Dom Alberto e dom Erwin: signatários de uma carta que desfecha críticas diretas e contundentes ao governo Bolsonaro |
A profundidade das críticas, a aspereza de seu linguajar e a expressão objetiva do sentimento de preocupação e de repulsa dos signatários diante da conjuntura do País são razões que talvez tenham levado a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a segurar a divulgação do documento, que está submetido a uma análise do conselho permanente da entidade.
A carta dos religiosos é um míssil de muitos megatons contra o governo Bolsonaro. Um míssil carregado de verdades que, por serem tenebrosamente claras para todo mundo, tornam-se muito expressivas e significativas quando abordadas, sem retoques e maiores refinamentos, por pastores da Igreja Católica que exercem funções de comando em suas arquidioceses ou dioceses em várias regiões do Brasil.
O texto afirma que o Brasil atravessa um dos momentos mais difíceis de sua história, vivendo uma "tempestade perfeita", combinando uma crise sem precedentes na saúde e um "avassalador colapso na economia" com a tensão sofre "fundamentos da República, provocada em grande medida por Bolsonaro e outros setores da sociedade.
" Analisando o cenário político, sem paixões, percebemos claramente a incapacidade e inabilidade do Governo Federal em enfrentar essas crises", diz o documento. "Assistimos, sistematicamente, a discursos anticientíficos, que tentam naturalizar ou normalizar o flagelo dos milhares de mortes pela Covid-19, tratando-o como fruto do acaso ou do castigo divino", segue a carta.
O documento refere-se ainda ao "caos socioeconômico que se avizinha, com o desemprego e a carestia que são projetados para os próximos meses, e os conchavos políticos que visam à manutenção do poder a qualquer preço".
"Esse discurso não se baseia nos princípios éticos e morais, tampouco suporta ser confrontado com a Tradição e a Doutrina Social da Igreja, no seguimento àquele que veio `para que todos tenham vida e a tenham em abundância`”.
Os signatários reconhecem que o país precisa de reformas, "mas não como as que foram feitas, cujos resultados pioraram a vida dos pobres, desprotegeram vulneráveis, liberaram o uso de agrotóxicos antes proibidos, afrouxaram o controle de desmatamentos e, por isso, não favoreceram o bem comum e a paz social. É insustentável uma economia que insiste no neoliberalismo, que privilegia o monopólio de pequenos grupos poderosos em detrimento da grande maioria da população".
O documento afirma ainda que o "sistema do atual governo" não coloca no centro a pessoa humana e o bem de todos, "mas a defesa intransigente dos interesses de uma economia que mata, centrada no mercado e no lucro a qualquer preço".
Para eles, o ministro da Economia, Paulo Guedes, "desdenha dos pequenos empresarios" e o governo promove "uma brutal descontinuidade da destinação de recursos para as políticas públicas no campo da alimentação, educação, moradia e geração de renda". A carta diz ainda que "o desprezo pela educação, cultura, saúde e pela diplomacia" estarrece, sendo visível nas demonstrações de "raiva" pela educação pública e no "apelo a ideias obscurantistas".
Cita também o que julga ser o uso da religião para "manipular sentimentos e crenças", provocando tensões entre igrejas."Ressalte-se o quanto é perniciosa toda associação entre religião e poder no Estado laico, especialmente a associação entre grupos religiosos fundamentalistas e a manutenção do poder autoritário", segue o documento.
Além de dom Alberto e dom Erwin, assinam o texto, entre outros, o arcebispo emérito de São Paulo, dom Claudio Hummes, o bispo emérito de Blumenau, dom Angélico Sandalo Bernardino, pelo bispo de São Gabriel da Cachoeira (AM), dom Edson Taschetto Damian, o bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG), dom Joaquim Giovani Mol, e o arcebispo de Manaus (AM) e ex-secretário-geral da CNBB dom Leonardi Ulrich.
A CNBB vai assumir como sua, como institucional a carta dos bispos? Eis a grande que, presume-se, será respondida quando o conselho permanente da Conferência concluir a análise do texto.
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