Os deslizes cometidos pelos envolvidos no escândalo da
Petrobras preocupam os brasileiros, principalmente, o conflito entre o Palácio
do Planalto e o Congresso Nacional que se intensificou após a acusação de
políticos na operação Lava Jato. O País necessita de governabilidade agora que
enfrenta uma crise econômica e social sem precedentes. Quando cometemos
infrações em nosso trabalho, somos punidos e normalmente demitidos. Por que o
mesmo não acontece com deputados e senadores – pelo menos até serem inocentados
pelas investigações no Petrolão? Mais de 40 políticos que sangraram nossa maior
estatal ainda estão em seus cargos. Portanto, deveriam ser afastados por ter
deixado essa herança maldita, como nunca antes se viu na história deste País.
O governo está confuso. A presidente
está refém do próprio cargo por conta de erros e equívocos que comete a toda
hora, sem trégua. A mobilização contra ela – para além dos escândalos, um
desempenho impermeável, sem a menor capilaridade tanto na economia quanto na
política – encontra motivos claros na própria personalidade de Dilma. É
gritante sua inabilidade gerencial, soberba e falta de sensibilidade para o
diálogo com os vários segmentos da sociedade vêm minando todo e qualquer
capital de apoio que ainda lhe resta para continuar governando.
Os rugidos, panelaços e insatisfações das ruas, são opiniões assertivas e
logicamente impecáveis do povo, incomodam o governo e alguns de seus segmentos
e suas notáveis vaidades.
Não há quem duvide, os Poderes da
República vivem um momento delicado e especial de equilíbrio. A opinião pública
ganha força e se organiza para protestar contra a presidente e o PT. Os casos
de corrupção, como o desvendado pela operação Lava Jato passam a sensação de
que prevalece uma degradação institucional no Brasil. O País quer se livrar
desse mar de lama. É preciso chamar a atenção para a existência de uma certa
moral dupla. Refiro-me tanto à ética pública quanto à privada. A mudança ética
no Brasil tem de ser pública e privada. Nossa Terra Brasilis está por demais fragilizada, a expressão “passar a
limpo” já foi muito usada e nosso País continua, aparentemente, sujo.
O Brasil amarga a estagnação que o coloca nas últimas
posições do crescimento global. Só não vê quem não quer. Estamos à mercê de um
exército de malandros de gravatas que,por tamanha esperteza, tomou conta de
tudo. A coleção de evidências no governo e sua insuperável inabilidade política
em todos os campos e com inúmeros interlocutores alimentou a descrença geral em
sua mandatária e colocou um grande ponto de interrogação sobre como conduzirá o
País daqui para frente. O Brasil amadureceu e já não era sem tempo. Decorre de
uma cidadania que se tornou mais consciente, mais exigente e, de certa forma,
mais participativa. O problema é que as instituições ainda não conseguiram se
ajustar a demanda.
Na verdade, na versão dos fatos, o descontrole dos
gastos públicos, a disparada da espiral inflacionária, o tarifaço de energia e
combustíveis que nos impuseram goela abaixo foram calculadamente omitidos
pintados na cor pastel, a “inocência”, nas palavras do governo. Seu batalhão de
assessores próximos não cansa de interpretar que se trata de manobra “das
elites”. A retórica petista de um “movimento restrito” e “orquestrado” pela
oposição está completamente fora de contexto. Claro, eles não sabem sair em desvantagem.
O governo está perdido, a presidente não consegue sair
do Planalto ou simplesmente discursar em cadeia nacional sem riscos de ser
fustigada. Falta-lhe tato, fala uma coisa e em seguida esquece. “Para sempre
Alice” foi um dos poucos consensos do último Oscar – o de Melhor Atriz para
Julianne Moore. Mostra a lida de uma professora de linguística com o
diagnóstico de Mal de Alzheimer. Ela convence e comove no papel de Alice
Howard, que lentamente começa esquecer as palavras e compromissos e se perde
pelas ruas da Corte.
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SERGIO BARRA é
médico e professor
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