terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O presente que Belém merece

Perspectiva da nova avenida Almirante Barroso, no Projeto Ação Metrópole, do governo do Estado
FRANCISCO SIDOU

Ao completar 396 anos, Belém assiste à reprise de um velho filme, cujo roteiro nada edificante tem como tema as disputas políticas provincianas e resultam no atraso abissal de nossa capital em relação a outras metrópoles que continuam crescendo e se modernizando, apesar de seus políticos, com o é o caso de Manaus, Fortaleza, São Luís e Goiânia entre outras.
Os historiadores costumam dizer que a "história só se reperte como farsa". Desgraçadamente, em Belém , ela também se repete como sina. As quizílias políticas paroquiais continuam gerando efeitos danosos que impedem o crescimento e expansão da cidade como metrópole moderna. Nos últimos 30 anos, foram muitos os estudos e projetos visando soluções para o arcaico e congestionado sistema viário urban o de Belém, defasad o em relação a demandas surgidas com o crescimento da cidade e o aumento colossal de sua frota de veículos, sem qualquer acompanhamento em termos de planejamento do tráfego pelos órgãos públicos ditos competentes.
As artérias de uma cidade são como as veias do corpo humano: quando entopem provocam a morte do organismo. É o caso do sistema viário urbano de Belém, à beira do colapso, com sua população à beira de um ataque de nervos. Com o ingresso diário, em média, de 60 novos veículos, circulando pelas mesmas obstruídas vias, a cidade está parando, confirmando, aliás, a previsão dos técnicos da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) , que , na decada de 80, elaboraram meticuloso projeto sobre o sistema viário urbano de Belém, cujas propostas de ações e obras viárias então consideradas inadiáveis foram sendo adiadas por sucessivas gestões municipais e estaduais.
O projeto do PDTU dos japoneses foi rebatizado de Via Metrópole e agora atende pelo nome de Ação Metrópole. No governo passado, chegou a ter 10% de suas obras realizadas, com a construção de dois viadutos. Assim tem caminhado o processo de modernização do sistema viário urbano de Belém, bem devagar, devagarinho, na base da gestão por soluços ou por impulsos, de que são exemplos algumas obras isoladas como o viaduto meia-sola da Bandeira Branca, os túneis que alagam no Entroncamento e outras intermináveis como o prolongamento da antiga Primeiro de Dezembro, que parou onde não devia , logo no entorno da rotatória do complexo do caos. A par disso, são recorrentes as medidas cosméticas como sinais de três tempos, tartarugas do asfalto e faixa azul , que nada resolvem, além das multas em série e dos alternativos sem lei que apenas engrossam o caldo de cult ura neurótica de um trânsito cada vez mais caótico.
Na década de 90, obras importantes como o anel viário do Entroncamento deixaram de ser realizadas por causa de quizílias paroquiais entre o governador e prefeito de então. Sofremos até hoje os efeitos danosos dessa perlenga. Como se não bastasse, agora quando o governo do Estado consegue recursos do governo federal e da Jica para implementar as novas etapas do Projeto Ação Metrópole e assim redefinir a estrutura do tráfego na Região Metropolitana de Belém - abrangendo, além da capital, os municípios de Ananindeua., Marituba, Benevides, Santa Bárbara do Pará e distrito de Icoaraci -, o prefeito de Belém, por mero capricho político, resolve bancar, com recursos em forma de empréstimos sacados para a futura gestão pagar, um outro Projeto, o do BRT (sistema de ônibus rápido), que praticamente inviabiliza a continuidade do Ação Metrópole por interferir diretamente no seu traçado e na sua concepção, bem mais abran gente e tecnicamente mais adequada.
