quarta-feira, 4 de março de 2015

O jornalista e suas arrogâncias – traiçoeiras e repulsivas


Falemos claro, claríssimo, como de outras vezes.
Nós, jornalistas, ficamos fulos - fulíssimos - da vida quando alguém diz que nossos pitacos e nada são a mesmíssima coisa.
Nós somo uns poços – sem fundo – de arrogância, achamos isso uma banalidade e nem nos damos conta quando, por conta de nossas arrogâncias, acabamos fazendo o que não deveríamos fazer.
Quem aí não se lembra do episódio – ao vivo e em cores – envolvendo a jornalista Milly Lacombe e o goleiro Rogério Ceni, do São Paulo?
Relembre assistindo ao vídeo aí em cima.
Esse foi um daqueles momentos imperdíveis, em que prevaleceu o jornalismo arrogante - aquele de cartilha, de almanaque.
O confronto ocorreu há quase nove anos, mas nunca é tarde para revivê-lo à luz de arrogâncias renovadas, como as que inundam coleguinhas que se julgam donos do mundo quando estão, sobretudo, com microfone nas mãos.
Eis que agora Milly Lacombe está de volta.
Em entrevista disponível no UOL, ela admite claramente que se deixou trair pela arrogância. E dá uma resposta honesta, sincera e até certo ponto comovente, que precisa ser compartilhada sobretudo conosco, jornalistas, que não sabemos o que fazer com nossas arrogâncias, tantas e tamanhas elas são.
Confiram a pergunta feita a Milly Lacombe e a sua resposta:

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Você era um dos principais comentaristas do Sportv. Estar assim no auge fez com que você se descuidasse e falasse que o Rogério falsificou a assinatura na proposta do Arsenal que apresentou ao São Paulo. Como um goleiro que pensa já ter a bola dominada, imagina o que vai fazer com ela e acaba levando um gol?

Acho que teve um pouco disso sim, mas se fosse apenas como o goleiro que tem a bola dominada e perde teria sido um erro cometido por displicência, e no meu caso acho que arrogância foi um componente forte.
Televisão é um meio traiçoeiro, porque mexe com a vaidade como nenhum outro. Que emprego tem como punição mandar o cara para casa com salário pago? Na TV a punição por um deslize é tirar a pessoa do ar por um tempo, a famosa geladeira. Ou seja, você fica em casa, recebendo salário e sem ter que trabalhar. Quase um prêmio em outras profissões, mas para quem trabalha em TV a geladeira é a antessala da morte.
Lembro da sensação de quando comecei a ser reconhecida na rua. É uma injeção de adrenalina, uma massagem no ego. Uma vez estava num restaurante e uma menina se aproximou e disse: “posso te fazer uma pergunta?”. Na mesma hora eu já cresci e fiquei muito orgulhosa de mim mesma. Eu sabia que ela queria um autógrafo, ou uma foto. E ela disse: “Onde você comprou essa bolsa?”. Eu preferia que ela tivesse me dado uma bofetada. Se é o olhar do outro que faz a gente existir, o olhar de centenas de outros faz com que tenhamos a ilusão de que existimos à milionésima potência.
Se a pessoa não está preparada – e eu claramente não estava – isso pode elevá-la a um lugar perigoso, ególatra e arrogante. Foi o que aconteceu comigo. Nos corredores me chamavam de lado para dizer: “você vai para o Esporte Espetacular''. “Você vai para o Jornal de tal hora com certeza''. “Você é muito boa!'' Você vai se dar muito bem!” E isso foi me deixando segura e, como era imatura, essa segurança se transformou em arrogância. E a arrogância faz você achar que jamais errará.

2 comentários:

Anônimo disse...

Reflexão, não apenas para os jornalistas...

Anônimo disse...

O juízo de valor.