Falemos claro, claríssimo, como de outras vezes.
Nós, jornalistas, nos
achamos os donos da última palavra.
Nós,
jornalistas, não raro queremos ser heróis, celebridades.
Nem que seja por 15 minutos.
Nós, jornalistas, ficamos fulos - fulíssimos - da vida quando alguém diz
que nossos pitacos e nada são a mesmíssima coisa.
Nós somo uns poços – sem fundo – de arrogância,
achamos isso uma banalidade e nem nos damos conta quando, por conta de nossas
arrogâncias, acabamos fazendo o que não deveríamos fazer.
Quem aí não se lembra do episódio – ao vivo e em
cores – envolvendo a jornalista Milly Lacombe e o goleiro Rogério Ceni, do São
Paulo?
Relembre assistindo ao vídeo aí em cima.
Esse foi um daqueles momentos imperdíveis, em
que prevaleceu o jornalismo arrogante - aquele de cartilha, de almanaque.
O confronto ocorreu há quase nove anos, mas
nunca é tarde para revivê-lo à luz de arrogâncias renovadas, como as que
inundam coleguinhas que se julgam donos do mundo quando estão, sobretudo, com
microfone nas mãos.
Eis que agora Milly Lacombe está de volta.
Em entrevista
disponível no UOL, ela admite claramente que se deixou trair pela
arrogância. E dá uma resposta honesta, sincera e até certo ponto comovente, que
precisa ser compartilhada sobretudo conosco, jornalistas, que não sabemos o que
fazer com nossas arrogâncias, tantas e tamanhas elas são.
Confiram a pergunta feita a Milly Lacombe e a
sua resposta:
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Você era um dos principais comentaristas do
Sportv. Estar assim no auge fez com que você se descuidasse e falasse que o
Rogério falsificou a assinatura na proposta do Arsenal que apresentou ao São
Paulo. Como um goleiro que pensa já ter a bola dominada, imagina o que vai
fazer com ela e acaba levando um gol?
Acho que teve um pouco disso sim, mas se fosse
apenas como o goleiro que tem a bola dominada e perde teria sido um erro
cometido por displicência, e no meu caso acho que arrogância foi um componente
forte.
Televisão é um meio traiçoeiro, porque mexe com
a vaidade como nenhum outro. Que emprego tem como punição mandar o cara para
casa com salário pago? Na TV a punição por um deslize é tirar a pessoa do ar
por um tempo, a famosa geladeira. Ou seja, você fica em casa, recebendo salário
e sem ter que trabalhar. Quase um prêmio em outras profissões, mas para quem
trabalha em TV a geladeira é a antessala da morte.
Lembro da sensação de quando comecei a ser
reconhecida na rua. É uma injeção de adrenalina, uma massagem no ego. Uma vez
estava num restaurante e uma menina se aproximou e disse: “posso te fazer uma
pergunta?”. Na mesma hora eu já cresci e fiquei muito orgulhosa de mim mesma.
Eu sabia que ela queria um autógrafo, ou uma foto. E ela disse: “Onde você
comprou essa bolsa?”. Eu preferia que ela tivesse me dado uma bofetada. Se é o
olhar do outro que faz a gente existir, o olhar de centenas de outros faz com
que tenhamos a ilusão de que existimos à milionésima potência.
Se
a pessoa não está preparada – e eu claramente não estava – isso pode elevá-la a
um lugar perigoso, ególatra e arrogante. Foi o que aconteceu comigo. Nos
corredores me chamavam de lado para dizer: “você vai para o Esporte
Espetacular''. “Você vai para
2 comentários:
Reflexão, não apenas para os jornalistas...
O juízo de valor.
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