Do projeto integrado do governo do Estado, consta também a obra da Avenida Independência, que será tocada pela Secretaria de Integração Regional, Desenvoolvimento Urbano e Metropolitano (Seidurb) , com recursos já aprovados no orçamento da União, via emenda do deputado federal José Priante. Essa nova via, além de representar de fato a solução para o sufoco dos congestionamentos infernais no entorno do Entroncamento, será um estratégico corredor de tráfego para quem entra e sai da capital, sem demandar a Almirante Barroso, já saturada. Portanto, a integração do sistema viário urbano de Belém com os municípios da RMB é principal meta do Projeto Ação Metrópole, incluindo a duplicação da Perimetral, além da construção de um túnel na Doutor Freitas com Almirante Barroso (por baixo do viaduto meia-sola) e a duplicação da Avenida João Paulo II, pelo menos até o viaduto do Coqueiro, com acesso à Rodovia Mário Covas.
Outras obras viárias importantes constam dessa nova fase do Ação Metrópole, como a abertura de novos corredores de tráfego, além da implantação de oito terminais de integração em pontos estratégicos da cidade. Com prioridade para o transporte coletivo, o projeto também prevê a construção de vias expressas, exclusivas para ônibus, em toda a extensão da Avenida Almirante Barroso e nas rodovias Augusto Montenegro e BR-316. Os terminais de integração irão possibilitar aos usuários de ônibus o deslocamento para qualquer bairro da Região Metropolitana de Belém pagando apenas uma passagem.
Além do assessoramento técnico, a Jica também entra como parceira no financiamento do projeto com recursos da ordem de US$ 240 milhões, isso se os japoneses, apesar de ter na disciplina e na perseverança traços importantes de sua cultura milenar, não acabarem perdendo outro traço importante de sua formação, a paciência, após quase 30 anos de estudos e projetos em muitas idas e vindas entre Tóquio e Belém.
Com a "repaginação" de seu sistema viário e eliminação dos "gargalos" que provocam os estressantes congestionamentos, atacando as causas e não só os efeitos, como no caso do Projeto Integrado do Ação Metrópole, Belém se tornará uma cidade moderna e de qualidade de vida bem melhor para seu povo. O grande pensador francês Clemenceau dizia que a diferença entre um estadista e um político comum é que o estadista realiza obras e ações pensando nas futuras gerações enquanto o político comum só consegue realizar coisas com vistas às próximas eleições...
O povo paraense, em recente plebiscito, optou pela união rechaçando a divisão.
Por que, então, não somar os recursos obtidos pelo governo do Estado e pela Prefeitura de Belém em torno de um projeto comum que atenda a toda a Região Metropolitana de Belém priorizando o interesse maior de uma população de cerca de três milhões de habitantes?
O espírito público requer de gestores públicos a renúncia a projetos e vaidades pessoais em nome de um valor mais alto que "se alevanta" - o interesse da população, do cidadão-eleitor-contribuinte que, afinal, é quem paga toda a conta, vota ou "desvota" e merece um pouco mais de respeito.
Belém merece como presente de aniversário mais que apenas um show de Ivete Sangalo, "bancado" por empresas interessadas em obras milionárias de licitações nebulosas.
Nada contra a Ivete Sangalo, de quem todo mundo gosta. Mas por que também não convidar para a festa de aniversário de Belém os talentosos artistas paraenses do show musical "Terruá-Pará" , uma feliz iniciativa do governo Jatene em divulgar os valores da cultura paraense para todo o Brasil?
Certamente, se perguntado em plebiscito qual o presente que a cidade merece receber, o belenense diria preferir o entendimento e a união dos gestores públicos em torno de um projeto comum que possa resgatar não só a mobilidade urbana ameaçada, mas, também, a dignidade e a melhor qualidade de vida de sua gente. Na vida pública, como no futebol, ninguém ganha mais jogo ou eleição jogando sozinho. A Academia Barcelona de futebol & arte deu recente aula magna sobre essa disciplina. Pensem nisso, senhores do destino de nossa querida Belém. Pensar não dói e ainda não paga imposto.

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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br

2 comentários:

Wilson - Tucuruí disse...

Infelizmente, na perspectiva da nova avenida Almirante Barroso, do Projeto Ação Metrópole, continuam garantidos os espaços para os malditos outdoors que agridem a todos com sua poluição visual e emporcalham ainda mais minha amada Belém!

Anônimo disse...

Quero saber se eles não pensaram as ciclovias ??? Pobre de nós que temos uma magrela.