Jatene e com a estrutura em que esteve à
frente na Semas o delegado Luiz Fernandes até o dia seguinte ao estouro do escândalo:
“Nós respeitamos as legislações dos 40 países em que atuamos”.
Em bom português: onde “a lei” é a corrupção,
nós damos propina, resolvemos com “ponta”...
Logo depois que Brantzaeg foi a Barcarena na
sede da Hydro Alunorte, sábado passado, os empregados da mineradora norueguesa passaram
a apresentar sintomas de algo nunca registrado: o acometimento coletivo da
chamada “síndrome de Estocolmo”. Como se sabe, a “síndrome de Estocolmo” é o
estado psicológico em que uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de
intimidação, passa a nutrir simpatia, amor ou amizade pelo seu agressor.
Logo em seguida, na segunda feira, em vez de
exigirem condições de saúde, de meio ambiente de trabalho e de respeito e
dignidade às comunidades do entorno, os empregados da Norsk Hydro Alunorte
foram bater na porta do Ibama em Belém exigindo o desembargo da mineradora,
para que ela volte a funcionar sem cessar o envenenamento diário das águas dos
rios e igarapés, os lençóis freáticos, o solo e o subsolo de uma região
densamente povoada.
O norueguês Svein Richard Brantzaeg deve ser uma
especialista em hipnose coletiva por meio da “síndrome de Estocolmo”.
Até o presidente do sindicato dos químicos de
Barcarena, Gilvandro Santa Brígida, passou a defendê-la com unhas e dentes,
ele, a mesma pessoa que no ano passado denunciou diversas mazelas causadas pela
Hydro nas comunidades locais, em um seminário promovido pelo Ministério Público
Federal.
(Obs.: os membros do governo Jatene são imunes à
moléstia, porque agem conscientes dos seus negócios com a mineradora).
A Hydro iniciou uma campanha publicitária
maciça, utilizando dos seus empregados, e em conjunto com seus comparsas no
Governo Jatene.
No dia de hoje (07), o delegado Luiz Fernandes
Rocha, então todo-poderoso Secretário de Meio Ambiente que mantinha o controle
absoluto sobre o funcionamento da Semas, foi a uma rádio e disse que tudo isso
está acontecendo porque eu, o advogado das 105 comunidades representadas pela
Associação Cainquiama, “manipulo as comunidades”, porque eu sou candidato a
cargo eletivo e outras desculpas que não explicam o essencial.
Então, indago: quem manipula o Instituto Evandro
Chagas, centro de excelência científica mundial?
Quem manipula os Ministérios Públicos Federal e
Estadual, que identificaram várias fraudes perpetradas e mantidas no período em
que ele foi Secretário de Meio Ambiente?
Quem manipula as células das pessoas portadoras
de câncer, diabetes, demência e diversas outras doenças que vivem nas
comunidades do entorno da Hydro?
Ele pode responder bem a umas outras perguntas:
quem manipula os sistemas da Semas, onde foi apagado o registro da reserva
ecológica onde foram construídas as bacias de rejeito químico? Quem manipula a fiscalização
da Semas que nunca viu o dreno clandestino? Quem manipula o Departamento de
Licenciamento que deixou funcionar a bacia de rejeitos DRS 2 sem Licença de
Operação?
Delegado Luiz Fernandes, responda isso, sem
colocar culpa em ninguém.
Na segunda feira, dia 12 de março, às 14h,
estarei na Assembleia Legislativa para ser ouvido pela CPI e pela Comissão de
Meio Ambiente e Direitos Humanos. Vá lá que quero perguntar essas e outras,
diretamente, se os deputados estaduais permitirem.
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