Tiago Leifert, o jornalista que virou apresentador,
é uma gracinha.
De gracinha em gracinha, vai se tornando cada
vez mais engraçadinho. Um engraçadinho que é, reconheça-se, queridinho aí de
meio-país.
Mas entre ser queridinho e engraçadinho medeia
uma distância razoável.
Leifert já foi engraçadinho, por exemplo, quando
disse que, ora bolas, é mais do que natural que a Globo transmita mais jogos de
Corinthians e Flamengo, porque são os times de maior torcida do País. E o nível de audiência é que conta.
Disse isso com as pernas cruzadas, com um ar
professoral - meio engraçadinho, vá lá
-, para uma plateia formada, se não estou enganado, por alunos de jornalismo.
Que ouviram essa gracinha calados, estáticos e extáticos. Ouviram isso mesmerizados.
Não disseram a ele, por exemplo:
- Está certo, gracinha. É certo que os dois
times de maior torcida do País merecem ter o maior número de transmissões num
canal qualquer. Mas isso, gracinha, se os telespectadores que não torcem para Corinthians e Flamengo dispusessem de 25 mil opções
para ver outros jogos. E não têm. Eles só podem ver jogos num canal, entendeu? Aí é covardia, por exemplo, com os torcedores do Íbis, o pior time do
mundo, que também querem ver jogos do seu clube.
Mas ninguém disse isso. E Leifert está avançando em suas opiniões graciosas.
Agora, está de volta.
Engraçadíssimo, Leifert causou polêmica ao defender que
"evento esportivo não é lugar de manifestações políticas". Para ele,
os dois temas não devem se misturar. "Um evento como jogo de futebol serve
a manifestações políticas? Eu acho que não. Não vejo motivos para politizar o
esporte", escreveu o gracioso.
Além disso, argumentou de que o esporte é
um "desligamento da realidade": "Imagine só: você chega em
casa cansado, abre uma garrafa de vinho e ela grita ‘Fora, Temer!’. A gente
precisa respirar". "Textão é no Facebook. Deixem o esporte em
paz", concluiu Tiago.
Hehe.
Olhem, o bordão certo seria: Leifert, deixe-nos em paz. Poupe-nos de gracinhas como essa.
O futebol e o esporte são, sim, espaços
maravilhosos para manifestações políticas. E oferecem um espaço imenso, equivalente a um
estádio, a dois estádios, a 3 milhões de estádios para manifestações políticas
quaisquer que sejam.
Há um espaço enorme a ser ocupado para que atletas se mostrem ativos politicamente. Mas eles, de um modo geral, mantêm-se omissos, silentes, esquivos, tímidos para se posicionar politicamente no âmbito
de suas profissões.
Sócrates, Maradona e Muhammad Ali são
algumas das exceções que confirmam a regra.
Aliás, relembre-se episódio ocorrido em 1967,
quando, juntamente com Martin Luther King (de quem era amigo),
Ali esteve em Louisville (EUA) para apoiar a luta da população local por moradia. Foi
aí que ele disse: "Por que me pedem para vestir um uniforme e me deslocar
10.000 milhas para lançar bombas e balas no povo marrom do Vietnam, enquanto os
negros de Louisville são tratados como cachorros, sendo-lhes negados os mais
elementares direitos humanos? Não, não vou viajar 10.000 milhas para ajudar a
assassinar e queimar outra nação pobre para que simplesmente continue a
dominação dos senhores brancos sobre os povos de cor mais escura mundo afora. É
hora de tais males chegarem ao fim.
Entendeu, Leifert?
Isso não é gracinha.
Isso é política no esporte.
Pura política.
Genuína política.
Elementar política.
Essencial política.
É isso.
Um comentário:
Ótimo comentário. Ele é um babaca mesmo, sem graça e refém da Globo.
Kenneth
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